Nós cá estamos aguardando novas arremetidas, pois sabemos que uno desistem e o nosso país representa para eles um importante alvo, pela posição que ocupa na África, hoje o principal objectivo da ofensiva comunista.

Já definimos a nossa atitude: não admitidos a intromissão de quem quer que seja nos nossos negócios internos, não aceitamos tutelas nem fiscalizações de qualquer espécie e nem sequer damos ouvidos às críticas ou observações que nos dirigem aqueles que não têm autoridade moral para as fazer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os portugueses do continente, das ilhas e do ultramar já afirmaram que estão dispostos a todos os sacrifícios, incluindo o da própria vida, se tanto for necessário, para defender a integridade e o bom nume do País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E, se assim não fosse, levantar-se-ia por certo, do túmulo onde repousa, a nobre figura do Santo Condestável, para nos lançar de novo em rosto aquela objurgatória das vésperas de Aljubarrota:

Como? Da gente ilustre portuguesa

Há-de haver quem refuse o pátrio Marte?

Como? Desta província, que princesa

Foi das gentes na guerra em toda a parte,

Há-de sair quem negue ter defesa?

Quem negue a fé, o amor e arte

De português e por nenhuma respeito

O próprio reino queira ver sujeito?

(Lusíadas, IV, 150).

Felizmente a reacção que pelo País inteiro se levantou contra, os ataques na O. N. U. veio mostrar de forniu inequívoca que a Nação está pronta a defender-se onde, quando e na medida em que se tornar necessário.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que há, pois a fazer?

Já se sugeriu o abandono puro e simples, por parte de Portugal, da Organização das Nações Unidas.

Essa parecia realmente, à primeira vista, a solução indicada, desde que a Organização se desviou dos fins para que foi criada e começa a contradisser a sua própria designação.

A questão, porém, é bastante delicada para, que se resolva sob as primeiras impressões.

Em política, e nomeadamente em política, internacional, há que ter em conta, muita, vez, factores que escapam à percepção comum. E só com o conhecimento de todas as implicações que o facto poderá trazer se deverá tomar uma resolução.

Não temos por ura elementos que permitam avaliar tais circunstâncias. E até ó bem possível que o próprio Governo ainda os não possua.

Ë, pois, prematuro pretender resolver desde já o assunto.

Deixemos isso ao Governo, que fica com a garantia de que tem atrás de. si as populações de todo o mundo português, dispostas a i r até onde for preciso na defesa dos seus sagrados direitos.

Vozes: - Muito tem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Bem haja o Sr. Presidente do Conselho!

Que Deus nos proteja, no-lo conserve, e o ilumine sempre!

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Melo Machado: - Sr. Presidente: suponho que não haverá nesta casa a não ser talvez o Sr. Engenheiro Cardoso de Matos, qualquer outro Deputado natural de Angola.

Embora o facto de ter nascido em Lua mia fosse meramente acidental, devo dizer que nunca o meu espírito si; desprendeu completamente da terra onde abri pela primeira vez os olhos para a vida.

Sirva-me isto de pretexto para tomar a VV. Exas. alguns minutos com estas desataviadas considerações.

Mercê de circunstâncias familiares, sempre segui com a melhor atenção o desenvolvimento das nossas províncias ultramarinas, designadamente Angola e Moçambique, e tem sido com desvanecimento e orgulho que tenho visto o progresso crescente, o desenvolvimento constante, da província que me foi berço.

Tendo, pois, nascido em Luanda o seguido pari passu a vida administrativa das nossas grandes províncias africanas, sentido e vivido o espírito de sacrifício isto na sua administração, a dedicação sem limites dos que nela trabalharam engrandecendo o património dos nossos maiores, o domínio permanente da ânsia de servir, e conservando da minha meninice, a recordação feliz do trato amorável com os indígenas, natural é que com redobrada indignação tivesse tomado conhecimento do ataque brutal eivado de ódio, mas também de ignorância, que contra nós nas Nações Unidas desferiram o Sr. Kruschtehev e alguns dos seus lacaios, para usarmos da terminologia diplomática e afável do Sr. K.

Nós não somos em África uma nação qualquer, nós somos os seus descobridores, aqueles precisamente que trouxeram a África ao conhecimento o ao convívio do mundo civilizado, o talvez por isso devemos merecer, àqueles que com tão feroz sanha nos atacam, algum respeito e alguma consideração.

A nossa chegada a Angola não é história contemporânea descobrimo-la e começámos a ocupá-la em 1483, já lá vai cerca de meio milénio.

Não está nos meus intentos fazer uma digressão histórica, mas não posso deixar de assinalar nestes tempos em que tão prontamente, e ao primeiro motivo se abandonam posições, que, quando, em 1041, Angola foi invadida pelos Holandeses, um punhado de portugueses, completamente isolados do Mundo, exaustos pelo clima, pelai febres, pelas privações, e apesar de essa invasão ter conduzido à revolta dos indígenas, mantiveram a resistência durante sete anos até à chegada de socorros vindos do Brasil.

Eis um exemplo salutar, que merece, sem dúvida, ser meditado e seguido.

Todo o Mundo lucrou com a nossa actuação nas Descobertas, e bem vimos na larga representação das marinhas de todo o Mundo há pouco e em homenagem