O Orador: - Não hesitam também os três da Oposição em se associar a vários Gaitandós, pondo em dúvida até a veracidade dos textos das decisões do Tribunal da Haia, decisões que tanto engulho causaram a um número, felizmente restrito, de traidores nascidos em paragens do Indostão. E, querendo completar o seu inqualificável acto, o trio representativo dá ainda o seu apoio aos ideais separatistas dos Galvões, não hesitando em manchar com os seus odiosos escritos os corpos, agora inanimados, desses admiráveis heróis da África Portuguesa, negros e brancos, que de peito descoberto souberam morrer no seu posto pela Pátria querida, como só portugueses de lei sabem morrer.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em suma, Sr. Presidente, pretendem esses oposicionistas fazer de novo a apologia de todos os miseráveis actos que, em épocas de um passado já felizmente morto, ridicularizaram e desacreditaram a Nação perante as democracias europeias e americanas. A bondade e atitude de íntegra independência do venerando Chefe do Estado, a quem rendo aqui as minhas respeitosas homenagens pelas suas lídimas virtudes e exemplar patriotismo, responderam assim os comissionados com um insulto da mais baixa propaganda e clara expressão do desconhecimento dos mais rudimentares deveres da civilidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Foi bom que assim se esclarecesse a posição dos três comissionados.

Assim saberemos já que do lado dos patriotas não alinhará jamais o grupo dos três e assim poderemos, mais afoitadamente, dar a mão a todos aqueles que, nasce ido neste sagrado torrão, desejem, até à morte, dar o seu sangue pela independência e integridade da patria lusa.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Sr. Presidente: mal se encerrara o triste episódio do Santa Maria logo a consciência nacional foi alertada pelos acontecimentos ocorridos na portuguesíssima província de Angola.

O nexo entre os dois acontecimentos é por de mais evidente para que possa passar despercebido aos espíritos mais cândidos ou ingénuos.

Conjuradas as tentativas de alteração da ordem e restabelecida a calma da população, logo surge na imprensa diária um comunicado de três oposicionistas, pelo qual, tão cedo quanto lhes foi possível, procuram enxertar-se na cadeia dos acontecimentos, não fossem perder o comboio, já que não haviam tomado o barco (risos). Triste sinal dos tempos!

Sr. Presidente: o episódio do Santa Maria já foi apreciado, cuido que até excessivamente, nesta Câmara, pelo que só dele me ocuparei na medida em que a conexão da atitudes e dos procedimentos a tal me obrigue.

Não posso, porém, deixar de acentuar que só nos diz respeito na medida em que a vítima do assalto foi um barco, propriedade de uma companhia portuguesa, que navegava em águas distantes sob a bandeira portuguesa e ainda porque, entre os assaltantes, alguns - mas em qualquer caso uma minoria - tinham nascido um Portugal.

O Sr. André Navarro: - Muito bem!

O Orador: - Em todos os outros aspectos mais diz respeito aos países em que o assalto foi preparado, em cujas águas territoriais e zonas de influência se deram os acontecimentos ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... às nações a que, nessas paragens, cumpre assegurar a defesa da liberdade dos mares, da segurança da navegação, dos direitos das gentes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os sofrimentos das centenas de passageiros, a angústia de toda uma tripulação, os prejuízos materiais e o sacrifício do sangue ficam a atestar como neste mundo em que vivemos se defendem as liberdades que se proclamam e como o culto do sensacionalismo e a tara da publicidade podem levar a minimizar os dramas humanos sacrificados à morbidez de uma opinião a quem sobretudo interessava apresentar o episódio do Santa Maria como o caso do século.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Seja como for, as repercussões internas e externas dos acontecimentos, as intenções confessais dos assaltantes, a estreita correlação que umas e outras guardam com as tentativas de alteração da ordem em Angola e, por fim, o bem expressivo comunicado dos três democratas comportam, porém, algumas lições e impõem, alguns comentários. E é isso que essencialmente importa neste amamento, e importa que se faça com clareza e sem reticências, já que o País atravessa uma das épocas anais difíceis da sua vida histórica.

Sr. Presidente: afirmaram os assaltantes ter a sua aventura um duplo objectivo - combater o regime político português e preparar a independência das nassas províncias africanas. E, mão fosse haver dúvidas, tão depressa se verificaram as tentativas de alteração da ordem em Angola, apressaram-se a apontar os acontecimentos como parte integrante da sua luta contra o regime político português

Assim, tudo fim claro, não fossem outros chamar a si as honrais de uma tentativa de desordem que fez correr sangue de portugueses, brancos e negros, vítimas do cumprimento dos seus deveres para com a função, e para com a Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Passo em claro a classificação e o juízo sobre uma atitude dessas, aliás desnecessários: a qualquer consciência bem formada.

Constatam os três democratas comissionados, baseados na, leitura da livre imprensa estrangeira - e em mais nada? -, constatam os três democratas a legitimidade do assalto ao Santa Maria - pois não têm eles a revolta política como legítima? -, legitimidade reconhecida pelos países intervenientes, e o desprestígio internacional do Governo, consequente destes acontecimentos.