gem do Sr. Presidente do Conselho. 12, nu verdade, nossa indeclinável obrigação lutar pelos goeses e por Goa, sem olhar a sacrifícios, como sempre fizemos desde Afonso de Albuquerque e S. Francisco Xavier.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não reconhecemos, nem reconheceremos o esbulho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Q Orador: - Não aceitamos a realidade do facto consumado. Não desistimos de ver a comunidade internacional a reintegrar a soberania portuguesa nos seus legítimos e imprescritíveis direitos. Não abdicaremos do uso de todos os meios lícitos para que inteiramente triunfe a nossa razão. Não nos rendemos; não nos renderemos. Agora dominados pela força bruta do número posta ao serviço do imperialismo indiano, saberemos aguardar a hora do resgate e tudo faremos para a merecer dos desígnios da Providência.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que o Governo continue a cumprir o seu dever, com a mesma determinação e a mesma fé, pois a Nação não deixará de cumprir o seu, cônscia da sua missão e da essência plurirracial do sen génio criador e aglutinador.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nem de outra maneira estaríamos à altura de quantos, com o sen sacrifico e o seu sangue, defenderam naquelas paragens sagradas, em doação generosa e heróica, a dignidade e o futuro da Nação.

Sabíamos de há muito que a O. N. U. é inoperante) e tem causado as mais sérias perturbações. A desorientação que nela tem reinado e os erros e desvios que vem praticando desde a sua fundação atingiram o ponto culminante com a questão de Goa. A posição que tomou equivalerá à sua autodestruição. A O. N. U. acaba de assinar, a prazo, a sua certidão de óbito, pois negou-se a si própria, numa demonstração cabal de impotência e numa exibição espectacular dos males que a corroeram e perderam.

O Mundo perante o caso de Goa teve, pela primeira vez em larga escala, a consciência disso e já não duvida de que se abriram, fragorosa e impudicamente, as portas para a catástrofe, a não ser que o Ocidente e, em especial, as nações mais interessadas na preservação do direito e d a moral, se predisponham - se acaso ainda vão a tempo - a dar viril testemunho do que querem e de quererem o que devem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Portugal tem sido escrupulosíssimo na observância das regras que presidem às relações entre os povos e, para não faltar aos compromissos internacionais, nunca mediu a extensão dos sacrifícios e dos prejuízos a suportar. Através das gerações, que encheram e glorificaram oito séculos de história, os portugueses sempre foram educados no culto da lealdade e da honra e, mais do que isso, no da amizade para com os países a nós ligados por vínculos jurídicos ou afectivos. Jamais violámos uma aliança ou um pacto.

A nossa tábua dos valores morais é imutável e válida para todos os domínios da vida pessoal, e social, bem como para a convivência com as outras nações.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - Por isso mesmo, somos anticomunistas no campo da doutrina e na prática. E se entendemos que a economia não é o único factor a explicar a evolução do homem através da história - se o fora, as realidades sociais teriam de considerar-se determinantes exclusivas da própria consciência humana -, assiste-nos o direito e o dever, na mesma linha lógica de pensamento, de denunciar como verdadeiramente marxistas, na inspiração e nos resultados, as atitudes dos governos das nações do Ocidente que, acima da ética, da dignidade e das normas superiores de conduta internacional, põem os interesses materiais, quer estes se exprimam em dólares ou em libras.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Estão do nosso lado razões muito fortes para nos sentirmos magoadíssimos com o Governo. Britânico, pois este eximiu-se ao cumprimento da nossa secular aliança, que teve «a devida contrapartida em vantagens concedidas por Portugal». Estamos convencidos de que o povo inglês, que sempre admirámos e estimámos, não sancionaria o procedimento unilateral e acintoso do seu Governo, se fosse caso de o consultar. O certo é que a violação se registou. Não protestar e não tomar as providências adequadas, além de constituir erro político, colocar-nos-ia numa situação pouco consentânea com os princípios que nos regem e com os inequívocos sentimentos do País, ofendido nos seus direitos afrontosamente postergados e justamente indignado por se ver traído na sua profunda e nunca desmentida fidelidade à Grã-Bretanha.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por outro lado, e apesar das claras mas improfícuas declarações na O. N. U. do representante dos Estados Unidos da América, não podemos conceber que esta graúda nação, membro, como nós, da N. A. T. O., se desprestigie com a sua política de contradições permanentes, hesitações comprometedoras e abdicações perante o colonialismo soviético. Os povos que abandonam os seus amigos acabarão por ficar sós e perigosamente expostos aos ataques do inimigo. E isto é tanto mais para lamentar quanto é certo que estão em jogo o direito de as nações orientarem os seus destinos e a liberdade de os homens disporem de si próprios.

Sr. Presidente: dessa tribuna, que nunca como ontem se me afigurou tão alta, disse o Sr. Presidente do Conselho que há hoje na índia um pequeno país despojado pela força dos seus territórios e às portas de Goa duas grandes potências também vencidas: a Inglaterra e os Estados Unidos da América.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Este é o drama presente: atinge-nos a nós, e muito fundo, porque chega à alma da Nação, mas ultrapassa-nos, porque abala a paz e a segurança internacional, e bem poderá ter repercussões apocalípticas para a humanidade.