fizeram o Congo das estradas, das explorações agrícolas, dos hotéis, cos hospitais, das escolas, das fábricas, das cidades, da tudo o que é civilização e progresso. A lição deverá ter-lhe aproveitado exactamente por ter sido lição e exactamente por ter sido demasiado cara.

A Bélgica viu que já não há respeito pelo esforço honrado pela posse legítima, pela propriedade com justo título, e que alguns países, que se dizem democràticamente e anticomunistas, protegem ou aceitam a liquidação brutal das lídimas heranças do passado, violentando a história, a razão e o direito.

A Holanda, espoliada e maltratada, só se desejar parceiro na adversidade, o que não é crível nem é próprio. No mais, não possui quaisquer motivos para não com pretender o que somos e aquilo que não queremos ser.

Já não falo de outros países desta Europa, que já não era grande territorialmente e hoje a fizeram mais pequena pela cortina com que a dividiram, cortina exuberantemente mágica, tão mágica que do lado de lá tudo está bem e do lado de cá tudo está mal. (Risos).

A Turquia, por exemplo, só tem uma parte na Europa, e digo isto porque estou, neste momento, a falar da Europa e só da Europa, e tomou a atitude no Conselho de Segurança da O. N. U. de não querer que o seu nome subscrevesse a ignominiosa postergação dos princípios contidos na Carta daquela Organização relativamente à absurda queixa apresentada pela Libéria, a pudica e original Libéria, a propósito dos recentes acontecimentos de Luanda.

Por aqui, quer dizer, por via das acções ou omissões destes países, julgo que poderemos, até certo ponto, estar tranquilos. Mas eu também, no usar da palavra, não for bem para dizer isto ou só isto que desse. Pede a palavra, Sr. Presidente, paira formular designadamente algumas considerações acerca, da nossa actual posição em face da Inglaterra, dos Estados Unidos da América e do Brasil.

Todos nós, Portugueses, temos ouvido falar, desde que nascemos, da velha aliança. A velha aliança é, sem mais termas nem explicações, a de Portugal com a Inglaterra.. E todos nós. Portugueses, temos, também conhecimento de espaço:» vadios dessa aliança. Dos espaços vazios e dos mal preenchidos pelos Ingleses, pois a verdade é que a nossa existência foi algumas vezes amargurada por certas incompreensões e desvios unilaterais dos compromissos solenemente assumidos para connosco. Ultimamente, até, no caso do assalto ao Santa Maria, alguns reparos se formularam, que nos picam, como reticências muito agudas. Mas a Inglaterra sabe

que somos amigas leais e prontos e conhece os nossos métodos de nação multirracial. Ela sabe, porque tem convivido muito connosco, que sempre tratámos o homem português do ultramar como elemento real e efectivo da Nação, português sem qualquer distinção de cor, e que não foi preciso chegar a esta altura para que os negros de Angola ou os naturais de Timor fossem tidos e tratados como portugueses. Há séculos que a pele não lhes serve de certificado de nacionalidade. Nos Livros da Pátria um só documento foi e é contìnuamente registado - o da alma. A Inglaterra sabe tudo isto, e por mais embaraçosa que seja ou se tenha tornado a sua projecção para além da grande ilha ancorada a umas tantas milhas da Europa continental, mas com fundo na Europa, nada a deverá mover, nem as vicissitudes da sua política interna, contra a aliança com Portugal, mais a mais nesta hora, em que relampejam no sombra e às claras os punhais de Moscovo. A posição assumida pela Inglaterra em face da inqualificável queixa da inauditamente pura e casta Libéria faz-nos crer que a Inglaterra sente cada vez mais os superiores imperativos dos deveres da aliança que tem para com Portugal.

Assim o esperamos!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quanto aos Estados Unidos da América, a questão é mais longa e mais complicada:

Que é feito da China continental?

Como foi arrebentada pelo comunismo metade da Coreia?

Que se passou na Indochina?

A sublime intervenção americana no ca«o do Suez evitou, porventura, a criação da R. A. U., as suas ligações com a Rússia e a entrega da chave de uma das portas do Mundo a Nasser, que já a está utilizando com arreganhos de ditador?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Já arrancaram, porventura, o Tibete dos dentes aguçados do molosso chinês, que estremece de antecipado gozo digestivo?

Caxemira, a triste, não continuará preada pela Índia das castas, dos desníveis sociais, dos colonialismos internos, e sempiternos?

E esse Laos, onde a expansão soviética lavra com armas e bagagens, com vontade de não recuar um milímetro e de avançar os quilómetros todos, constituirá, de facto, um excelente produto da capacidade de previsão americana, do venerável poder da O. N. U. ou de qualquer mitra organização afim?

Na Ásia e na África, onde quer que a política externa da América do Norte tenha intervindo, como protectora e libertadora, os seus bons ofícios lograram, até hoje qualquer resultado útil?

Quem será o principal culpado da instalação dos Russos no meio da Europa?

Quem foi que não viu a tempo a ratoeira de Berlim?

Quem tolerou e não cessa de tolerar a sujeição de tantos povos à escravatura da Rússia comunista?

Quem, do lado do Ocidente, em nome de um anti-colonialismo eivado de sonhos e de erros e pretensões, tem feito tudo para que o verdadeiro Ocidente se demita de posições-chaves em puro e total proveito do comunismo russo e chinês?

Quem, do lado de cá da cortina de ferro, criou o clima propício à derrota por fases, à política suicida da retirada, do abandono, da demissão?

Vozes: - Muito bem, muito bem!