No último número de Economia e Humanismo, referente a Janeiro-Fevereiro deste ano, inserem-se dois trabalhos sobre estas questões da, ordem do dia em todo o Mundo. Um, do Prof. Ebrmann, da Universidade do Colorado, acerca do comportamento dos grupos de pressão frente à Administração, em França, outro, de C. Pellegrini, sobre a concentração do poder económico na Itália.

Donde vêm e por quem vêm, afinal, todas estas questões?

Sem sombra do dúvida, do processamento da industrialização e das consequentes transformações do capitalismo financeiro e dos reflexos morais e sociais de um e de outro fenómeno. Particular acuidade assumem, porém, estes aspectos nos países que não puderam ou souberam desenvolver-se quando os demais.

São conhecidas as transformações do capitalismo, que pari passa - que a liberdade destruiu a liberdade - se consumam na constituição de estruturas rígidas e esclerosadas no monopolismo de direito e de facto, como regra nas combinações de empresas económicas e financeiras, desaparecendo para grandes zonas da vida económica qualquer vestígio da concorrência indispensável.

As grandes fortunas norte-americanas são aspectos de um tipo especial de industrialização, que teve lugar num país determinado. Esse tipo de industrialização, que compreende empresas absolutamente privadas, permitiu aos indivíduos ocupar posições estratégicas donde podem dominar os fabulosos meios de produção de que o homem dispõe; une a força da ciência e do trabalho, controla a relação do homem com a natureza e tira dela milhões e milhões. E não é que estejamos seguros disto depois de ter visto que as coisas correm assim: podemos predizê-lo facilmente para nações ainda não industrializadas e poderemos confirmá-lo observando outros modos de industrialização.

A acumulação de vantagens no cume é paralela ao círculo vicioso da pobreza no fundo. Porque o círculo das vantagens inclui a disposição psicológica s as oportunidades objectivas: exactamente como as limitações das classes baixas e a sua posição social produzem uma falta de interesse e de confiança em si mesmo, assim as oportunidades objectivas do classe e posição social produzem interesse por melhorar e confiança em si mesmo.

Feita esta apreciação de um tipo de industrialização que fez a sua época, se processou em período em que a dormência das massas e o alargamento das zonas de acção a novas áreas e diferentes aspectos consentiram, deve analisar-se o problema relativamente aos países que só agora ou há pouco se determinaram no sentido da industrialização. Aí dois factores novos impuseram empiricamente a necessidade de o Estado intervir: a falta de estímulo e de espírito de empresa, por um lado, e as crescentes ansiedades de sucessivas camadas populacionais, por outro.

Se deixarmos de lado a vaga de nacionalizações que varreu um pouco por toda a parte os países europeus no fim da última guerra, atitude que só filia directamente num sentimento político forjado nos sofrimentos da guerra, encontramos uma crescente interferência do Estado na vida económica. Assim, o Estado multiplica os contrôles, as medidas sociais, as intervenções e «conformes» e «disconformes», financia e estimula actividades, torna-se empresário de outras, procura fórmulas para combater a concentração da riqueza e promover uma mais equilibrada distribuição dos bens produzidos.

A golpes de audácia e de perseverança, da dormência secular dos empresários começa a despertar uma energia nova e uma vontade renovada de progredir.

Todavia, tem de reconhecer-se que se os resultados, em termos de rendimento nacional, são evidentes, se os fenómenos de concentração de poder económico não atingiram as proporções assustadoras verificadas na livre América, à escala dos países revestem-se do mesmo aspecto, e, além disso, as intervenções do Estado criaram novos problemas: a confusão do poder político e económico, as pressões dos interesses económicos e os Inevitáveis reflexos na moralidade pública.

Logo se viu não poder o sistema parlamentar resolver estes novos aspectos, não ser a democracia pluripartidária capaz de enfrentar estas questões, soçobrando ainda quando o progresso do país era evident vezes tornado evidente por um alargamento dos interesses do grupo a uma gama sempre mais vasta de produtos.

E a concentração, acrescento, continua ...

Vistas as coisas pelo ângulo social ou político-social à medida que a liberdade económica se restringe, seja pela pressão das forças económicos ou sociais, seja pela intervenção do Estado, as possibilidades efectivas de acesso à riqueza, parafraseando J. Marias, repartem-se mais desigualmente, segundo não as capacidades ou méritos, mas as localizações concretas dos indivíduos em relação a esses poderes, e cria-se uma nova forma de privilégio, quase sempre dissimulado e que não «consta», que não é do conhecimento público.

Vem tudo isto a propósito da universalidade destes

problemas, da repetição das formas de que se revestem, a generalização das situações, não fosse qualquer filósofo apressado concluir ou julgar tratar-se de questões específicas ou características da nossa terra, onde, bem vistas as coisas, estamos, felizmente, longe, muito longe, de atingir a extensão, a acuidade e a frequência com que se descrevem e verificam nus demais. Mas vem também a propósito dos problemas que teremos de enfrentar, já que o processo de industrialização se desencadeou, os seus efeitos começam a ser evidentes e, como se não bastassem as «fatalidades» de que parece ter de se fazer acompanhar, se procuram deliberadamente caminhos cujos cruzamentos se conhecem e as desembocaduras justamente se temem.

Cuido que há corajosamente necessidade de tomar opções claras em matérias de política económica e social, mas também de política geral. Para tanto requer-