cer argumentos aos inimigos de Portugal. E só por isso houve tanta diligência em dá-lo a conhecer à imprensa estrangeira e às missões diplomáticas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Alguém duvida de que este comunicado vai dar pasto sinistro a longos ataques contra Portugal? Alguém duvida do deliberado, propósito com que nele se emprega a expressão «administração colonial» e se lança o epíteto de «imperialista» sobre a política ultramarina portuguesa? Alguém duvida de que este documento vai ser explorado contra Portugal, pelos nossos mais rancorosos inimigos, em longos ataques a lançar da tribuna das Nações Unidas? E alguém duvida de que isso esteve na primeira linha de intenções dos seus autores?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Alguém terá a ingenuidade de supor que, no referente ao acórdão do(r) juizes da Haia sobre os territórios portugueses do Indostão, foi por acaso que os signatários falaram pela boca da União. Indiana? Não! Não foi apenas para efeitos políticos internos que se pretendeu minimizar essa vitória do direito sobre a força e o reconhecimento iniludível pela mais alta instância internacional dos nossos títulos de soberania. Não foi por acaso que se repetiu a argumentação improvisada pela União Indiana, depois de refeita do desespero que o acórdão lhe havia provocado. E não será descabido lembrar que, em toda a trama contra Portugal, aparece, de braço dado com os outros traidores, um tal Caracciolo Cabral, funcionário do Alto Comissariado da Índia em Londres; e não será também descabido lembrar o papel que a própria União Indiana vem desempenhando no insidioso ataque à Pátria. Portuguesa!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Essas campanhas de descrédito só deixarão de se fazer sentir perante um Governo que se disponha a retalhar a Pátria e a trair Portugal!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Será essa a eventualidade enxergada pelos signatários?

De qualquer modo, o que ressalta do comunicado é extremamente grave, nesta hora crucial da vida da Nação. Entre os Portugueses alguns traidores houve algumas vezes, asseverava o cantor das nossas glórias. E o certo é que a traição anda à solta, nesta hora cinzenta, neste medonho mar dos interesses e heresias que desvairam o Mundo. Mas a traição teve sempre um preço - em qualquer pátria e sob qualquer governo!

Sempre, nas épocas de crise da história do Mundo, ou das nações, a certos espíritos hão-de soprar, com maior ou menor vigor, os ventos da desorientação e da dúvida. E também a receptividade a esses ventos será maior ou menor, consoante a estrutura interior dos homens e dos povos.

Hoje, soprantes de desvaire e subversão, pretendem negar a própria verdade, trair soberanias, cortar de um golpe os caminhos abertos pela História, ao serviço da Pátria - para louvar a Deus! E em tais momentos não estranhemos se eles cruzarem os nossos próprios e experimentados caminhos.

É alucinante, nesta hora da História, a subversão de conceitos e valores. Chesterton - o predilecto e sempre rejuvenescido Chesterton - referia-se àquelas virtudes desvairadas que, deslocadas ou separadas umas das outras, causam piores males do que muitos vícios. E falava de G. B. Shaw, dizendo que tinha um grande coração, mas fora do seu lugar!

O Mundo de hoje, acicatado por hábeis criminosos, vai muitas vezes atrás de ideias que lhe apresentam como generosas, e, todavia, causam piores males du que muitas injustiças e revoltas e subversões. As virtudes entoleceram, e também o Mundo traz o coração fora do seu lugar!

O Sr. André Navarro: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: «Fora a política!». Foi este grito que serviu de título a um histórico artigo de António Enes, o vigoroso director de O Dia, espírito multiforme, que foi jornalista, dramaturgo, estadista, comissário régio e diplomata; homem de carácter, firme como poucos, fiel à sua pátria e às suas convicções políticas, exemplo singular de quem serviu devotadamente, nas horas mais ingratas, o interesse nacional.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Muito bem!

O Orador: - Nunca escolheu os postos; disciplinadamente, aceitava aqueles que o serviço da Pátria lhe ia destinando.

O editorial de O Dia de 9 de Fevereiro de 1890 - hoje precisamente se cumprem 71 anos sobre esse artigo - intitulava-se «Fora a Política!». Atravessávamos uma das crises mais difíceis da vida portuguesa, derivada dos eventos ultramarinos; a ameaça era constante; a conjura internacional da força e da mentira tentava, como hoje, enlear-nos de forma avassaladora; a crise política interna ia-se processando aos tropeções. Sem força, com o vírus das dissidências a corroer a união política, tornava-se indispensável um aviso viril e quiçá demagógico.

Tem tal actualidade o artigo de António Enes que não resisto a ler perante esta Câmara alguns dos seus passos: «Sacrifiquem ao patriotismo o seu partidarismo, que pouco sacrificam - dizia ele - e incorporem-se no movimento nacional sem intenções reservadas, sem programas de exclusão ou de demolição, sem gritos que afugentem condições alheias. Todas as bandeiras políticas se devem abater diante da bandeira da Pátria. Só seremos fortes sendo Tinidos e só poderemos ter união esquecendo-nos de que somos monárquicos ou republicanos, regeneradores ou progressistas, para só nos lembrarmos de que somos Portugueses!».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Era naturalmente qualquer coisa assim que o venerando Chefe do Estado esperava escutar dos comissionados.

Vozes: - Muito bem!