pacífica, viesse um dia a determinar-se pelo uso da força, sem rubor de que o processo da violência lhe descobrisse a face de falso pacifista com que se fizera acreditar no convívio das nações. Para este caso extremo, o Governo - Português tinha preparado o seu diligente aparelho diplomático e o seu aconselhável dispositivo militar, em nível necessariamente modesto - certos como tínhamos de estar da impossibilidade de vencer a União Indiana sem apoio aliado (atenta a sua esmagadora superioridade em homens e em material e as demais limitações impostas pela distância do campo da luta e pela exígua profundidade do terreno). Era mister, apesar de tudo isto, defender o território contra a agressão armada, em luta que, não podendo, embora, ir além de alguns dias, demorasse o tempo suficiente para evidenciar ao Mundo a mentira do pacifismo do pândita Nehru e a ilegitimidade da ocupação e também para, antes do facto consumado, tentar demover «a paralisia da defesa colectiva» ou patenteá-la em toda a sua desastrada impotência, como veio a suceder.

Prestemos, Sr. Presidente, justa homenagem a todos os que souberam abnegadamente sacrificar-se e corajosamente morrer em defesa de «Portugal em Goa e de Goa portuguesa»!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - São eles mesmos que nos convidam a não esmorecer na continuação da defesa do Estado da índia ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... perante o Mundo das nações.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Na histórica, por muitos títulos, comunicação do Sr. Presidente do Conselho à Assembleia Nacional, está vincadamente traçado o caminho a se-

Nós não nos resignamos ao atropelo da moral e do direito. Nós não vamos olhar para Goa como quem sente o perfume de um frasco vazio». Lutaremos para que, não obstante os legítimos cepticismo sobre a condução da vida dos povos, a sociedade internacional ajude a reparar a moral, que ela própria reconheceu ter sido gravemente ofendida, e a repor o direito, que ela própria reconheceu ter sido gravemente violado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Confiamos, para tanto, na inteligência do Governo e, em especial, no génio e tenacidade do Sr. Presidente do Conselho ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... um gigante entre os maiores gigantes da história pátria; ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... confiamos na indispensável consistência social da Nação ; confiamos na esperança da conversão dos mais poderosos condutores dos povos ao perfeito sentido das suas altas- responsabilidades.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Verificados estes pressupostos, virá a hora ansiada em que- saudaremos, com o regresso da índia ao seio amoroso da Mãe-Pátria, a alvorada esplendorosa do renascimento da luz do espírito nas deusas trevas do egoísmo materialista do Mundo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Até lá, Sr. Presidente, um grande e vivo «Muito obrigado!» ao primeiro soldado de todas as (rentes em que se combate o bom combate por Portugal - a Salazar.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Veiga de Macedo: - Sr. Presidente: permita-me que renove a V. Ex.ª os protestos do meu mais alto apreço e da minha mais respeitosa admiração.

Sr. Presidente: a Assembleia Nacional faltaria no mais irrecusável dever se, nesta hora singularmente dolorosa para todos os portugueses, não definisse, consubstanciada com a Nação, uma atitude clara e terminante sobre a agressão perpetrada pela União Indiana contra Goa, Damão e Diu. Convenientemente esclarecida pela histórica e notabilíssima comunicação ontem aqui feita pelo Sr. Presidente do Conselho, esta Câmara pode agora, com perfeito conhecimento de causa, dar voz à sua indignação e repulsa perante a invasão dos nossos territórios do Estado da índia praticada por ordem de quem se tem arvorado em arauto da paz.

A União Indiana cometeu um crime que para sempre há-de manchar a sua história e marcará ignominiosamente o seu Primeiro-Ministro. Embora se proclame vitorioso, o pândita Nehru saiu derrotado nesta primeira fase da questão de Goa. Com um só golpe de guerra destruiu, na consciência dos homens de recto juízo, a aura de apóstolo da paz, de que tão cioso se mostrava, e abriu um precedente que, ao longo dos anos, bem poderá cair tragicamente sobre a própria União Indiana. Não será preciso possuir dom profético para ver desde já a enormidade do erro que o hipotecou ainda mais à Rússia e lhe há-de criar embaraços insuperáveis quando sobre alguns dos imensos territórios da União se fizer sentir o peso de conhecidas reivindicações.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Já Rabindranath Tagore escrevera: «Que a medida da grandeza da humanidade esteja nos seus recursos materiais é um insulto para o homem». Não causa estranheza que o Sr. Nehru ignore, ou queira ignorar, este conceito salutar, mas espanta não- ter previsto as consequências que para o seu país podem resultar da ofensiva que desencadeou contra nós, precisamente quando outros mais fortes, com ou sem fundamento, parece terem contas a ajustar com a União Indiana.

A ocupação de Goa, Damão e Diu pela força consumou-se. Mas Deus há-de permitir que a nossa bandeira volte a flutuar nessas terras indefectivelmente portuguesas vai para cinco séculos. Goa não se perdeu: está cativa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A Assembleia Nacional espera com confiança que o Governo execute, com energia e persistência, a política exposta clarividentemente na mensa-