Carácter impoluto, alma grande, lúcida inteligência, reforçada por vasta cultura e apurado equilíbrio mental, selado por inexcedido bom senso, e a tal ponto escrupuloso que duvidava da própria certeza, por temor ao erro e à injustiça.

Modesto, generoso e tolerante, espírito gentilíssimo, impecável nas maneiras, fidalgo no trato para com todos, de tal modo, em tal extremo, que chegava a revestir-se de humildade.

Para culminar, recebeu da Providência, em infinita escala, a maior graça que pode ser doada ao homem: a bondade.

Aqui, no Parlamento, revelou bem o que era e quanto valia, quando, durante quase um lustro, nos empenhámos numa enérgica e exaustiva campanha contra a demagogia dominante, ora isolados, ora secundados pelas minorias republicanas, ou secundando-as nós n elas, sem abdicarmos e actuando sempre sob os signos da Pátria e do nosso ideal.

O campo era de luta violenta, como o era o duelo entre direitas e esquerdas dos defensores do regime, fragmentados em facções; mas quando estavam em causa interesses vitais da Nação, que a tudo sobrepúnhamos, não negávamos tolerância ou mesmo o apoio necessário. Confronte-se ...

E Morais Carvalho, sempre igual a si mesmo, calmo, ponderado, leal e coerente, mas enérgico quando necessário, conquistou o respeito e a simpatia de toda a Câmara, de um ao outro extremos.

Como seu pai, o ilustre estadista conselheiro Alberto António de Morais Carvalho, que foi Ministro da Fazenda, dedicou-se de preferência a assuntos financeiros e jurídicos, mas todos os seus discursos se revelaram modelares na forma e no conceito.

Chamava-lhe eu o meu poder moderador. E, meus senhores, quando com ele me confronto e recordo a caminhada que em comum empreendemos, mais me certifico de que as índoles e os temperamentos diferentes ou mesmo opostos se conciliam, se congraçam e completam, estruturando um todo, um conjunto uniforme, que prevalece e domina todos os sentimentos díspares, permitindo assim seguir a par e sem escolhos o caminho da vida.

Depois de exercer aquele mandato, recolheu-se de novo na sua modéstia; mas nunca deixaram de interessá-lo os problemas da Nação e a política e obra de Salazar e do seu Governo.

Nos arquivos de El-Bei D. Manuel, que tanto o estimava, deviam existir, e existem nos de alguns distintos homens públicos, cartas suas, impecável e valioso documentário de aprumo, de equilíbrio mental, de bom senso e de interesse pela coisa pública.

Não me detenho no seu curriculum profissional. Não é este o lugar mais apropriado, e, além disto, a imprensa já se lhe referiu, embora em breves traços.

Confirmo apenas, numa síntese, que os seus tratados sobre Companhias de Colonização e Trusts e Cartéis, os seus artigos dispersos, especialmente na revista de jurisprudência O Direito, de que era colaborador, as minutas em processos judiciais importantes, os pareceres emitidos sobre consultas, etc., revelam, a toda a luz, saber e competência, que o colocaram ao nível das maiores figuras contemporâneas do foro português.

Sr. Presidente: dificilmente podia ser mais breve; e nào foi tempo perdido divulgar, para que se tomem como exemplo, os méritos de que foi paradigma este homem singular e português insigne que, na plenitude das suas faculdades, acaba de perder a vida.

Para lhes falar dele tive de falar de mim, porque só assim podia assegurar-vos a autoridade e a ciência certa- deste sucinto depoimento.

Morais Carvalho morreu, mas ressuscita agora para quem o ignorava, para quem o esquecera, para quem não media a envergadura dos seus dotes inigualáveis.

Meus senhores: relevai-me o que nas minhas palavras porventura se contenha de mais íntimo. E que elas foram expressão sentida do meu coração amargurado.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Rocha Lacerda: - Sr. Presidente: pedi a palavra para mandar para a Mesa o seguinte

Requerimento

Em Outubro de 1954, acedendo a várias solicitações de organismos corporativos da lavoura, nomeou o Governo uma comissão encarregada de estudar o sistema tributário dos organismos corporativos e de coordenação económica.

Ao abrigo do Regimento, requeira que, pelo Ministério competente, me sejam fornecidos os seguintes elementos: Relatórios e estudos que essa comissão tenha apresentado;

b) Informações, pareceres ou despachos que sobre o trabalho da comissão tenham recaído.»

O Sr. Melo e Castro: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: nesta primeira sessão após a visita a Goa do ilustre Ministro da Presidência, desejava, em singelas palavras, juntar uma voz da metrópole e do ilustre Deputado goês Sr. Cónego Castilho Noronha, que, já há dias, aqui manifestou os sentimentos de congratulação devidos pelo êxito dessa visita e pelo alto significado de que se revestiu.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Há pouco tempo ainda tive a dita de conhecer Goa; e depois de Goa, em brevíssimas mas inolvidáveis visitas, os distritos do norte de Damão e Diu -, distritos geogràficamente como que insulados, mas espiritualmente tão chegados a tudo quanto há de mais forte e genuinamente português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Goa, a índia Portuguesa, se é lícito dizê-lo em termos recolhidos da lírica de Camões, quando por ali se sublimava, Goa, Sr. Deputado Castilho Noronha, deixou-me verdadeiramente cativo. Cativo de espírito e sensibilidade, muito pelo prodígio da paisagem, das de mais peculiar beleza que tenho encontrado pelo Mundo fora, muito pela amabilidade das gentes; sobretudo cativo me confesso do extraordinário atractivo da experiência de contacto e abraço fraterno de raças que a cultura goesa representa. Cativo ainda da índia pela força e pelo prestígio que as monumentais memórias ali ainda erectas do esforço português de antanho acrescentam às motivações mais nobres do nosso patriotismo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!