coisa de impessoal e esquemático, contrário, portanto, ao que a natureza e o seu Criador mostraram querer».

Parece-nos, feitas estas ligeiras divagações, que talvez pudéssemos reduzir o caudal das influências políticas, ou a pressão dos príncipes dominadores no campo económico e financeiro, se o diálogo com o Governo fosse em circunstâncias a regulamentar, efectuado em presença de um organismo paritário, a quem a Nação deu possibilidade de intervir na discussão de problemas ligados ao seu progresso económico e paz social.

Poderíamos caminhar com um bocadinho mais de lentidão, mas o fim legitimava a demora, porque «à avidez do lucro seguiu-se a desmedida ambição do predomínio», como se diz na encíclica atrás citada.

A necessidade do momento, porém, manda que esta ou outra solução tenha de ser encarada, porque, a admitir-se a passividade do Governo perante os problemas que a proposta levanta, o futuro do País não é servido.

A melhor homenagem que se pode prest ar ao engenheiro Camilo de Mendonça, à sua coragem em encarar do frente os problemas, ao patriotismo de que deu provas, é afirmar-lhe a nossa convicção de que o seu trabalho demonstra a alta preocupação em fazer desaparecer os factos que dividem os Portugueses e comprometem o seu futuro. Nesta hora grave que atravessamos, em que a nossa unidade nacional é ameaçada não só por inimigos declarados, como pela complacência dos que, dizendo-se amigos, não nos perdoam a vitória no mesmo campo onde sofreram derrotas, há realmente uma política que nos pode unir, e essa será a política da verdade. A unidade de que necessitamos para que o Governo represente a Nação não se conseguirá se não houver coragem para reconhecer os erros o força para os combater. No reconhecimento da falta o homem não se rebaixa nem é vencido, antes se eleva o triunfa, no acto de consciência que o reconhecimento implica.

È possível que com outras formas de governo, ou noutros países de sistemas políticos diversos, os abusos se verifiquem em maior escala e se comparados, nos levassem a considerar a pouca importância dos nossos, à luz do critério de relação. A verdade, porém, é que isso nada justifica, porquanto a falta de higiene em casa vizinha não justifica a pouca limpeza da nossa, ou, em expressão que o povo consagrou: com o mal dos outros podemos nós bem.

De resto a comparação não é legítima, porquanto são tantos os factores de natureza moral, social, política e até de tradição que deveriam ser considerados que as conclusões seriam naturalmente falseadas. O que importa é que o espírito cristão que iluminou a doutrina base do nosso Estado se realize na realidade política e não seja obscurecido ou eliminado por possíveis actos, que uns classificarão de uso, outros de abuso e todos, no fundo das suas consciências, de imorais e ilegítimos.

Sr. Presidente: o caso sobre o qual nos debruçamos é, ao fim e ao cabo, um caso de dignidade, e com tal um caso de consciência. Desde que se deixe de atender ao respeito por uma e outra, com pouco ficaremos para alicerçarmos estruturas de vida e, naturalmente, para encararmos com segurança o futuro político do País. É lamentável que tenhamos do legislar sobre tal matéria e que o campo de aplicação esteja em classes que deveriam constituir élites; é desolador que tenhamos de voltar atrás a recordar verdades que foram ditas com o fim de atingirmos os mesmos efeitos. Devemos ainda estar prevenidos para defender a doutrina dos falsos profetas, que quando se referem à Pátria pensam só na sua própria casa, quando discutem problemas sociais fazem demagogia em defesa da fazenda e quando falam a Deus repelem a oração do fariseu. É preciso não esquecer que gerações já desabrocharam dentro de uma doutrinação que sempre se afirmou justa e que não podemos consentir que quaisquer factos, por mais insignificantes que pareçam, possam significar traição aos princípios tão magistralmente proclamados. Não faltarão os que acusam de ingénuos os autores do projecto e os que o defendem: esses não serão os piores, porque ainda acreditam na ingenuidade. O mal está nos bem intencionados mas cépticos, que encolhem os ombros sorriem daquilo que julgam esforço inútil, como as prevenções para evitar ao País a à sua economia o aparecimento dos perturbadores da paz social.

Sr. Presidente: vou acabar o meu depoimento, não sem afirmar a minha esperança de que a aprovação do presente projecto de lei se transforme num verdadeiro encontro entre a ansiedade do País e o desejo, sempre provado, do Governo em servir a Nação.

Tenho dito.

Vozes : - Muito bem, muito bem!

O Orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente : - Vou encerrar a sessão.

Amanhã haverá sessão, com a mesma ordem do dia da de hoje.

Esta encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 55 minutos.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Alberto Carlos de Figueiredo Franco Falcão.

Alberto da Rocha Cardoso de Matos.

Américo da Costa Ramalho.

Armando Cândido de Medeiros.

Avelino Teixeira da Mota.

Belchior Cardoso da Costa.

Duarte Pinto de Carvalho Freitas do Amaral.

Fernando António Munoz de Oliveira.

Henrique dos Santos Tenreiro.

João da Assunção da Cunha Valença.

João de Brito e Cunha.

Joaquim de Pinho Brandão.

Jorge Pereira Jardim.

José António Ferreira Barbosa.

José Dias de Araújo Correia

José Gonçalves de Araújo Novo.

José Guilherme de Melo e Castro.

José dos Santos Bessa.

José Soares da Fonseca.

Manuel Cerqueira Gomes.

D. Maria Irene Leite da Costa.

Sebastião Garcia Ramires.