argumento para a urgência de agir pronta e decididamente neste campo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: não obstante a linha doutrinária do Regime ser definida, a consciência nacional ser clara, a posição de vários Deputados ser persistente, firme, e a nossa consciência política ser nítida a este respeito, dizem-me ter a apresentação do projecto de lei suscitado certas interpretações e, também, ter-se prestado a consequentes especulações.

Não fugirei a umas nem a outras.

As interpretações, que certamente não provieram de alguns bem instalados, perdão, bem intencionados, foram especialmente as de que o projecto de lei aparentava ou teria mesmo intenções reservadas, se inspirava em sentimentos mesquinhos de inveja, tinha a marca de socialismo, era inoportuno, estava ferido de propósitos demagógicos e, também, ou até, exprimia um idealismo fora de tempo.

Como quem mal não usa mal não cuida, quase me ia surpreendendo, apesar dos cabelos brancos e da forte vivência de já perto de duas décadas. Depressa reflecti. Como poderia uma medida que tão clara se mostrava e em tudo deveria aparecer como concreta, precisa e objectiva esconder fosse o que fosse? Mistério indecifrável. Como seria possível deixar de entender, sem sombra de dúvida, aquilo que directamente se visava? Não atinjo.

Ter-se-á pensado que poderia servir de pretexto para referir situações, casos, pessoas? E porquê e para quê se havia de descer a essa inferioridade de processos?

Aqui interessam tanto os objectivos como desinteressam os casos e, ainda mais, as pessoas.

Julgava eu que o País havia de entender claramente do que se tratava e que fins se visavam.

Ter-me-ei enganado? Pelo que diz respeito ao País, cuido que não.

Ensinam os estudos sobre os grupos de pressão - ou sindicatos de interesses, como talvez devesse dizer-se à portuguesa -, que hoje constituem abundante e elucidativa literatura, revestirem-se as manobras que estes grupos executam um defesa das suas conveniências dos mais esquisitos e polifórmicos processos. Será este um deles?

Bem vistas as coisas, talvez se trate, mais simplesmente, da expressão de uma mentalidade sectária que para aí vagueia e sempre se caracterizou por atribuir invariavelmente às atitudes, por mais claras que sejam, segundas intenções.

Esse procedimento é, afinal, consequência lógica de tais mentalidades, que, com serem incapazes de proceder de outro modo, também não podem deixar de julgar por si próprios os outros ...

Teriam as medidas sido ditadas por um sentimento de inveja?

Admito que haja no conjunto de sentimentos de revolta contra certas situações inveja à mistura com as mais diversas expressões de reacção.

Por mim, apercebendo-me, embora, de graves defeitos pessoais que não tenho podido ou sabido vencer, nunca a minha consciência me acusou do feio pecado da inveja.

Se devo a Deus o dom de não ter nascido rico, não lhe devo a graça de ter nascido pobre. Estou colocado, assim, numa situação média, que devo ao esforço e temperança de sucessivas gerações que amaram a terra e da terra e com a terra viveram, situação que sempre me permitiu apreciar os ricos sem inveja nem rancor e os pobres sem desdém nem soberba.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

quem defenda o capitalismo em toda a sua grandeza económica e miséria social e nunca se tenha apercebido de quanto se tem passado pelo Mundo nos últimos 00 anos, nem do facto de havermos entrado numa segunda revolução industrial - da automatização e da energia nuclear -, pode ter razão, alguma razão, pois para os saudosos liberais a intervenção do Estado constituía um verdadeiro sacrilégio.

Quem, precipitadamente, tomar as medidas de liberalização adoptadas dentro de alguns países e entre os diferentes países como regresso a uma concepção liberal pode julgar-se com razão, embora não tenha nenhuma.

O liberalismo económico morreu - proclamava o Sr. Presidente do Conselho há menos de dois anos. Afirmações idênticas podem ser encontradas nas diferentes Semanas Sociais católicas, na generalidade dos sociólogos e dos economistas. Morreu porque se destruiu, morreu porque a complexidade dos problemas impôs o recurso a soluções intervencionistas, morreu porque as exigências sociais obrigaram a intervenções sucessivas, etc. O capitalismo liberal não é de hoje, pertence ao passado.

E, num país em vias de desenvolvimento, aquilo que cada dia mais evidente se há-de tornar é a constante necessidade de intervenções do Estado para regular a vida económica em ordem ao bem comum, em vez de a deixar correr ao sabor de alguns bens particulares ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Também certas medidas liberalizadoras recentemente tomadas, em certos países, não podem deixar de ser vistas à luz das realidades desses mesmos países - economias industriais maduras, com rendimentos elevados dos operários, que, social e culturalmente, venceram o complexo de inferioridade que durante dezenas de anos lhes foi peculiar, para o que muito deve ter contribuído a prática da co-gestão.

Que nesses países já seja possível abrandar a intensidade de intervenção é atitude que se vê com satisfação, mas que nenhuma conclusão consente extrair para aqueles em que a industrialização está longe de se ter completado. Em qualquer caso, carece de ser referida ao