O Orador: - Sr. Presidente: já me alonguei de mais - faltou-me o tempo para ser breve. É tempo de concluir.

Não o poderei fazer sem me referir a outra afirmação grave, de nítidos objectivos políticos partidários, que atinge o Exército, na medida em que se permitem afirmar não estar mais disposto a ser o sustentáculo da situação política.

Por esta afirmação pretende-se insinuar estar o Exército descontente com o Regime, mas também que o Regime era sustentado pelo Exército.

Que a situação política resultou de uma atitude do Exército, varrendo a desordem, em cuja nostalgia ainda parecem viver alguns respeitáveis democratas; que o regime político foi o resultado e a sequência de uma revolução militar a dar expressão aos sentimentos do País, todos o sabemos bem e o recordamos com satisfação na medida em que sempre vimos no exército português um reservatório de energias e de virtudes da Raça.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Agora que se pretenda com qualquer finalidade apresentar o exército português como sustentáculo de um regime, como elemento de facção ou mês no como partido político, isso é que tenho e reputo como ofensivo da sua independência, da sua dignidade, do seu orgulho e do seu brio.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não, Srs. Comissionados, o Exército nunca foi nem nunca pode ser uma facção - é sim a representação viva da Pátria, o garante supremo da sua, integridade, a sentinela vigilante da consciência nacional, a garantia da legitimidade da governação e do respeito pelas leis do País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O Exército não é, nem foi, nem será nunca uma facção ou um partido, um elemento de divisar, mas a expressão viva da unidade da Pátria.

Vezes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Daqui e neste momento devo, em desagravo pela ofensa dos comissionados, movidos por ódios mesquinhos e sem a consciência do respeito pelas instituições em que todos fiamos a defesa da Pátria, daqui e neste momento devo ao exerécito português uma palavra de vivo agradecimento pelo seu garbo, pela sua disciplina e pelo seu aprumo, pela firmeza com que sempre soube pôr acima de tudo os superiores interesses do País, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... pela galhardia com que sempre soube dar-se quando as fronteiras ou a ordem foram postai em causa, fosse por quem fosse, uma palavra de agradecimento e de serena confiança na sua unidade o no seu espírito, garantias superiores da unidade da Pátria, e do respeito pelos seus direitos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sirva-nos o seu exemplo, confiemos na sua alma - a alma da Pátria, espelho das suas virtudes depositária da sua consciência histórica.

Sr. Presidente: é grave a hora quê vive o País. Correu já sangue português de brancos e de negros, de europeus e de africanos, como há anos correu também de brancos e de amarelos, de europeus e de asiáticos, como no decurso de toda a nossa longa história tantas vezes foi generosamente derramado em defesa da Pátria e da Fé, dos direitos de Deus e da Pátria.

Bem pode acontecer que mais venha a correr ainda.. Recordemos os nossos heróis, roguemos aos nossos santos, lembremos os nossos mártires, e ao fazê-lo, e com o fazê-lo, firmemos no exemplo de todos e de sempre a serena, a intransigente, a decidida disposição de sermos iguais a eles, dignos do seu sacrifício e da sua fé, leais à Pátria e aos seus direitos, leais ao País e às suas responsabilidades, leais ao Governo e à sua política de obstinada defesa da nossa integridade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Caiam bandeiras, cessem questões de família, apaguem-se divergências de ideologia ou condição social, e todos como um só, como a Pátria, reunamo-nos em torno da bandeira do País, unamo-nos em volta do Chefe do Estado, símbolo da unidade da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Chegaram os tempos em que mais não é lícito dividirmo-nos sobre a melhor forma de servir a Pátria, chegaram os tempos em que o inultrapassável abismo se estabelece entre os que afirmam a Pátria e aqueles que a negam ...

É mister saber quem a nega, negociando-a, desprestigiando-a, prestando-se a ser elemento de intriga e tio divisão. É mister que todos assumam a sua responsabilidade perante a consciência nacional ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ...já que esta se definiu de forma inequívoca e indiscutível, e o sacrifício do sangue a cimenta já.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: usei nas minhas palavras da mesma independência e rudeza com que sempre me pronunciei mesta Câmara.

Falei a mesma linguagem da verdade que sempre usei, criticando ou louvando, apontando erros ou preconizando soluções, com a mesma independência, com a mesma rudeza, com a mesma verdade.

Pois é ainda com esse mesmo espírito que sempre e em todos os casos usei para com o Sr. Presidente do Conselho que concluirei dizendo-lhe, daqui e neste momento, que sei bem - e sabe bem o País - representar, simbolizar a intransigência da Pátria, serena e obstinada, firme e intransigente, à cobiça e à conjura contra a nossa integridade, que é como quem diz contra a nossa independência.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Acima de quaisquer divergências, fora de quaisquer preconceitos, Salazar simboliza neste momento histórico a firmeza da Pátria, a sua decidida atitude de intransigência.

Vozes: - Muito bem, muito bem!