violação dos mais elementares princípios chi moral internacional e teme agora, justificadamente, que desçam pesadas sombras crepusculares sobre a magnífica metrópole cristã ali implantada pelo espírito evangelizador do benemerente Portugal missionário.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Deveria o próprio Mundo em geral, congregado na torre babélica da O. N. U., se a esta não faltasse, desde a sua infeliz nascença, aquele suplemento de alma de cuja carência lhe' advirá morte precoce, corar de vergonha diante do assalto a Goa, em impudica transgressão dos regras mais essenciais do direito das gentes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Como é desolador, Sr. Presidente, o quadro que se nos antolha quando, no meio da angústia da agressão indiana, alongamos a vista sobre o desordenado panorama da vida internacional onde os dirigentes mais responsáveis parecem apostados em deixar esfumadas todas as notas de bom senso e onde as cores vivas são dadas apenas pelas tintas arrogantes dás audácias da força, sempre vitoriosamente sobrepostas' aos tons esmaecidos da timidez hesitante do direito.

Bem no-lo evidenciou, ontem, o Sr. Presidente do Conselho, na sua memorável e histórica comunicação.

A sua palavra autorizada timbrou, como sempre, ou talvez mais do nunca, em ser clara no rigor da expressão verbal e rigorosa na perfeição do ordenamento temático, fiel nu vinco dos traços. psicológicos dos homens e impecável na análise objectiva dos factos, lúcida na argúcia do discernimento e penetrante no vigor da argumentação ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -..., forte na afirmativa certeza, do valor imperecível dos grandes princípios essenciais da convivência entre os povos e serena na dubitativa confiança perante os maiores responsáveis pela sua aplicação, calma na comunhão mais profunda da Pátria sofredora e firme na fé inabalável sobre os destinos de Portugal, sem excluir a Goa portuguesa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A Câmara, lídima portadora da representação nacional e inteiramente segura de interpretar a vontade de todos os portugueses de lei, não pode deixar de aplaudir sem reservas as ideias aqui luminosamente expostas pelo Sr. Presidente do Conselho e partilhar com total identidade os sentimentos por ele patenteados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Outro escopo não visam as modestas considerações que me proponho formular.

Para seguir, quanto possível, o travejamento da comunicação governamental, desviar-me-ei um pouco da linha de rumo que poderá parecer ter sido definida ao iniciar a minha intervenção. Não farei, na verdade, mais nenhuma referência específica à zona de silêncio do orbe católico, então aludida.

Tal silêncio, para mais, tem talvez a escusa de que não é vulgar entre os fiéis um exacto conhecimento do mapa geográfico da sua crença, como não é seu forte cultural a ciência da história da propagação da Fé.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Eu, por meu lado, tenho a escusa de que, além de me ser difícil um esforço de síntese em fenómeno de sua própria natureza muito complexo, agora me interessa sobretudo o puro exame dos aspectos políticos do problema.

Não deixarei, todavia, de salientar comovidamente a onda impressionante das manifestações de fé patriótica e religiosa que, por causa de Goa, perpassou em todo o Portugal; como não deixarei de salientar merecidamente as nobilíssimas palavras de muitos dos nossos prelados, daqui e do ultramar, e os benemerentes desvelos do digno Núncio Apostólico em prol dos portugueses de Goa ou em Goa. Quero, de modo especial, fazer-me eco do grito de alma do Eminentíssimo Cardeal - Patriarca de Lisboa, no adro da sua vetusta Sé-Catedral, em noite inesquecível, diante do venerando Chefe do Estado e do povo da capital: «Portugal não morre, mas a perda da índia levar-lhe-ia parte da sua alma e do seu coração».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não deixarei também de renovar, pesaroso, apesar de tudo, por aquela zona de silêncio, o apontamento do temor que me vai na alma sobra os destinos da velha cristandade goesa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Deus sabe, na verdade, se, a despeito de conjecturas ingénuas e de palavras imprudentes que em sentido contrário tenham sido proferidas, a veneração dó grande S. Francisco Xavier, no seu agora nostálgico santuário, não irá em breve substituir-se a de alguma vulgar «vaca sagrada» indostânica, alimentada em qualquer prado famélico, vizinho dos monumentos com que a arte cristã dos portugueses enriqueceu as terras da Velha Goa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E Deus sabe se não virão ali suceder por completo, as verdades redentoras do tesouro doutrinário do catolicismo, as «infalibilidades» opressoras do ateísmo militante que é o marxismo ou, por outras palavras, da Igreja laica que é o partido comunista, como alguém já lhe chamou.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Terminado este breve apontamento, feito à laia de parêntesis, reverto, Sr. Presidente, à pureza da minha temática política.

Não irei repetir o enunciado das teses improcedentes e absurdas invocadas pelo pândita Nehru para fundamento aparente do seu acto de rapina. Além de conhecidas em toda a sua vacuidade, ainda ontem aqui foram, em síntese perfeita, claramente relatadas e certeiramente rebatidas pelo Sr. Presidente do Conselho. Assim, portanto, não me deterei na alegação do argumento geográfico, como se a geografia por si só determinasse direitos e houvesse, consequentemente, de