O Sr. Cortês Pinto: - V. Exa. ainda não se referiu ao problema que advém também da diminuição de turismo, para que se tende, fatalmente, devido ao estudo actual das nossas estradas.

O Orador: - Vou tratar disso imediatamente.

Ainda há poucos dias o nosso ilustre colega Mário de Oliveira nos dava a grata notícia de que o turismo já nos rendia cerca de 1 milhão de contos por ano, e todos podemos verificar mais recentemente ainda, por afirmações do nosso antigo colega Dr. Moreira Baptista, ilustre secretário nacional da Informação, que se vão construir noras pousadas e ainda mais hotéis, tudo na previsão e no desejo de se conseguir desenvolver cada vez mais o turismo, criando-lhe o ambiente necessário.

Pois bem: este ambiente tem de ter como base a estrada.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A estrada só por si não chega para fazer turismo, mas não creio que qualquer espécie de turismo, muito ou pouco, seja possível sem estradas na melhor forma.

Vozes: - Apoiado!

O Orador: - A construção de estradas, no seu processo, na sua estrutura, tem evolucionado no Mundo por tal forma que já não basta que não tenha buracos, sendo indispensável que ofereça uma comodidade perfeita.

O Sr. Cerveira Pinto: - Muito bem!

O Orador: - Para o turista habituado a circular em estradas perfeitas são estradas perfeitas que teremos de pôr à sua disposição, se queremos que se sinta bem, circulando entre a nossa maravilhosa e variada paisagem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador - Estamos realizando um esforço notável para procurarmos industrializar o País; não nos esqueçamos, pois, que o turismo é uma industria que, não desgastando matérias-primas, fornece uma entrada de cambiais que o coloca hoje, ou deve colocar, no primeiro lugar das nossas preocupações.

O Sr. Cerveira Pinto: - Muito bem!

O Orador: - Cuidamos e facilitamos as construções de hotéis, promove-se a construção de novas pousadas; nada disto, porém, funcionará sem estradas, e nestas, absolutamente indispensáveis ao desenvolvimento normal da nossa economia, a quota-parte da despesa que pertence ao turismo não será grande, visto que mesmo não existindo turismo sempre teriam de existir estradas. Simplesmente, o que pode servir tant bien que mal para nós não é suficiente para os que nos visitam.

Um outro aspecto que não deve ser descurado é o da segurança de quem circula nas estradas. O perfil das nossas rodovias é, em muitos casos, perfeitamente antiquado e inadaptado à circulação automóvel, e indispensável é corrigi-lo, como, aliás, o vem fazendo, e bem, a Junta Autónoma de Estradas, mas mais intensamente.

Se me atrevesse a sonhar com um passo decisivo dado em frente, dado para o futuro com algum desembaraço, diria que há pelo Mundo grandes empresas que dispõem de capitais, de técnica aperfeiçoada, de apetrechamento moderno que constróem em determinadas circunstâncias auto-estradas e estradas apropriadas para a viação automóvel e que, se o fazem na América, na Itália, na Inglaterra, também o deviam fazer em Portugal.

Penso que todos que aqui estão têm ido ao estrangeiro e sabem como as estradas são lá fora. E compreendem que não são estradas com pavimentação mais que insuficiente que podem dar satisfação, sobretudo hoje, que grandes carros americanos as percorrem.

Mesmo os que utilizam carros utilitários sabem que em cada manobra se reflectem as imperfeições das estradas. Que eles tenham de ir para as oficinas vá, mas o que não se percebe é que aquelas não desempenhem a sua função, como as estradas feitas no estrangeiro.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - O exemplo da estrada de Pegões não é lisonjeiro ... A estrada foi feita por uma empresa estrangeira.

O Sr. Nunes Mexia: - Apenas a cobertura!

O Sr. Ernesto Lacerda: - Vejo que V. Exa. conhece bem esse assunto. Pode elucidar-nos em quanto teria ficado cada quilómetro?

O Orador: - Não sei.

O Sr. Ernesto Lacerda: - Suponho que não foi um modelo de administração.

O Orador: - Todas as experiências saem caras. As máquinas eram velhas quando se adquiriram e não se adquiriram por iniciativa da Junta Autónoma de Estradas.

Custa, Sr. Presidente, a quem tem sido um devotado servidor desta situação e que reconhece, louva e agradece todos os espantosos, e ainda há pouco inacreditáveis, benefícios recebidos e em perspectiva, ter de apontar uma deficiência tão marcada como esta.

Não cometeria, todavia, a deselegância demonstrativa de falta de coragem moral de atacar os serviços que trabalham com a maior devoção e competência, quando cônscio de que o mal não reside ali.

É, infelizmente, uma atitude muito vulgar.

Guardam-se os elogios para os Ministros e desancam-se os serviços quando as coisas não correm bem, mesmo quando de antemão se tem a certeza de que não são estes os culpados.

Muitos de nós têm essa amarga experiência. Já tenho, porém, proclamado aqui várias vezes sobre este mesmo assunto: «Não culpem os serviços, porqu e o mal não está ali».

Não se podem reparar estradas em 1960 com as mesmas verbas de 1950; e um exemplo basta: os encargos com pessoal eram em 1949 de 37 600 coutos e são em 1959 de 94 246 contos.

Não se podem fazer obras extraordinárias de vultoso custo através das dotações normais insuficientes, e,