boa parte do consumo ter derivado para o gasóleo, como facilmente se deduz do mapa anterior.

Não vale a pena estar a cansar VV. Exas. com números estatísticos, dando conta do número sempre crescente do nosso parque automóvel, uma vez que o consumo de gasolina e de gasóleo dá clara ideia do que se passa.

Valerá apenas ainda referir o aumento dos pesos que a estrada suporta.

Ao princípio cada camioneta não transportava mais de 4 t; hoje esse peso cresceu largamente, e essas camionetas, que rebocam um atrelado, podem transportar 10 t a 12 t, e já vimos que se fabricam camiões--tanques capazes de transportar 30 000 l de gasolina.

No último registo do movimento rodoviário, realizado em 1955, comparado com o que está a realizar-se, verificam-se impressionantes diferenças:

Não admira, pois, que os pavimentos, que não foram construídos para este movimento nem para estes pesos, vão cedendo, e cada vez com mais rapidez, não sendo agora suficiente apenas repará-los, mas em muitos casos imprescindível refazê-los.

O Sr. Carlos Moreira: - Muito bem!

O Orador: - Compreende-se que perante esta necessidade, aliás inadiável, não possam chegar hoje aquelas dotações que se julgaram suficientes aqui há alguns anos e que para mais, sangradas desde 1950 em mais de 360 000 contos para obras extraordinárias, não correspondam hoje às imprescindíveis, imperiosas e inadiáveis reparações, reconstruções e construções que importa realizar.

Mas quero contar a VV. Exas. em toda a sua simplicidade esta tragédia das verbas.

Em 1954 a Junta Autónoma de Estradas pedira ao Governo 4 020 000 contos em dez anos, como dotação necessária para os seus empreendimentos. Foram-lhe concedidos, pela Lei n.º 2068, 3 750 000 contos, a realizar em quinze anos, e, assim, a Junta, em vez dos 402 000 coutos anuais que pedira, pôde apenas dispor de 267 000 contos.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - É o plano de quinze anos que está em vigor e cuja execução me consta estar atrasada de, pelo menos, dois anos.

O Orador: - Quer dizer, pouco dinheiro e ainda por cima aplicado a obras extraordinárias, como a Ponte Marechal Carmona, a auto-estrada Lisboa-Vila Franca e a ponte da Arrábida, no Porto.

Não é que não haja necessidade dessas obras. É claro que a sua utilidade se torna por de mais evidente, mas o que se não podem é fazer sem dinheiro.

O Sr. Ernesto de Lacerda: - Mas, então, as receitas cobradas pela passagem de viaturas na Ponte Marechal Carmona não constituem uma contrapartida das despesas que estão sendo efectuadas com as obras em curso?

O Sr. Cerveira Pinto: - Não, não entram nas contas, ao contrário do que seria lógico.

O Orador: - O que parece lógico a V. Exa. não foi julgado assim pela Administração. E absolutamente seguro e confirmado que não há economia mais cara do que a que se realiza nas estradas.

Todos VV. Exas. sabem que o grande desastre das nossas estradas começou numa economia orçamental, feita por João Franco. Simplesmente, este era um grande estadista, um talento, uma capacidade!

O Sr. Carlos Moreira: - Muito bem!

O Orador: - Se ele tivesse continuado, saberia quando deveria parar. Os que vieram depois, quando se aperceberam do facto, já era tarde, já nada souberam fazer!

A vultosa verba de 120 000 contos despendida com a Ponte Marechal Carmona, verba esta saída das dotações normais da Junta, está na origem da evidente perturbação que revela o estado em que se encontram hoje as nossas estradas.

O evidente desenvolvimento económico do País, animado pelo Governo através dos planos de fomento, carece indubitavelmente de boas estradas para poder continuar a expandir-se.

Regiões há no País que esperam a projectada estrada para se integrarem no movimento geral de expansão económica.

Eis, Sr. Presidente, porque não posso dar a minha concordância a que essas regiões tenham, porventura, de ser sacrificadas, atrasando-se o já pouco ambicioso plano de 1956 (1800 km até 1970).

Nesta manifesta evidente insuficiência de verbas, uma vezes se sacrifica a reparação, outras a construção, e, perante o estado actual das estradas e as consequências deste rigorosíssimo Inverno, parece que será a construção que terá de ser sacrificada se tudo continuar como está.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Precisamos, todavia, de saber se o que rende a estrada comporta verbas mais avultadas destinadas ao orçamento da Junta Autónoma de Estradas.