O Orador: - Goa, Sr. Presidente, na sua autonomia cultural, bem destacada e cimentada pelo decurso dos séculos entre o imenso e heterogéneo subcontinente indostânico, na paz rácica e política de que tem desfrutado, Goa, compreende-o logo quem ali vai, é um bem inestimável para os Goeses. Um bem que cultivam e zelam ciosamente na intimidade dos seus costumes e tradições, na permanência das suas instituições, um bem que os emigrantes veneram, com unção saudosa, onde quer que labutem, na África, no Brasil, na vizinha União Indiana; um bem que os Goeses têm defendido contra todas as ameaças e cobiças; um bem que há pouco, sob os nossos olhos, mereceu o sangue generoso de Aniceto do Rosário.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se é um bem assim para os portugueses naturais de Goa, o que não hão-de representar para todos nós, portugueses nascidos em todos os lugares do Mundo cobertos pula bandeira que permitiu criar-se e fortalecer-se aquele bem?

Portugal entrou em Goa a defender liberdades indígenas; foi fugaz qualquer proveito de expressão económica que Portugal obteve de Goa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Deu Portugal a Goa luzes do Ocidente, deu-lhe crenças, leis, instituições suas, estilos, técnicas, mas nada impôs com exclusivismo de invasor; permitiu que vigorassem até hoje entrecruzadas com as do génio indígena e até com vestígios de outras civilizações que por ali migraram; acima de tudo, Portugal deixou, como cimento aglutinador, a memória imarcescível da justiça de grandes estadistas, do sacrifício dos heróis, da espiritualidade e da caridade dos santos. E são estes os verdadeiros pilares das culturas e das pátrias - obra sempre do espírito, jamais os simples dados da geografia, da economia, do idioma, da raça, conseguiram explicá-las! Certo isolamento que os Gates permitem não está mal que seja encarecido, mas nada teria significado se não fossem Xavier e Albuquerque.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se as grandes coisas da vida e da história coubessem em medidas de mera economia, como havia de explicar-se o afinco dos Goeses e o sentimento dos demais portugueses de todo o Mundo que o acompanhou em 1954 e tão alto exprimiram o sangue de Rosário e a firmeza de Salazar?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Goa, produto do espírito, da liberdade de consciência humana, do direito dos povos disporem de si próprios, Goa exibe, perante um mundo incerto, resultados exemplares de uma experiência de promoção humana, pelas vias da fraternidade, da compreensão mútua, da caridade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Poderão deixar de ser respeitadas até ao fim estas realidades, que, perante tantas razões de cepticismo, deixam ainda acreditar na viabilidade dos grandes ideais colectivos? Há-de a Providência permitir que o sejam.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A nobreza obriga. A nobreza obriga. Sem dúvida, as basílicas impressionantes de Velha Goa, n fábrica colossal da fortaleza de Diu, a uma de prata que guarda o corpo incorrupto do Santo Apóstolo, bem legitimam o nosso desvanecimento patriótico. Este sentimento, porém, bem pouco seria hoje para preencher as nossas obrigações. São os planos e os factos da restauração administrativa que em Goa está a processar-se, a que foi dar significativa autoridade a presença de tão proeminente membro do Governo, que mostram quererem o País e o Governo manter-se à altura de tamanhas responsabilidades.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Deus permita que a soma considerável de 209 000 contos reservada para a Índia Portuguesa no II Plano de Fomento, acrescida à de 172 000 contos despendida no abrigo do I Plano, acompanhadas pelas possibilidades que recentemente foram rasgadas à indústria mineira local, venham a traduzir-se, num ritmo de certo modo acelerado, como é preciso, em realizações de bem-estar e promoção cultural, social e económica, que bem as merecem os povos da Índia Portuguesa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Foram estes os votos com que o Sr. Deputado Castilho Noronha há dias nobremente celebrou a visita ministerial a Goa.

São os votos também com que endereço daqui uma saudação calorosa ao ilustre goveruador-geral, brigadeiro Vassalo e Silva.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tive a oportunidade de presenciar os primeiros passos da administração do novo governador-geral. Não me foi difícil prognosticá-la como muito digna e proficiente. Vejo que começa a traduzir-se em seguras realidades. Nem sequer aquele distinto militar, que é também um experimentado engenheiro, esqueceu que o indispensável e, de certo modo, urgente fomento económico-social tem de ser acompanhado com a valorização dos produtos do espírito. Já o plano de reintegração de Velha Goa, há um ano apenas perspectiva esfumada, começou a executar-se.

Que as bênçãos de Deus, à sombra augusta do túmulo de S. Francisco Xavier, cubram a sua acção. Que as bênçãos de Deus cubram a Índia Portuguesa, a que queremos como a qualquer outro torrão de Portugal !

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Caldeiros Lopes: - Sr. Presidente: com a mesma espontaneidade com que devemos tornar-nos eco dos reparos que nos suscitam, por vezes, determinados factos ou medidas oficiais, não devemos calar o aplauso e reconhecimento merecidos pelos actos administrativos dignos de gratidão dos povos e do estímulo que. como é natural, o nosso louvor representa para quem tem sobre os seus ombros o peso das responsabilidades da governação.

Dentro deste pensamento, pretendo apenas registar a satisfação com que há poucos dias vi que foi empossada