por si, provocar alterações sensíveis nos condicionalismos básicos de que a coesão social depende». Realmente, assim é. E temos de concordar com a sua asserção de que o processo de industrialização, quando no seio do regime de livre empresa, não pode deixar de ser acompanhado, em termos de causa e efeito, «por uma difusão de espírito aquisitivo e de aspirações ao bem-estar material» - exactamente, Sr. Presidente., uma difusão que vai atingir iodas as camadas sociais, «Sendo as mais modestas influenciadas pelo contrato directo ou indirecto com os padrões de existência, em via de elevação incessante, das mais favorecidas». Vejamos, porém, que, ao mesmo tempo (assevera o Sr. Dr. Sedas Nunes), as nenessàriamente fortes exigências de poupança e de investimento que não deixarão de se impor à economia nacional, com vista ao seu próprio desenvolvimento, postas ao lado de certas deficiências estruturais - tudo isso leva, sem dúvida, a admitir que a expansão do consumo, popular difi cilmente poderá acompanhar o crescimento das aspirações das correspondentes camadas sociais. «É lícito, então, prever um processo de acumulação de insatisfações notoriamente desfavorável á coesão social. Mas sucede que os imperativos da reorganização vêm ainda, segundo parece, afectar mais intensamente esses condicionalismos...» - e são apontados vários argumentos e problemas para os quais me permito chamar a esclarecida, atenção dos prezados colegas que a possam dedicar a esse trabalho do Sr. Dr. Sedas Nunes que não citarei agora para não me alongar. Conclui o autor dizendo que, como é óbvio, cabem à política industrial e à política social papéis fundamentais no campo da resolução de tantos e tão agudos problemas. «Quanto à política industrial, o seu papel cumprir-se-á através, principalmente, da orientação e, coordenação dos estudos e projectos de reorganização de indústrias...».

Ora, Sr. Presidente, no que se refere a tais estudos e projectos e para que m ais rapidamente nos ponhamos em condições de enfrentar os próprios casos dos problemas sociais, decorrentes principalmente da reorganização industrial, preciso se torna que estudos, relatórios e inquéritos não se façam esperar e que muito urgentemente passem a constituir uma das estruturas postas ao serviço do Governo para as suas providências decisivas. E não resisto à tentação de citar aqui o que, na sua lapidar Linha de Rumo, escreveu o Sr. Prof. Eng.º Ferreira Dias Júnior, ilustre Ministro da Economia: «Tem mais de um século a ideia de fazer em Portugal inquéritos industriais; e, embora retomada frequentes vezes, neste longo período, com o Louvável intuito de orientar a política industrial do Estado, não creio que. dela tenha, saído até hoje um resultado francamente útil». Isto foi escrito em 1945. E vemos uma história dos inquéritos, desde 1814, ano este em que se tentou o primeiro inquérito com aspecto oficial, executado pela Real Junta de Comércio, Agricultura, Fabricos e Navegação, seguindo-se-lhe outras tentativas ou ordens de inquérito em 1839, 1852, 1800, 1881, 1889-1890, 1907-1912, 1916-1926, 1931 e 1941. E já em 1954, quando se publicou o Decreto-Lei n.º 39 634 (que regulamenta a Lei n.º 2052, a. chamada «lei de condicionamento industrial»), nele se fala. ainda da «ausência de inquéritos e outros elementos indispensáveis de estudo».

Pois bem, Sr. Presidente: o Conselho Económico, na sua reunião de 3 de Março último, ocupou-se já dos trabalhos preparatórios do III Plano de Fomento - e bem fez pensando neste assunto, mesmo sabendo-se que estamos ainda, praticamente, a uns quatro anos do termo da execução do II Plano. Encontramo-nos, como se sabe, em trabalhos de realização e publicação de inquéritos industriais, por distritos. Certamente iremos ficar com elementos mais vastos, que constituirão campo exploratório de maior interesse do que tudo quanto havia ou há para estudo de medidas algo adequadas às circunstâncias - embora o número de anos que decorrerão desde o ano de início ou de incidência dos inquéritos até à publicação das grandes sínteses em escala nacional não seja nada pequeno (nunca menos de cinco ou seis anos, talvez, o que é muito em conjuntura grave como a que estamos a atravessar). Claro que se dirá que, não havendo quase nada com relevância anteriormente, tinha de ser assim - o que fará dizer-se também, desde já: é pena que assim seja, pois estamos todos lançados numa corrida tremenda!

O primeiro distrito a ser inquirido foi o de Beja - incidindo o inquérito sobre o ano de 1957. E a respectiva publicação traz a data de Novembro de 1958. Por sua vez, o último distrito cujo inquérito está publicado é o de Braga e incidiu sobre o ano de 1959, trazendo a respectiva publicação a data de Janeiro já deste ano de 1961. Falta a publicação dos inquéritos dos distritos de Aveiro, do Porto e de Lisboa, os quais, havendo incidido, ao que se julga saber, sobre o ano de 1959, estarão public relativa que iremos ver. Se considerarmos os níveis de consumo e de consumidores de energia eléctrica (com exclusão da energia produzida particularmente), teremos os seguintes quadros: