Depois ... depois os dois Governos, assim batidos pela tenacidade inquebrantável da Rússia Soviética, limitaram-se no desprestigiante platonismo de deplorarem a agressão! ...

Nem valeu, para a Inglaterra, o apelo às obrigações da aliança porque, embora a agressão estivesse qualificada como tal e dela estivesse sendo vítima a noção aliada, tais obrigações, ao que parece, foram consideradas inexistentes quando o agressor fizer parte do frágil Comunidade britânica! ...

Que outras excepções, se lhe convier, forjará amanhã a imaginação fabulosa do Governo de Sua Majestade?!

Sem menosprezar o ar sadio que soprou nas atitudes de correcta justiça e até de penhorante simpatia a nosso respeito tomadas por muitos órgãos da imprensa britânica e por muitos dos sérios valores da vida pública inglesa, haverá de dizer-se, como alguns afirmam, que os complexos da ala esquerda do trabalhismo vêm deteriorando o sector político de que foi egrégio chefe o Sr. Churchill ou, como outros pretendem, que a Inglaterra, não obstante as duras lições do nosso tempo, mantém vincado o traço psicológico que certas tradições populares lhe vinham assinalando?!

Ambas as hipóteses repugnam u minha inteligência, à minha sensibilidade e ao meu próprio conhecimento da mentalidade de alguns dos valores anglo-saxões.

Todavia, «dada a extensão da Comunidade e a agressividade e ambições expansionistas dos novos associados», entendo que «o Governo Português deverá - urgentemente estudar qual o conteúdo positivo que ainda resta da parte da declaração de Windsor de 1899, para, em face das conclusões, determinar a sua atitude futura quanto às obrigações existentes entre os dois países», como se preconiza na comunicação do Sr. Presidente do Conselho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nem valeu também, para os Estados Unidos da América, a consideração de que vêm desfrutando de bases militares nos Açores!

Sem esquecer, igualmente aqui, a reacção favorável da generalidade de opinião pública e de muitos elementos valiosos da vida política daquele grande país, dir-se-ia que os Estados Unidos se revelam, no conjunto do seu panorama político, uma nação plena e estuante de juventude e, como tal, ainda não perfeitamente ajustada à sua indispensável missão de Estado-piloto, responsável pela orientação do Mundo, e de modo especial do Ocidente, em meio do vasto e intrincado labirinto dos problemas da vida internacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se os Estados Unidos não se dispuserem a desempenhar eficazmente esta função de guia, será grave dano para eles próprios e para toda a metade- do Mundo donde não desapareceu ainda por completo a liberdade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No que especificamente agora se refere a Portugal, parece indispensável que o Governo, ao discutir-se o problema das bases dos Açores ou eventualmente de outras, coloque no prato da balança do do ut dês a indispensabilidade de um compromisso que amplie e .reforce o conteúdo da declaração norte-americana de 7 de Agosto de 1961, referida na comunicação do Sr. Presidente do Conselho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: não obstante o acabado de expor sobre os vícios da posição da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Ocidente em geral, na panorâmica infeliz da vida internacional, talvez Valha a pena reafirmar perante a Câmara os funestos erros da política de debilidade e transigências que vem sendo praticada perante a Rússia. Se a gentileza de V. Ex.ª e a benevolência da Câmara mo consentirem, reproduzirei aqui, a este propósito, palavras que tive ensejo de proferir noutro lugar e mantêm flagrante actualidade.

« Há menos de meia dúzia de anos, Spaak, então secretário-geral da N. A. T. O., criticava com vigoroso bom senso a emancipação apressada dos povos africanos, manifestamente impreparados para a chamada autodeterminação e consequente independência.

Sem embargo desta voz avisada, a política europeia e as pressões norte-americanas continuaram a ser no sentido permanente de cedências ...

Cedeu a própria Bélgica de Spaak. E foi ... o Congo, cuja lição trágica parece não ter ainda aproveitado aos altos responsáveis na condução do mundo ocidental, incapazes de encontrarem outra solução para aquela hemorragia que não fosse o. consentimento na panaceia de um «colonialismo belicoso» da O. N. U., segundo a palavra justa de alguém.

E assim, a jogar temerariamente com ilusórias palavras de nacionalidade, autodeterminação, direito dos povos, etc., atearam-se incêndios em terras secas de tradições nacionais e safaras de construções jurídicas estáveis. Com a precariedade das instituições, ficou tudo ameaçado de subversão, incluindo o que se supunha de mais duradoura raiz - as novas e, como se viu depois, frágeis cristandades africanas.

O Sr. Colares Pereira: - Muito bem!

segurança militar são indispensáveis; preconiza a apontada unidade política da Europa através de negociações dos governos, sem recurso ao princípio da autodeterminação, embora tratando-se de povos civilizados e multissecularmente independentes, mas advoga a multiplicidade da África, em nome desse mesmo princípio da autodeterminação,