E nisto está uma evidente inversão, quando não subversão, de valores.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Depois não se tem presente, ou não se deixa entender que esteja presente, não ser a reorganização, por via da concentração, nem o único, nem o mais aconselhável, nem sequer o mais eficiente processo de reorganização.

E não é também o mais rápido... Procurou o Sr. Secretário de Estado da Indústria justificar-se da lentidão do processo e alertar-nos até sobre a demora que deve ainda haver, quando vão passados dois anos e meio sobre a data da sua posse.

Não seria necessário prevenir quantos conhecem a morosidade do processo, a relativa ineficiência das comissões, nem desconhecem o exemplo anterior de comissões e mais comissões nomeadas, com mais ou menos trabalhos concluídos, e por fás e por nefas sucessivamente deixados dormir o sono dos justos.

De 1945 para cá, estes quinze anos talvez sejam esclarecedores das dificuldades do método que em grande parte se há-de ter como de frustração corrente.

Acresce que, pelas contas e exemplos dados pelo Ministro da Economia na conferência de imprensa de há, aproximadamente, um ano, teremos de concluir que, se não modificarmos, de fundo, o critério da escolha das técnicas de produção, teremos de investir por ano em novos empreendimentos industriais mais de 12 milhões de contos, isto só para absorver os 20 000 braços que em cada ano se oferecem de novo.

Se lhe acrescentarmos os investimentos necessários para absorver os braços desocupados por obra e graça das concentrações reorganizadoras, teremos de concluir pela completa inadequação da política que parece ser a da actual Secretaria de Estado da Indústria.

Afigura-me-me, além disso, que, ao contrário do que sustentam as novas correntes da economia não socialista - o papel da concorrência é decisivo, se esta for assegurada em termos mínimos, e a dimensão não corresponde matemática nem sequer frequentemente à eficiência -, se está, consciente ou inconscientemente, a trilhar entre nós caminho que, por esquecimento daquelas e outras verdades, pode, mais dia menos dia, vir a forçar o recurso a fórmulas que a economia raro, justifica, mas a política, por vezes obriga.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É tempo de reflectir em tudo isto, é tempo de alterar processos e definir, com clareza uma política sem desconhecer as consequências que, com maior ou menor possibilidade, há-de vir a acarretar.

Não é esta a altura de me alongar nestas considerações, que talvez me veja forçado a retomar noutra oportunidade; por agora limitar-me-ei a acentuar que a reorganização da indústria de lacticínios constitui o exemplo típico do vício de uma orientação, do despropósito de uma política, do erro da visão de uma orientação.

No caso da reorganização da indústria de lacticínios, deverá acrescentar-se que, salvo eventualmente o aspecto peculiar dos Açores, não temos condições económicas para vir a ser exportadores de produtos lácteos o acentuar-se que se trata de um ramo industrial fora do campo competitivo aberto pelo acordo dos Sete...

Se alguém reflectir sobre o ridículo consumo de leite entre nós e considerar que antes de mais é indispensável elevar, algumas vezes, a nossa capitação, tanto por motivos dietéticos como em razão de ser este o destino mais remunerador do leite, facilmente compreenderá que uma reorganização em grande estilo, como se de coisas estabilizadas se tratasse, não pode passar de uma pretensão quimérica.

Vozes: - Muito bem!

sua finalidade e alienação dos seus direitos, para uma sociedade onde o fim é outro, os interesses são antagónicos e hão-de ter a maior dificuldade em responder às tarefas que se lhes impõem?

Tinha como pacífico que o essencial numa sociedade era a harmonia dos interesses, a homogeneidade dos fins, mas cuido ter agora descoberto que, afinal, este se pode basear - oh! milagre da técnica! - no antagonismo de interesses c na heterogeneidade dos fins...

Vem tudo isto a propósito do decreto que sofreu a ilha da Madeixa, mas também da Portaria, misto de doutrinária e de histórica, n.º 18 186, de 2 de Janeiro corrente, saída pela pasta da Economia, que, ao fim e ao cabo, conclui por anunciar a futura nomeação de uma comissão reorganizadora da indústria de lacticínios do continente e do arquipélago dos Açores. A ilha da Madeira foi descoberta noutra época... (Risos).

O seu texto contém variadas interpretações, que, por subjectivas, são mais do que discutíveis, assenta em pressupostos nem sempre demonstrados, incorre em algumas inexactidões e acaba por ser profundamente injusto para uma actividade sacrificada por isto e por aquilo, por tudo e por nada, mas sempre sacrificada e, para mais, incompreendida, e não raro ferida no seu brio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Assim, lamentam-se os 6500 contos despendidos com a exportação de manteiga, mas não se comentam nem os encargos com anteriores importações de manteiga, nem se lastimam as dezenas de milhares de contos que a lavoura é anualmente obrigada a despender a mais em homenagem à ineficiência de certas indústrias portuguesas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim, tem-se a concorrência, que parece ser o processo normal do sistema capitalista e tem sido a forma de defesa da lavoura desde que cessou o regime antinatural e antieconómico das zonas, como