todavia, que ter em conta os efeitos profundos que daí podem resultar, a mediu e a longo prazo, no plano da individualidade, do carácter, do modo de ser de cada povo. Se a isto se juntar a observação do próprio processo de mobilidade humana, que decorre do movimento de integração económica europeia, já a abranger outros continentes, numa afirmação de solidariedade ocidental particularmente significativa, teremos do considerar que esto problema do turismo constitui simples manifestação, particular e concreta, do um gigantesco fenómeno com tendência, a situar-se no curso das grandes viragens da história.

Há povos que sabem resistir melhor do que outros à invasão do «estrangeirismo», essa espécie de doença endémica que ataca, sobretudo, os países de mais brandos costumes e que lhes vai roubar justamente as suas características peculiares, afinal o próprio fulcro impulsionador da atracção turística.

Por isso, e sem que isto possa ou deva interpretar-se como qualquer manifestação de xenofobia, imporia resguardar zelosamente os atributos que distinguem entre si as nações, como centros coesos de agregação humana, evitar que nelas se intrometam sub-repticiamente factores de dissolução e subversão da ordem de valores morais e sociais que as gerou, que lhes deu vida e imprimiu carácter.

Uma coisa é certa: o turismo é o grande factor de exportações invisíveis, em que a «mercadoria» não sai do seu lugar de origem, antes aí é procurada e utilizada. Por isso constitui hoje um sector de transcendente importância, que importa ser detidamente considerado à luz da política económica, como poderoso meio de ampliar os valores activos da nossa balança de pagamentos.

«A deslocação dos homens - como algures, um dia, escreveu André Siegfried - obtém aquilo que a deslocação dos produtos não consegue jamais realizar».

E nós devemos ter bem presente este conceito, na medida em que o restrito elenco dos nossos produtos de exportação e a sua frac essão actual de uma grande nação civilizadora, que sempre, quando unida e coesa, deu lições ao Mundo sobre o que representa a força de vontade colectiva dos povos no desenrolar dos acontecimentos históricos. Foi assim, apoiados nessa vontade, que levámos a cruz de Cristo onde a não havia; que, sem preconceitos de raça ou de credo, outorgámos, há séculos, direitos sociais a homens que os desconheciam; que trouxemos à vida de relação internacional povos que jamais a alcançariam por seu desejo, mérito e iniciativa próprios.

A quem vem visitar-nos na consciência do papel histórico que Portugal desempenhou e está a desempenhar no Mundo fica a certeza de que o nosso país só foi grande quando soube manter-se fiel às suas tradições e teve a personificá-lo e a representá-lo homens ou instituições que se devotaram à sua unidade moral e política.

Há, na verdade, muitos estrangeiros que acorrem a nós na pesquisa dos factores que servem de suporte àquilo a que muitos já chamam o caso português. E depara-se-lhes um povo acolhedor como nenhum outro, com um clima ameno, que amacia os nervos e retempera as forças. E sentem-se presos, enleados por tudo quanto os cerca, desde as belezas naturais com que Deus nos dotou até a afabilidade de um quadro social e humano sempre pronto a receber cordialmente quem vem de fora.

O comportamento colectivo do nosso povo a este respeito é, aliás, verdadeiramente notável. Raro é o estrangeiro que não leva da nossa gente as melhores e mais gratas recordações.

Só é certo que muitos factores e circunstâncias contribuíram paru que esse movimento turístico se estabelecesse, o facto é que a paz e a ordem que caracterizam o Portugal destes últimos 30 anos foram, por si sós. elementos de atracção para quem se sente cercado, enfadado e cansado do tumulto de paixões, da luta, tantas vezes estéril, da política pela política, perigoso germe de insegurança e de instabilidade social.

A serenidade que se respira no nosso país é, em si mesmo, um bem precioso, que urge defender, não só como património moral, mas até como valor económico.

Mas é certo que isso não chega para fixar as correntes turísticas. Não se vem a Portugal apenas porque se procura o bucolismo ou a quietude. O País tem de tomar a consciência de que poço assumir um alto papel no quadro do turismo internacional, que a fonte caudalosa de divisas e de irradiante reprodutividade social, quando se saiba aproveitá-lo em toda a extensão tios seus reflexos económicos.

Em todos os recantos do Mundo se procura inventariar os atractivos de que se dispõe.

Nós já conseguimos ultrapassar aquela fase em que contemplávamos, quase com surpresa, a curiosidade e o interesse com que os estrangeiros nos visitavam.

Pulo Secretariado Nacional da Informação foi feito um esforço notável de interpretação dos nossos problemas turísticos, que permitiu alinhar uma política cujos resultados estão hoje já à vista de todos.

Do período das pousadas, do reviver do nosso rito folclore, da estruturação dos itinerários turísticos de Portugal europeu para o que muito contribuiu o poder