honrar e dignificar o seu labor intelectual. Nada lhe falta que possa entravar o seu anseio, a sua mais premente aspiração; na ocasião presente, negar-lhe é praticar uni erro psicológico, erro grave, até porque essa restituição, essa restauração, tiraria nos aniversários do Regime uma arma de ataque que eles manejam com proveito, colhendo do facto ilações inteiramente contrárias à doutrina que defendi-mos, com base no nacionalismo que praticamos.

O Sr. Simeão Pinto de Mesquita: -V. Ex.ª dá-me licença?

Pelo que respeita ao Porto, que aqui representamos, nós, os do Porto, pelo que se refere à instrução superior, temos de ser sempre pela tradição de Passos Manuel.

O Orador: - Possui o Porto todos os elementos indispensáveis no normal funcionamento de uma Faculdade de Leiras. Não necessito recorrer aos repetidos argumentos básicos de intervenções anteriores, já tão numerosas, visto essa argumentação ser tão clara que jamais sofreu desmentido sério.

Sr. Presidente: tem-se propalado que não seria do agrado das Universidades a restauração da Faculdade de que me estou ocupando. A meu ver, não existe qualquer motivo com base demonstrativo dessa hostilidade, podendo confessar, dentro de toda a verdade, que muitos dos mais destacados valores dessas mesmas Universidades veriam com simpatia esse acto de justiça, restaurador de uma Faculdade que no espaço curto que viveu, dez anos, é recordada com admiração e com louvor por figuras eminentes das letras que a não frequentaram e que afirmam publicamente «que ela frutifica mesmo depois de extinta».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Outro farto apontado como razão e motivo para manter o estado actual é a falta de mestres competentemente preparados para tão alto encargo.

E eu ouso acerca desse facto fazer aqui uma pergunta :

Mas então nessas gerações contínuas de rapazes, que obtêm com alta classificação a sua licenciatura, não existem valores que possam vir a ser candidato sérios ao desempenho de uma função docente, dignos continuadores dos mestres que tiveram?

Não acreditamos no vazio de que alguns falam, porque nada se passa de semelhante em Faculdades que conhecemos.

Julgo, o sou bem acompanhado no meu juízo, não serem em número ímpar os catedráticos que presentemente ensinam nas Faculdades de Letras. Se assim é, essa responsabilidade cabe aqueles que pretendem viver em circulo fechado, como se a ciência fosse monopólio do alguns s seus únicos detentores os mestres actuais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Fazer escola é obrigação e virtude que cabe as Universidades, preparando para a vida e para o professorado os mais capazes, os que hajam dado melhores provas do seu real merecimento. E a mocidade que frequenta as Faculdades de Letras não é diferente nas suas qualidades e virtudes da que frequenta os outros departamentos universitários.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É ali, na diferenciação normal de estudos, que reside o futuro da Nação, não podendo con-

ceber-se que em tantas gerações de moços niïo possam selecuiouar-se valores positivos, novos valores, para substituir nas suas Ui-refns os vtlhos. qu« não são eternos.

'Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E o exemplo magnífico dado pela Faculdade de Economia do Porto é significativo e há que pô-lo em evidência no paralelismo do que pode suceder com n restauração da extinta Faculdade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: depois do que acabo de expor em ligeiro apontamento, permita-me que dó aqui testemunho de quanto admirei e apreciei uma atitude de grande beleza, que o acaso colocou há dias sob os meus olhos, atitude de inteiro apoio ao restabelecimento da Faculdade de Letras, pelo qunl venho lutando.

O Prof. Fidelino de Figueiredo, mestre eminente no estudo e no culto das letras pátrias, pensador, filósofo e crítico, cujo merecimento é reconhecido e admirado através das múltiplas facetas da sua vultosa obra, grangeando-lhe o prestígio que atingiu e desfruta, magnífico espírito enriquecido o dominado por problemas da mais reconhecida transcendência filosófica, fez há dias um depoimento notubilíssimo na sua espontaneidade e no seu .significado, que muito nos apraz trsizer neste instante ao conhecimento da Assembleia Nacional.

No Diíifio Jluntrndu. na secção de artes e letras, um sCírculo Aberto», como inquérito acerca da existência em alto nível de unia filosofia portuguesa, exprime-se o consagrado mestre, em certo passo da sua longa e autorizada resposta, da fornia que passo a ler:

Assunto mais realista parece-me o da existência ou inexistência de uma filosofia portuguesa. Vejo com toda a simpatia e o mais vivo aplauso u ansiosa revalorização dos esquecidos pensadores portugueses- esquecidos ou mal julgados. Muitos dos nomes agora tra/idos ao primeiro plano da dis-c-us.são crítica são portuenses; e os seus paladinos provêm do Porto e du sua extinta Faculdade de Letras, que assim frutifica mesmo depois de extinta.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:

A presença de uma brilhante geração de pensadores e críticos de filosofia dessa proveniência justifica só por si, a meu juízo, o restabelecimento da Faculdade. E se há autodidactas entre os filósofos estudados e os seus intérpretes críticos, isso apenas demonstra n vocação filosófica da gente do Porto.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:

Agora mesmo saiu um grande livro de Amorim de Carvalho, autodidacta e portuense, acerca de Pereira de Sampaio (Bruno), também autodidacta e portuense. Mais um argumento a favor da restauração da Faculdade: servir impulsos espontâneos de curiosidade intelectual de um grande ambiente de trabalho e riqueza.