assuntos de tão magna importância, a que está ligado o futuro de uma classe tão laboriosa como esquecida, que à sociedade e à Nação vem prestando serviços jamais igualados em abnegação ou renúncia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Bem merece a classe médica ser ouvida atendida no pouco ou no muito que justificadamente pede, e maus dias lhe estarão reservados se assim não suceder.

Eu, Sr. Presidente, na firmeza do meu proceder e do meu sentir, continuo a depositar no Governo da Nação a confiança que nunca lhe regateei, e bem a merece pela obra plena de grandeza e de patriotísmo que vem realizando, nosso e seu orgulho, que bem pode e deve ser orgulho de todos os portugueses.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Simeão Pinto de Mesquita: - Sr. Presidente: dado o avultado número de inscrições ontem para antes da ordem do dia adiei para esta sessão as considerações que passo a fazer, sobretudo com explicação que entendo dever Câmara.

Iniciaram-se a 4 deste mês, dia seu natalício, as comemorações do centenário relativas à data da morte de D. Henrique - o Infante.

Vão elas desenrolar-se com a larga projecção universal que se planeou condigna do universalismo das Descobertas; à altura do Príncipe do Mar que, com rara felicidade Pessoa proclamou:

O único imperador que tem deveres.

O globo do Mundo em sua mão.

Nação, de aquém e de além. Seguiram-se-lhe, nesse mesmo dia, as mais alta homenagens civis iniciais.

Embora a lei cronológica deste centenário henriquino não seja a do nascimento - quando o foi em 1894, no Porto, berço do Infante, deu início às comemorações com Majestades e Governo - por feliz determinação da Comissão Nacional do Centenário estas se iniciaram também na data natalícia do herói. Não podia a iniciativa ser mais sensibilizante para o Porto, e isso lho agradecemos.

Ao Governo da Nação, que se fez representar pela pessoa prestigiosa do Sr. Ministro da Presidência nas cerimónias da Sé e na sessão solene da Câmara Municipal do Porto, e tanto a esta, nas pessoas dos seus ilustres presidentes e vereadores, como às autoridades eclesiásticas, aos oradores sagrados e profanos que ali versaram, para nossa lição e reconforto, aspectos várias do imenso tema henriquino, também a nossa gratidão do portuenses.

Isto se pasmou tudo em sincronismo com as comemorações que tiveram lugar na capital, nos Jerónimos e nesta Assembleia Nacional.

Compreensível a consequente espécie de colisão, de ordem prática que tal coincidência tinha de acarretar aos Deputados pelo circulo do Porto: ou não faltarem ao dever que lhes impunha o direito próprio que representam de assistirem no quadro desta Assembleia à consagração da maior figura portuguesa - não exclusivamente mística - com projecção universal, ou, segunda alternativa, infringindo embora aquele dever, prestar as suas homenagens de presença na terra que aqui representam, que é a do Infante.

O Sr. José Sarmento: - V. Exa. referiu-se a uma reunião realizada nesta Assembleia e na qual tive muita pena de não ter tomado parte. O certo é que apesar de ter residência fixada em Lisboa, não tive conhecimento dessa reunião.

O Orador: - Talvez tivesse havido uma falta de comunicação e, por isso, falei no direito próprio. V. Exa. não teve conhecimento dessa reunião, e suponho que, se o tivesse e aqui viesse, a ela assistiria muito bem por direito próprio.

Isto é significação daquilo que eu disse.

O Sr. Homem de Melo: - Assim seria, efectivamente, se, todos os Deputados não tivessem recebido convite; ora a verdade é que alguns receberam (eu, por exemplo) e por sinal para a galeria, lapso, aliás, eliminado na véspera da sessão solene.

O Orador:- O direito próprio é o direito próprio, como V. Exa. como jurista, muito bem sabe. De resto, eu estava ausente e nada tenho com essas particularidades. Mas, continuando:

Nascido no Porto, optei, como a maior parte dos Srs. Deputados, pela segunda alternativa. Ali estávamos, ali tirámos; naquela cidade, onde o Infante tem particularíssimo jus a ser festejado como que em família, embora com o embevecido ... e respeitoso pudor que a distância da sua grandeza da altura das nuvens nos impõe..

As ligações entre o Infante e a cidade do Porto, sabido é, não foram apenas as de um fortuito nascimento. Particularmente a preparação da frota de Ceuta fez-se e na sua mais larga parte na Ribeira do Porto, sol a chefia do Infante, no fervet opus de meses. Os vínculos entre ele e a cidade seu berço tornaram-se perpétuos e, para além da vida, até hoje. O nome de tripeiros que nos honra, foi consagração dos sacrifício; tão gostosamente consentidos nessa hora alta que precedeu Ceuta.

Para reconduzir-nos ao ambiente do tempo não resisto a recordar curto trecho de Zurara:

O Infante teve tal modo em meus feitos que naqueles três meses seguintes aviou todas suas gentes e armas do mês de Maio, foi dentro na cidade do Porto, onde logo começou dar trigoso aviamento à sua frota, e fazendo encaminhar todas as causas que por ela pertenciam, e tão ordenadamente que nem a sua nova idade, nem falecimento de práticas de tais feitos não o puderam empachar que não recebesse mui grande louvor de seu maravilhoso trabalho, cá diziam aqueles velhos, que era muito