O Orador: - Nesta hora os ataques que se lhe dirijam, os sofrimentos e amarguras que se lhe inflijam, dirigem-se assim à sua corajosa e obstinada defesa da nossa integridade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Com a mesma independência que sempre usei para com os problemas e a mesma clareza de linguagem, imposta até pela lealdade, que sempre usei para com Salazar, quero daqui e nesta hora dizer-lhe que tem o direito à nossa cabal solidariedade, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... à nossa completa dedicação e nossa dádiva total, que tem o direito a que o tenhamos como depositário dos nossos direitos históricos e o declare como encarnação viva da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Fiamos-lhe a defesa dos nossos direitos, sabemo-lo símbolo da nossa intransigência, segui-lo-emos na defesa da Pátria, mas pedimos-lhe também que aja com prontidão, dando forma e expressão à unidade nacional, propiciando o modo de melhor a corporizar e, desfazendo os motivos de desagrado ou de mal-estar, possibilite que a coesão nacional, tão viva e decidida quanto possível, possa encontrar meio de se realizar em impressionante unidade - por sobre divergências de credo, ideologia ou condição social -, unidade da consciência nacional que tem de exprimir-se perante o mundo que nos não entenda, o mundo que nos combata, o mundo que nos apoie.

Não lhe faltará o apoio dos Portugueses, já que os Portugueses nunca souberam trair a Pátria.

E adiante, que sempre soubemos ser dignos de nós próprios e nas horas cruciais da nossa vida encontrar os homens, as instituições e o ânimo para dar uma lição ao Mundo.

Pois daremos mais uma lição ao Mundo!

Vozes: - Muito bem, muito bem!.

O Orador: - Sr. Presidente: peço licença para ouvi ar para a Mesa a moção que; passo a ler:

A Assembleia Nacional, tendo vindo a seguir emocionada com o País as recentes tentativas de pôr em causa, o prestígio português no Mundo ou perturbar a ordem que reina em todos os nossos territórios, e a viver com natural preocupação as investidas contra, a integridade da Pátria, acompanha o Governo, e especialmente o seu Chefe, na sua serena, firme e intransigente defesa dos nossos direitos e expressa-lhe a sua viva solidariedade, segura de que exprime o sentir de todos os portugueses que legitimamente representa.

Ao mesmo tempo, tendo tomado conhecimento, pela imprensa, de um documento unilateralmente preparado por alguns elementos oposicionistas: exprime a sua repulsa pelo que representa de manifesto sectarismo e inqualificável incompreensão dos deveres que nesta hora incumbem a todos os portugueses; proclama perante o País a sua inalterável confiança no povo português, no seu espírito de unidade e na viva consciência das suas responsabilidades; reafirma perante o Mundo a sua inabalável disposição de defender a integridade do seu território, o património moral que gerações sucessivas criaram e engrandeceram, e presta homenagem ao venerando Chefe do Estado, símbolo daquela unidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Informo a Assembleia de que neste momento estão na sala 85 Srs. Deputados.

Certamente, a Câmara, pela atenção que dedicou à leitura da moção, dispensará nova leitura. Vai votar-se a moção apresentada pelo Sr. Deputado Camilo de Mendonça.

Submetida à votação, foi aprovada, por unanimidade.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: terminado com a nota oficiosa do Governo o incidente criminoso do paquete Santa Maria, logo se seguiram os assaltos e lamentáveis incidentes em Luanda, claramente destinados a provocar o sobressalto e a inquietação naquela província portuguesa. Ambos os acontecimentos já tinham merecido a veemente reprovação de alguns Srs. Deputados, com o caloroso aplauso da Assembleia. Mas creio que a Câmara fez bem em passar para além das intervenções singulares para afirmar, pela forma expressa por que acaba de o fazer, a sua atitude colectiva sobre os mesmos acontecimentos e sobre a actuação do Governo na inconcebível emergência.

E uma vez que a Câmara por unanimidade se manifestou, posso eu, e faço-o com o mais vivo prazer, felicitá-la pela moção em que traduziu os seus sentimentos e os do País. Foi para dar a minha inteira adesão a esses sentimentos que quebrei o silêncio em que devo manter-me enquanto a Câmara se não pronuncia.

Mas já agora, se a Câmara me permite, acrescentarei que, entre todos os gestos do Governo, merece ser salientada a referida nota oficiosa pela serenidade, em meio de tanta perturbação, pela perfeita noção das responsabilidades do Governo, pela moderação imposta a justos impulsos de indignação, em holocausto a preservar o essencial nos permanentes e superiores interesses do País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Esta lição merece ser posta em relevo, paia contraste flagrante e activai com certos desvairamentos inadmissíveis em que a paixão política pode lançar alguns espíritos e obscurecer-lhes lamentavelmente o verdadeiro sentido dos altos interesses da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Eles impõem a todos os que ainda a não renegaram, e independentemente dos métodos que julguem mais adequados à sua salvaguarda, uma estreita união e solidariedade, mesmo com sacrifício de pontos de vista pessoais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Porque, se a paixão política pode explicar certas atitudes, não pode justificá-las nem absolvê-las.

Vozes: - Muito bem, muito bem!