O Orador: - Não estou, Sr. Presidente, empregando palavras de rebuscada ou preciosa arquitectura nem estou deixando que o raciocínio se meta por entre nuvens, de modo que transpareçam subtilmente as razões em que me baseio.

uererem obrigar pequenas nações a aceitar normas e processos de intervenção estrangeira no domínio da sua vida interna, que é limpa e ordeira, quando se deixa grandes países fazerem o que querem dentro das suas fronteiras, mesmo que sejam as maiores opressões e atrocidades, é indecorosa cobardia ou rematada loucura.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Andar pelo Mundo a pregar a doutrina, de que a África é para os Africanos é renovar a proposição de que a América é para os Americanos, e isso importa, como tem acudido à mente de todos, o regresso do Pele-Vermelha à amplidão do solo de que foi esbulhado por rechaçamento e morticínio.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assumir o ar bondoso de pai solícito para estimular prematuramente ou desrazoàvelmente, erradamente em qualquer dos casos, partos de libertação de povos da África negra, quando, dentro de casa, se tem de utilizar a tropa e a polícia para que os estudantes de cor possam sentar-se ao lado dos estudantes brancos, não é só cair na mais descabelada das contradições, é agarrar a bel-prazer nos destinos alheios e jogá-los na bolsa dos interesses próprios ou ao sabor das incompreensões mais espantosas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Afinal qual é a verdadeira posição dos Estados Unidos da América em face dos problemas internacionais em discussão?

Realmente materialista e vagamente sonhadora, a concepção democrática da América do Norte habituou-se a não sair de qualquer guerra mundial sem pensar, desde logo, em instrumental a paz. (Risos).

Foi a Sociedade das Nações, que Deus haja, e agora a O. N. U., que não tardará muito a dissolver-se sob o mesmo epitáfio. É triste ter a gente de concluir que as nações não se entendem, nem jamais chegarão, assim, a entender-se. Convertida em paradoxal arma de guerra, a O. N. U. tem sido aproveitada pelo comunismo para as suas ofensivas de todo o estilo, até as de pé descalço, e, pelos dirigentes políticos da América do Norte, para um estranho processo de manobra, misto de reacções e cedências em relação ao bloco vermelho e de provas e negações de fidelidade em relação ao bloco ocidental.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Processo estranho que está por trás da inflamada independência do Congo Belga e nas raízes da catástrofe do ex-Congo Belga, que vota na intervenção da O. N. U. e deixa a O. N. U. debater-se na inutilidade da sua intervenção.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que se entusiasma verbalmente com a defesa dos direitos do homem e consente que se torturem e matem seres humanos, vilipendiando e desfazendo os seus direitos à vista de uma O. N. U. presente, mobilizada e armada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que pretende estar vigilante contra um inimigo implacável e procede de modo a ser corrido das posições que conseguiu ocupar e julga indispensáveis à sua sobrevivência; que fabrica ou ajuda a fabricar independências de povos na mira de lhes ganhar as simpatias e as perde a favor do inimigo à espreita.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que, não obstante, volta a procurar outras simpatias para os perder novamente; que não aprende com a desilusão de ontem a substituir-se à ilusão de hoje, e que tornará a iludir-se amanhã e sempre; que não entende o espírito dos que estão absolutamente sinceros e firmemente dispostos à luta contra o inimigo comum; que não se convence contra aquilo que o diminui e insiste na procura, de novos motivos de diminuição; que caminha de braço com teorias e experiências vãs e não olha para o vazio e para os destroços que as teorias e experiências deixam no rastro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que nem sequer mede a necessidade de se unir totalmente ao bloco ia que diz pertencer, pela extensa, profunda e activa coesão do bloco contrário.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ..., que obteve uma concessão de 835 000 ha, pelo largo período de 99 anos, com direito a escolher as terras para as suas plantações e de estabelecer para a mão-de-obra que emprega condições e retribuições de trabalho pouco ou nada recomendáveis.

Quase não vale a pena, como disse, lembrar o que é esta vestal república ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ..., pois nós todos tivemos já a curiosidade de vasculhar a sua história. Mas uma vez que estou tratando da questão em que ela tão inocentemente se quis meter, vejo-me forçado a amarrá-la à síntese de Pierre Grosset, que muitos portugueses sabem de cor e todos terão de decorar:

Intolerância, corrupção, demagogia, miséria, racismo, ignorância, esclavagismo - eis o espectáculo que a Libéria oferece, completado pela exploração cínica do negro pelo negro e pelo domínio,