Independentemente deste aspecto, Lá uma nota que também se me afigura de realçar As nossas estatísticas revelam sectores pletóricos de profissionais, enquanto noutros são patentes as carências Isto, - num grau relativo. Ora, o desenvolvimento económico poderá ressentir-se destes desequilíbrios O Estado, mesmo sem assumir posições menos simpáticas de um dirigismo total, poderia influir numa conveniente orientação dos escolares, de molde a obter-se um desejável equilíbrio no número dos profissionais Esta necessidade avulta se tivermos em conta as exigências do ultramar

Tal problema está, aliás, relacionado com o do empreso A complexidade da questão obriga-me a salientar aqui apenas dois ou três aspectos, aliás exteriores u matéria de fundo

O primeiro é o do lugar aos novos Perdoai ao a um novo esta referência Mas já no parecer citado da Câmara Corporativa o Prof Braga da Cruz escreveu. «Há lugares que deviam pertencer aos novos e que estuo ocupados, em regime de acumulação, por outros diplomados, que dificilmente se disporão a largar mão deles; e há cargos que precisariam de ser desdobrados, mas a que a necessidade de comprimir despesas obriga a manter unificados, exigindo-se dos respectivos serventuários mais do que as suas forças lhes permitem e do que os seus minguados vencimentos justificam.

Já referi nesta Assembleia a prática, a meu ver menos defensável, de anexar serviços públicos nas zonas rurais Tal critério de economia, que bem melhor fora realizar nesta cidade de Lisboa, está roubando ao rural uma possibilidade de alargamento das suas débeis elites, ao mesmo tempo que se traduz em incómodos para as populações que utilizam os serviços públicos.

Farei ainda uma ligeira anotação ao problema dos médicos O assunto tem sido tão debatido ultimamente que restrinjo o a minha observação ao rural

O mapa que se segue indica, por distritos, o número de médicos existentes em 1957, a taxa de mortalidade global nesse ano e o número de habitantes por médico, em 1950, no continente-

Tal concentração verifica-se fundamentalmente nas três cidades O concelho de Pampilhosa da Serra, por exemplo, do distrito de Coimbra, tem apenas dois partidos médicos Acresce, porém, que um está habitualmente vago. Resta assim ah um médico para 16 000 habitantes.

Tudo isto significa impor-se a revisão do sistema de assistência médica rui ai Os vencimentos dos médicos municipais são hoje de 1.500$ e l 850$ Em muitas regiões atrasadas sei á optimismo excessivo contar com proventos resultantes de pulso livre Daqui resulta que os partidos dessas regiões estão a vagar constantemente Se o Governo chamasse a si a assistência médica rural [...] os municípios e dar-lhes-ia um cunho de eficácia que hoje não pode ter

Na oração de sapiência pronunciada quando da abertura no ano lectivo de 1952-1953 da Universidade Técnica, o Prof. Pires Cardoso, ao referir-se à circunstância de o espírito corporativo não irromper nem se expandir entre o corpo de professores com a pujança que seria legítimo esperar, salientou o contributo que para tal dá o facto da escassa permanência dos mestres nas instituições onde ensinam O professor, em regra, entra na escola à hora da aula e sai quando ela termina. Exercem pontualmente uma função burocrática.

Esta atitude contraria dois aspectos fundamentais paia a vida da escola: a convivência com o aluno e a investigação científica

Guardo dos meus tempos de rapaz a lembrança de uma notável conferencia -«Universidade Nova» - que o Prof. Marcelo Caetano proferiu, em 1942, no Centro Académico de Democracia Cristã, de Coimbra Recordo-me de que o êxito da mesma residiu, além do mais, na resposta que trazia a legítimos anseios da população académica Qual o aluno que não desejaria encontrar no mestre uma assistência pessoal que o orientasse, esclarecesse e aconselhasse?

Reportando-se aos professores que não convivem com os discípulos por lhes faltai tempo para se dedicarem às coisas universitárias, afirmou um antigo membro desta Assembleia, Prof Sousa Câmara, que em tal realidade se encontra fácil justificação não só para o nível reconhecidamente baixo da nossa Universidade, paia o seu atraso manifesto, mas também para a pobreza do País em élites.

E acrescentava

Como há-de ser alto em nível se os professores, na sua maioria, não se dedicam aos trabalhos universitários? Naturalmente, as élites, se se geram nas Universidades, carecem de exemplos, se estes não existem na quantidade precisa, se os valores intelectuais, morais P profissionais, que receberam a honrosa missão de ensinar, desertam dos seus postos, como se há-de gerar o escol? Se os professoras se limitam a preleccionar na Universidade, já não dispondo de tempo para atender às coisas universitárias, procurando apressadamente outros rumos que sejam mais lucrativos, como podei ao exercer a sua alta função educativa?

A investigação científica, forçoso é confessá-lo, não tem largas tradições em Portugal Outros países latinos, como, por exemplo, a Itália, ou outros países pequenos, como a Dinamarca, têm dado h ciência moderna um contributo de que nós, sem falso patriotismo, não nos podemos orgulhai Esta carência tem sido assinalada igualmente pelos Espanhóis, a propósito do seu país (cf , por exemplo, Lopez Ibor, El Espanol y su Complexo de Infenondad e Discurso a tos Universitários Espanoles). Merendeis y Pelayo (cf. Historia de loa Heterodoxos Espanoles), Ramon. y Cajal (cf. Los Tónicos de Ia Voluntad) e Ortega (cf La [...] de Ias Massas e Espana Invertebrada), por exemplo, trouxeam à discussão do assunto curiosas observações