Toda a obra do escritor é bem a de um, português da mais remota cepa lusitana. A sua figura avulta na nossa segurança como encarnação viva ria alma da Pátria desde tis suas origens.

Se, na verdade, como afirmou o Prof. Mendes Correia, o grande etnólogo ijue tanto lionruu esta Assembleia, nenhum outro povo da antiguidade merece mais do que o lusitano ser considerado o mais importante elemento etnogénico dos Portugueses, é certo que António Correio de Oliveira, ião enraizado na ferra e na ancestralidade da grei. surge entre nós como n representação do imperecível espírito lusíada.

Foi no dia 20 de Fevereiro, a primeira hora de matinas. Dia de luto e de glória! Eclipse de Sol ensombrando o firmamento. Mas noite de estrelas cadentes no Céu de Portugal, um astro novo desprendido da Terra, sulcando em sentido inverso o negrume do firmamento, atravessou o espaço, e, abrindo nos céus um sulco de luz, caiu no seio de Deus.

Sua alma desde que nascera, foi uma flor aberta para a eternidade! Deus a formara com a própria essência da poesia; e, desta maneira, a poesia era nele, não apenas um t si a do de alma, não apenas uma vivência lírica, mas também um estado de inteligência.

No seu espírito a intuição não era apenas um pressentimento mais ou menos divinatório e cintilante, mas antes um conhecimento exacto que se 11)e infundia na consciência como um raciocínio já concluído, mas cuja elaboração se -mantivesse lúcida e simultaneamente presente em Iodos os seus termos.

Pois bem. Todo o resto da sua inteligência e todo o resto da sua inspiração, toda a vivência e sublimidade do seu espírito, se desenvolveu e orientou durante uma vida de constante elaboração poética para estes centros de transcendêracia liumana: Deus, Criação Família ê Pátria.

Podemos dizer (pie o valor poético de uma obra é independente dos grandes ideais que a norteiam. Pelo menos, uma coisa e outra podem andar dissociadas, e por mal do espírito muitas são as vez es em que tal dissociação se manifesta. E certo, porém, que a essência desse valor não reside nas convicções políticas ou lia fornia das crenças religiosas do autor. E bem desejaríamos que todos assim o pensassem, para não submeterem o reconhecimento do valor de uma obra a um conceito preestabelecido pelas paixões ideológicas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Há almas pusilânimes a quem o susto pelas convicções políticas e religiosas do poeta desvia da leitura ou admiração dos seus poemas.

Em Correia de Oliveira é bem a essencialidade do seu génio poético, e não as convicções do autor, o que toca de grandeza a sua poesia. £ inegável, entretanto, que há temas que são mais do que outros susceptíveis de universalidade e que não há arte poética, por mais susceptibilidade que tenha para produzir um agrado comunicativo, fácil e imediato, que seja capaz de atingir a plenitude da poesia quando a alma lhe é pequena

É que essa universalidade, unida à emoção, sensibilidade e expressão poética, é já por si um elemento de grandeza. E perante as numerosas criações de Correia de Oliveira, bem poderemos dizer que é o esplendor ida sua poesia aliada à. grandeza dos seus temas o que produz a altitude singular de sua obra.

Com um tropismo ingénito e um ímpeto cósmico debordante e abissal penetraram as raízes do seu espírito nas profundidades mais misteriosas da Terra.

daí os seus livros medidíunicos de metafísica naturalista, e panteíista, e de comunicativa universalidade, quer .sob a forma exultante, de lírico júbilo na Am.º quer invadido, como em As Tentações de S. frei Gil, (laqueia mortal tristeza para que havia de tender a filosofia existencialista com o amargo desespero de Kiekergaard. Tendência de que o salvou a evolução do seu espírito ao encontrar a transcendência do Mundo em Deus.

Vozes: - Muito bem !

homens e o humaníssimo e idílico amor pela beleza e graça feminina até nos dar, com a pena molhada em sangue, em amor, e em amor, o Alivio de Tristes. Auto das Quatro Estações, Menino, Saudade nossa

E, erguendo mais alto os voos do espírito até alcançar os domínios mais transcendentes da alma e penetrar no seio de Deus, ascensionalmente erguido de poesia em poesia e de livro em livro, desde a Ara e das Tentações à Alma Religiosa e ao Elogio da Monarquia onde contemplando a Cidade Mística, estabelecida sobre a loucura revolta de Satã, só extasia perante a harmonia e a ordem da monarquia celeste , atinge por fim em Verbo Ser Verbo Anuir, um dos mais altos paramos a que ascendeu a poesia deísta universal em todos os tempos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: É deixando atrás de si este rasto do estrelas, que são os seus poemas, que transmigrou para os Céus, donde lhe viera a inspiração, a alma daquele poeta, que era, no dizer do professor de História, da Literatura e crítico brasileiro Doutor Tasso da Silveira, sou maior poeta vivo do Mundo.

A sua voz não se calou com a morte. Ela ficará a cantar para nós eternamente na música dos espaços e nas páginas dos seus livros.

Cumpre à Nação prestar o devido preito à sua memória de poeta e de mestre de lusitanidade, fazendo ingressar o seu corpo terreno no panteão das glórias, nos Jerónimos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: Recolhamo-nos nós outros em íntima meditação, gratos pela riqueza que u todos nos legou. E façamo-lo não num parado e estéril minuto de silêncio, pois que perante o espírito do autor de Alma Religiosa fraco significado poderá ter a suspensão simbólica do tempo perante um espaço vazio; mas pode