tar muna conclusão o formar um juízo pelo menos claro e seguro.

Eis, Sr. Presidente e Srs. Deputados, as condições justificativas que só me impunha fazer para elucidação da minha a atitude perante a Câmara e perante o País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na general idade a proposta de lei sobre n reorganização dos desportos.

Tem a palavra o Sr. Deputado Mário de Oliveira.

O Sr. Mário de Oliveira: - Sr. Presidente: o desporto assume em nossos dias transcendente importância social.

Como lazer, exerce sobre a juventude singular poder de atracção, na medida em que lhe proporciona a expansão ordenada das suas energias em plena floração e crescimento, enquanto a vida profissional ou estudantil lhe impõe monótona rotina ou forcado sedentarismo.

O sentido de competição que o desporto envolve, num apelo à força muscular, à destreza, ao espírito de luta, constitui, quando bem orientado, factor de especial relevo na preparação da juventude para o embate da vida.

Raro o desportista, que o é ou que o foi, onde se não reconhece indelevelmente o sinal desse preparo.

O desporto, de um modo geral, representa, efectivamente, precioso instrumento de educação do homem, quer pelo mentido de íntimo contacto que estabelece, entre as classes sociais, na vivência de um interesse comum, quer pela acção da vontade, que exercita e apura perante o cívico.

A modalidade do futebol, sobretudo, transformou-se no nosso país, como, aliás, em quase todo o Mundo, num espectáculo arrebatador, que atrai multidões heterogéneas, enchendo estádios, movimentando regiões sem tradição turística, polarizando interesses de toda a ordem, com profundos reflexos na vida económica e social.

Aquela modalidade dou mesmo origem ao aparecimento de certa classe de pseudodesportistas, que de futebol só conhecem o espectáculo, por nunca o terem

praticado nem vivido. E são quase sempre esses os mais apaixonados e exigentes...

O grande perigo que o desporto pode suscitar no plano político, como poderosa força imanente que é, consiste, a meu ver, na circunstância de ser um instrumento cultural polivalente. De facto, tanto pode servir para exaltar a concepção materialista, numa espécie de glorificação nietzchiana, como a cristã, pela promoção do desenvolvimento harmonioso do complexo humano em que o espírito floresce e se superioriza na morada de um corpo forte e sadio.

O grande papa que foi Pio XII, e que em seu tempo do juventude, praticara activamente o hipismo e a natação, manifestou o seu paternal desvelo pelos temas do desporto e pela formação dos desportistas.

E tem a respeito destes temas lições magníficas, a que o seu extraordinário talento emprestou preciosos conceitos.

O desporto e a ginástica têm como fim próximo educar, desenvolver e fortificar o corpo, sob o ponto de vista estético e dinâmico; como fim mais remoto a utilização, por parte da alma, do corpo assim preparado para o desenvolvimento da vida interior e exterior da pessoa; como fim ainda mais profundo, contribuir para a sua perfeição; por último, como fim supremo do homem em geral, e comum a todas as formas de actividade humana, aproximar o homem de Deus.

De tudo se pode inferir que, em função da larga projecção social e humana do desporto em nosso tempo, a própria Igreja, pela boca do seu mais alto expoente, tomou activa posição no problema.

Diz o relatório preambular do projecto de proposta de lei em apreciação que as actividades desportivas se integraram inegavelmente nas culturas ocidentais, invadindo todos os meios sociais.

De facto, prossegue o mesmo relatório - no sentido de justificar o enquadramento do desporto no âmbito das preocupações do Ministério da Educação Nacional - «como elementos de uma cultura necessitam elas (as actividades desportivas) de ser cuidadosamente seleccionadas e depuradas, por forma a delas destacar, para a transmissão aos jovens, os possíveis valores que encerram».

A reatar uma observação que atras deixei assinalada, permito-me acrescentar que na verdade esses valores se situam dentro do desporto.

Para, além da representação dos valores estéticos que a própria visão do espectáculo proporciona, estão ainda ali presentes outros, que merecem ser evidenciados para não deixar o desporto extrapolar-se dos princípios que inspiram a nossa concepção da vida.

Destacá-los e aferi-los pela escala dos valores morais que nos guiam é nobre missão dos educadores, que no desporto poderão identificá-los e revelá-los, nas múltiplas manifestações que suscita, de sentimentos do lealdade, de persistência, de interajuda, de sacrifício, de renúncia, de respeito para com o adversário.

Neste campo de observação é de justiça dirigir uma palavra à imprensa desportiva portuguesa, que, entre algumas manifestações de sensacionalismo de discutível interesse e controversa vantagem, tem também subido assinalar e exaltar a ética do desporto, mesmo quando este reveste a natureza de espectáculo.

Ora, é na própria projecção social, económica e cultural do desporto, na sua presença e vitalidade, que o