apesar de se tratar de povos sem estruturas jurídicas capazes, sem quadros sociais suficientes, sem tradições profundas de soberania; pretende a segurança da Europa contra os russos-asiáticos, mas deixa que estes cerquem o «bastião europeus, colocando sob a fiscalização ou a influência deles, como acentuou um. lúcido comentarista, os Estados ribeirinhos do Mediterrâneo e do Atlântico.

Que melhor faria um mundo suicida?!

Eis porque, a acrescer aos nossos imprescritíveis direitos, importa ao Ocidente não deixar ou não fazer ruir o que ainda está de pé.

Se os Estados Unidos não acordarem a tempo para esta política de verdade, se não vierem a convencer-se depressa de que nada vale a unidade política da Europa com a América enfeudada às pressões afro-asiáticas e de que mais forte será a Europa das pátrias, com a América liberta de preconceitos antieuropeus no continente negro, então cair-se-á na longa noite africana, onde só brilharão as chamas vermelhas da barbárie e o fogo abrasador do comunismo, ajudando ao mais rápido incêndio de todo o Ocidente, sem exclusão da América.»

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A esta longa transcrição de mim próprio acrescentarei, Sr. Presidente, a seguinte apostila: o Ocidente, desde os graves aleijões da política do Ocidente em Yalta até hoje, quase só tem sabido praticar a política errada das transigências. Terá acordado agora?'! Só acordará quando for demasiado tarde? Conforme o vivo e saboroso dizer de um autorizado e corajoso crítico estrangeiro, suíço, que, sem intenção de desdouro, peço licença para referir, sé preciso, ainda que ele pertença aos direitos fundamentais do homem (...), não abusar do direito de ser idiota»!...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Será mister acentuar como, em flagrante contraste desta política de tibiezas, dúvidas, hesitações e comprometedoras transigências, foi timbre de Portugal uma política de equilibrada firmeza e de prudente bom senso na chamada questão de Goa?

Creio indiscutível que só duas orientações definidas se poderiam encontrar para o problema que nos foi criado pela cupidez da União Indiana: ou o caminho fácil, mas vergonhoso, da abdicação através de negociações, ou a via dura, mas nobilitante, da resistência possível em todas as frentes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A primeira solução era, de sua natureza, completamente impossível, salvo no respeitante a arranjos, naturalmente derivados, como sempre _da nossa parte se afirmou, das próprias relações de vizinhança. Mas negociar a própria transferência de soberania, quer abertamente, quer através do disfarce de uma suposta autonomia (bem mais frágil do que a então já existente de verdade), seria, torno a dizer impossível de todo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Estado da índia, conforme a justa observação do Sr. Presidente do Conselho, «não tem expressão sensível na economia ou na força política portuguesa». Ele é fundamentalmente, como diz ainda u comunicação governamental, «padrão de um dos maiores acontecimentos do Mundo e da comunicação do Oriente com a vida ocidental».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A nossa presença em Goa, Damão e Diu significa sobretudo a obediência a imperativos da história, respeito pelos direitos de uma cultura, reconhecimento das exigências de uma vocação universalista, manutenção de uma centelha viva da civilização cristã-ocidental no Oriente - tudo valores imateriais, imponderáveis numa balança de deve e haver, insusceptíveis de serem apreciados em libras ou dólares.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Iríamos negociar gratuitamente, oferecendo ao pândita Nehru, em salva, dourada, todos estes valores imateriais envolvidos num pedaço distante do território nacional e transferindo com este as suas populações? ! Negociaríamos em todo o caso, atribuindo arbitrariamente uma expressão numerária àqueles valores, incluindo talvez o próprio valor estimativo das relíquias de S. Francisco Xavier e do seu túmulo?!

Mas, Sr. Presidente, ou a mentalidade do Mundo dito civilizado está crivada de laivos materialistas, negando os maiores títulos de nobreza da própria civilização, ou tem de admitir como verdade inconcussa que se não tomam para objecto de negócio tais valores e, com eles, o brio de um povo, a honra de uma nação, a dignidade de um Estado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Acrescentarei que para nós, com direitos a defender noutras regiões ameaçadas pelas insánias do mundo moderno, a perversidade desta orientação me faz lembrar os qualificativos de um grande mestre de direito, no meu tempo de escolar de leis, à teoria social de Rousseau: não é apenas falsa; ó também perigosa.

Assim, até por exclusão, só havia, no terreno jurídico e no terreno político, uma hipótese possível] que foi a necessariamente seguida - resistir cora os propósitos é as finalidades lucidamente expostos na comunicação do Sr. Presidente do Conselho.

Vozes: - Muito, bem!

O Orador: - Deste modo, enfrentámos decididamente as pressões do isolacionismo ou bloqueio económico, obviámos eficazmente às provocações dos «satyagrahis», tornámos inoperante «a acção dos agentes subversivos», neutralizámos as «violências sobre as pessoas e os bens», cobrimo-nos com uma decisão favorável da mais alta magistratura jurisdicional de carácter internacional, determinámos não responder aos agravos, utilizámos, enfim, toda a gama de meios aconselhados por uma firme política de prudência e previdência - de tal modo que às ilegítimas ambições da União Indiana se deparasse, como viabilidade prática, apenas o recurso' à agressão, «com desprestígio do seu pacifismo e escândalo do Mundo».

Era de admitir que o pândita Nehru, na lógica da sua idiossincrasia racista e antiocidental e no pendor da sua dobreis visceral, chegado ao convencimento definitivo da inviabilidade de uma invasão aparentemente