As comemorações henriquinas - disse-o o Chefe do Estado - visaram a afirmar a comunidade espiritual «que une os Portugueses de hoje àqueles que, no limiar do século XV, sob a égide do infante, decidiram escrever no mar os feitos de epopeia que Camões imortalizaria n' Os Lusíadas».

A figura central das comemorações foi sem dúvida o «Alto Infante», a cuja tenacidade, energia e larga visão se deve a empresa extraordinária das navegações e descobrimentos, que imortalizou o nome de Portugal. Mas o «Alto Infante» só avulta na sua verdadeira grandeza através dos seus companheiros do promontório de Sagres, dos seus mareantes, cartógrafos e cientistas, de todos aqueles que o seu génio suscitou para a realização do seu sonho. É o que admiravelmente se exprime no belo Monumento dos Descobrimentos, erigido em Belém, em que o infante não está isolado, mas acompanhado de uma corte magnífica de soldados e capitães, pautas e cientistas, reis e prelados, poetas e rainhas, enfim, os representantes dessas duas ou três gerações que em 80 anos alargaram os limites do mundo conhecido, dilataram os horizontes da ciência, levaram a civilização e a fé cristã a inúmeros povos mergulhados no paganismo, na superstição e em costumes bárbaros e cruéis.

Ora o que faz uma nação é sua fidelidade às raízes, ao passado donde provém. E aí que haure a seiva e a vida, a consciência da sua personalidade e do seu ser colectivo. Despegada do passado, é folha seca que o vento arrasta; fiel ao passado, é vida que se renova e que se revigora constantemente no impulso que lhe vem de tantas gerações que a forjaram e lhe deram a sua personalidade.

Por isso o Chefe do Estado se inspirava no exemplo do infante D. Henrique e dos seus colaboradores e das gerações que continuaram a sua obra para salientar que continuam no nosso povo «as mesmas virtudes de coragem, de sacrifício e de esperança que animavam os portugueses do infante» o declarava, em nome de Portugal, como solene compromisso, que «saberemos continuar fiéis à vocação do que o infante foi o mais nobre e lúcido dos obreiros», pelo «ardente misticismo cristão» e pelo «sentido heróico» de que «soube impregnar a vida portuguesa».

Compreende-se, pois, a oportunidade das comemorações henriquinas!

Na ocasião em que se permitem discutir o secular património que herdámos dos nossos maiores, património devido sobretudo à obra do infante e ao impulso que ele imprimiu à vontade da Nação, é preciso cerrar fileiras e tomar a consciência, mais do que nunca, de que todos somos um só, unidos pelo mesmo ideal, por idêntica comunidade de tradições, de necessidades presentes e de aspirações futuras; é necessário ter bem vivo que devemos honrar o nosso passado e defender o futuro dos nossos filhos e que somos apenas o elo de uma cadeia que nos cumpro manter firme e não deixar que só quebre.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Foi essa a grande lição das comemorações - que já agora podemos considerar, no seu significado profundo, a grande festa da família portuguesa.

Bem haja o Governo por as ter promovido!

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Vai entrar-se na discussão na generalidade da proposta de Lei do Meios para 1961.

Tem a palavra o Sr. Deputado Camilo de Mendonça.

consciência, pelos princípios que professo e, também, pelo dever de gratidão e lealdade ao Sr. Presidente do Conselho.

Quero referir-me à prova a que internacionalmente fomos submetidos e diz respeito à defesa da nossa integridade territorial, à exigência de uma unidade nacional activa e coesa como condição essencial para resistir às provações e à situação agudíssima que atinge a nossa debilitada lavoura.

Pelo que respeita à ofensiva contra a integridade da Pátria, direi apenas que as fronteiras não se discutem, defendem-se. E defendem-se como for mister.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - As palavras que o Sr. Presidente do Conselho proferiu nesta Assembleia exprimem a nossa razão, definem a nossa atitude, constituem a palavra de ordem.

Cuido, assim, não serem necessárias mais palavras, mas actos, que por igual se exigem à administração pública e a cada um dos portugueses.

Acrescentarei quo o País tem neste momento o direito de esperar um esforço exaustivo, persistente, tenaz, da nossa diplomacia, já experimentada, aliás, pela brilhantíssima acção desenvolvida quando da crise do Estado da Índia. Mas tem também de pedir ao Ministério do Ultramar um esforçado labor de revisão de orgânicas e de algumas legislações arcaizadas, de fomento orientado na participação de toda a população nas tarefas e seus resultados, de vigilância de eventuais abusos e injustiças que possam prejudicar a paz social ou racial ou comprometer as nossas razões.

Vem depois a exigência de uma unidade nacional activa e coesa, que constitui - tem-se visto por exemplo alheio ... - o fundamento circunstancial indispensável à defesa dos nossos direitos. Creio neste caso não poder confiar-se si coesão nacional ao jogo mecânico dos homens e das sociedades menores nem fiar-se na inércia e no conformismo.

Tenho-me apercebido da existência, de uma predisposição da parte dos Portugueses para compreenderem que bem pode ter chegado o momento em que, em vez de se dividirem sobre a melhor forma de servir a