Também a comercialização dos produtos agrícolas reclama melhores atenções.

Será oportuno realçar, a este propósito, o apoio dispensado por alguns organismos corporativos e de coordenação económica a determinados sectores da produção. Conviria, contudo, que os esquemas previstos no II Plano de Fomento para a armazenagem dos produtos agrícolas conhecessem execução mais acelerada.

Mas onde as fraquezas da comercialização revelam igualmente aspectos agudos é na ausência de apropriadas realizações cooperativas e no deficiente espírito dos profissionais do comércio.

Este sector privado prolifera em intermediários, cuja avidez de ganância e o desconhecimento nas técnicas de actuação vêm a tornar mais dolorosa a sorte dos produtores agrícolas.

Recordo, a propósito da consciência social da função de intermediário, as seguintes palavras de Pio XII ao III Congresso de Distribuição de Produtos Alimentares:

Foi ultrapassado o tempo em que o comerciante podia conceber a sua função isolado, com o simples objectivo do lucro pessoal e, nesse medida, se dava à luta impiedosa da concorrência.

Actualmente prevalece justamente a concepção da utilidade social, do rendimento real de uma actividade em função das outras e, consequentemente, as melhorias trazidas ao maquinismo da distribuição convergem para o mesmo fim: aumentar o serviço prestado à comunidade. O lucro derivará daí como uma consequência normal.

Sr. Presidente: são, provavelmente, as classes médias agrárias as que mais duramente se têm ressentido das crises da agricultura.

Facilmente nos apercebemos de como em regiões do Norte e Centro do País se vem operando mesmo uma destruição destas classes médias.

Tal processo de aniquilação origina outras consequências além das de natureza económica. Projecta-se no plano social e político.

As classes médias agrárias têm constituído as elites do nosso mundo rural, decorrendo da sua existência e actuação uma função pedagógica, assistencial e moderadora de vastíssima importância. A elas se deve o enquadramento de populações mais modestas. Por seu intermédio se efectuou muitas vezes a renovação das elites que nos grandes meios ocupam postos de administração e governo.

Na lição salutar da terra e na fidelidade de gerações aos valores de trabalho persistente, respeito pelas hierarquias e sentido de dignidade humana forjaram-

- se caracteres onde a Nação se apoiou e os desvairos da cidade encontraram correctivo.

A redução das classes agrárias a uma situação de proletarização material mais contribuirá para acentuar aquela proletarização espiritual em que se debate o nosso pobre mundo.

Urge atender por todos os meios a problema de tamanha gravidade! A história julgar-nos-á um dia severamente se, proclamando certos princípios, não lhes soubermos dar efectiva realização.

Outra questão é a do recíproco alheamento que parece verificar-se entre alguns sectores da indústria e da agricultura.

Naturalmente que, ainda no plano de uma desejável aproximação, a principal palavra deveria caber aos interessados.

O progresso harmónico dos sectores e o reconhecimento de indiscutíveis complementaridades justificam-se não só à luz de rectas orientações sociais, mas ainda por exigências de ordem económica.

Poderíamos pôr à consciência dos nossos empresários da indústria, a este propósito, umas tantas questões:

Têm considerado o interesse e as possibilidades da industrialização dos produtos agrícolas?

Qual a contribuição que deram para o progresso técnico da agricultura, mormente através de facilidades em preços de adubos ou na mecanização das explorações ?

Têm-lhes merecido atenção os problemas do emprego nas regiões superpovoadas ? Como encaram uma possível desconcentração de indústrias?

A industrialização dos produtos agrícolas comporta variadas possibilidades, quer na extensão das unidades produtivas, quer nos sectores que dela podem beneficiar. O mapa que a seguir transcrevemos é elucidativo (cf., por exemplo, José Luís Sampedro. Princípios Practicos de Ia Localización Industrial):

Tem-se insistido em que a nossa adesão à Associação Europeia de Comércio Livre nos facilitará notórias vantagens a este propósito. De facto, como oportunamente se salientou, "a nossa agricultura, pelas suas características agro-climáticas mediterrânicas, encontra no bloco dos Sete condições excepcionais e ímpares de expansão, ao passo que no mercado dos Seis iria juntar-se a outras agriculturas de características homólogas, mas de desenvolvimento muito avançado".

Os estudos promovidos pela Secretaria de Estado do Comércio, relativamente à prospecção dos mercados