que não pode ser abonado de nenhuma forma pelos declamadores.

Os homens são distribulizados e forçados a trabalhar. Quem conhecer uma senzala, no interior, sabe que não é assim.

Não há acesso para mulatos e pretos indígenas, o que também sabemos não ser a verdade.

Não vale a pena levar a muitos detalhes e menos ainda discutir todos os termos desta nova contenda.

Veja-se o paradoxo - por um lado, nega-se que o branco deva impedir as práticas cafreais e arrancar o nativo à degradação, mas acusa-se aquele pelo atraso e pelo subdesenvolvimento e impõe-se como dever moral o fornecimento de capitais, assistência técnica, máquinas, direcção e quadros administrativos para vencer a barbárie e a fome.

Nega-se a plantação, nega-se a indústria, em nome do que se quer promover a cultura específica, e defende-se a depredação itinerante e as queimadas, que só podem deixar as tribos pobres e mais pobres ainda.

Poetiza-se ou romantiza-se o matriarcado, a filosofia bantu e, em certo modo, parece que se autoriza o que outros fizeram e nós nunca fizemos nem faremos - empurrar para o interior, destruir, confinar e deixar, em certas zonas, o primitivismo entregue a si mesmo, às suas fúrias e epilepsias.

Portanto, nega-se.... mas nega-se apenas... e tolhe-se toda a acção construtiva em África, a não ser que novas formas de capitalização, de industrialização concentrada de domínio monopolístico, pudessem resultar do advento de novos senhores.

Portanto, por esta nova campanha, nega-se tudo o que de bondade, de simpatismo social, de ascensão regenerativa, de cristandade, pode ser feito e tem sido

feito por nós nos trópicos.

Nega-se a atitude humanitária do Português.

Nega-se a sua compreensibilidade e recíproco convívio.

Nega-se a destribalização.

Nega-se que os nativos portugueses conheçam a nossa língua e connosco se entendam em português.

Nega-se a disciplina social suavizadora, a bondade dos nossos.

Nega-se um estilo de vida historicamente fundamentado.

Claro que estas ideias de proletarização de cultura específica, de regresso à tribalização, mostram grande capacidade como fomentadoras de dissídios, de lutas sociais, de desordens de toda a espécie.

Elas não correspondem à África, aos seus interesses, aos verdadeiros interesses dos seus povos, raças ou credos, porque nunca seria sobre as fúrias desatadas, sobre o déclenchement dos instintos mais bárbaros, da subversão das hierarquias brancas e negras, dos ódios de classe, que poderia vir a salvarão e o progresso deste continente.

Fazer da tribo, ou, melhor, das tribos, em luta atávica, a Nação ou, por outra, querer construir sobre as senzalas ou as levas itinerantes um Estado moderno, não é trabalho de Hércules, mas tarefa da esposa de Ulisses, que tecia de dia e destecia de noite.

Nem a fórmula Estado é capaz de vencer os efeitos do tribalismo nem de suplantar os conflitos de raça, quando não represente uma ordem e uma hierarquia.

Podem inventar-se chefes, treinar leaders, criar órgãos de avanço, mas para construir uma nação são precisos princípios, estado geral de sentimentos, opiniões e crenças, órgãos conscientes, não bastam constituições.

A África, nem por ser mais africanizada responderá às exigências futuras.

A maior capacidade de malevolência e de denegrição atingida nas campanhas difamatórias contra a Nação Portuguesa deve-se ao americano James Duffy, apesar da sua veste de estudioso e exuberância documentária.

A violência intelectual, sob a capa de larga investigação, chegou ao cume e nada poderá ser organizado de pior contra nós.

Foi a Fundação Ford que garantiu uma bolsa para que este americano poisasse, largo tempo, na África Portuguesa, a fim de forjar o seu libelo político.

É a Universidade de Harvard que o edita.

Ele é assistente de Literatura Castelhana.

As li vrarias de Lisboa o estadeiam e vendem por alguns dólares.

Uma ou outra observação não são, inteiramente desfavoráveis e assim o libelo vai adquirindo compostura intelectual e aparências de imparcialidade.

O autor ataca a nossa reputação de povo sério e considerado, torce e insulta, blasona de criterioso e comedido.

Mas todo o desenvolvimento político e social, toda a legislação se apresenta como uma adaptação e o progresso jurídico como operação de pura subtileza ou meramente formal.

Duffy discute assim leis, providências, práticas administrativas, mas ignorando o seu espírito ou insuflando-lhes intuitos, que não direi americanos, mas afro-

- asiáticos.

O Século escreve um artigo, cheio de rectas intenções - protecção dos menores indígenas, necessidade de acudir a múltiplas tarefas, dificuldades dos brancos em aguentar os efeitos esgotantes de certas tarefas e do clima.

Como interpreta? Responde:

A atitude do Português consiste em considerar os nativos como serviçais, inteiramente à sua ordem.

Ele não admite, não entende, não compreende a reciprocidade sentimental, o convívio de raças, a amizade, o trabalho comum de valorização, porque lhe substitui um conceito de divisão e de luta, porque vê em tudo guerra social e subversão social.

Onde existe patente e expressiva solidariedade, ele tem de ver separação e apartamento, ou prognosticar dias aziagos de guerra civil.

Ele vem da pátria dos arranha-céus, dos pullmans, dos drug-stores, dos automóveis-barcaças e dos jactos e tem aquele choque originário do herói d'A Morgadi-