O Orador: - Assim sente e sofre, ciosa do seu nunca desmentido e acrisolado patriotismo, aquela população alentejana!

Mas, alentejanos que somos - e as verdades têm que ser ditas -, devemos estar especialmente agradecidos por não haver gente da nossa província entre os renegados portugueses do assalto; todos sabemos que poderia ter acontecido que assim não fosse. E nem ficaríamos muito admirados. É que, pelo território de todo o Portugal metropolitano, por todos os seus distritos, sem excepção, a semente do mal vem de há muito a ser lançada e explorada, contrastando, frequentemente, o entusiasmo e desenvoltura dos que lançam essa semente daninha com a indiferença total, ou quase total, o comodismo, de todos os que tinham obrigação de saber opor-se!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Houve, Sr. Presidente e Srs. Deputados, ignomínia e desonra no gravíssimo atentado de Beja. Está a cidade isenta destes gravíssimos pecados, graças a Deus.

Mas naquela noite de pesadelo desenrolou-se o acto de um processo que está cheio de vilezas e aberrações, vilezas dos que atraiçoaram e aberrações no sentir daqueles que, envergando uma farda do nosso glorioso exército, perverteram o normal e único sentimento que pode viver no peito de um soldado de Portugal e, em cúmulo de vilania, pretenderam, não pela luta, mas pelo golpe traiçoeiro, substituir os honrados soldados de um quartel por um bando de dementados civis.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A cidade de Beja sofre por tudo o que se encerra no infeliz sucesso, já o disse, mas sofre, de forma particular, por ter acontecido que, lá, num momento de grande infelicidade, tenha encontrado a morte, ainda que em total dedicação à Pátria e com toda a honra de quem sabe cair no seu posto, esse valoroso soldado, dedicado e valente, que foi o tenente-coronel Jaime Filipe da Fonseca, ilustre Subsecretário de Estado do Exército.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Comovido e emocionado, daqui transmito ao Sr. Ministro do Exército e à família do heróico oficial a expressão do meu profundo pesar e a mágoa sentida por toda a população do distrito de Beja.

E não fora isto, Sr. Presidente, não fora esta perda, que se projecta no espólio moral da Nação - o Exército ficou mais pobre e Portugal perdeu nesta hora suprema um dos seus mais dedicados, decididos e fiéis servidores -, não fora esta perda e nós só tínhamos que tirar do acto hediondo algumas lições.

A primeira seria para colocarmos o caso de Beja integrado na própria conjura que feriu de morte, há poucos dias, as nossas terras de Goa, Damão e Diu.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Na Índia Portuguesa, ao lado do criminoso Nehru, esteve, desassombrado e enraivecido, o comunismo que, naquelas horas que precederam o ataque, instigou e encorajou os já ferozes desígnios imperialistas do Pândita. E, lá, o sangue português ensopou a terra generosa de Goa, Damão e Diu.

Agora, em Beja, correu sangue português mais uma vez.

Afinal e sempre, em Beja como em Goa, o mesmo inimigo, apenas com uma diferença: em Goa, actuou de fora para dentro e falou russo e inglês; aqui, actuou usando a língua portuguesa através de confessos agentes internos.

É o mesmo inimigo que está a pretender minar a retaguarda daquela primeira linha decidida e firme que salvou Angola, desta retaguarda que temos de tornar, verdadeiramente e depressa, numa outra primeira linha, porque a luta é de vida ou de morte.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E quem o desconhece? Qual o português que pode ignorar semelhante situação?

Há que fortalecer cada vez mais a unidade, mas há, também, que dar garantias firmes para que não possam acontecer intoleráveis diversões como esta de Beja,...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... que, além da intranquilidade e sofrimento para a família portuguesa, obrigou a desviar esforços que agora só podem e devem ter um fim exclusivo: dar coesão e força à nossa razão, a esta fortíssima razão de Portugal, que já fez ruir, perante o Mundo admirado, o falso pacifismo do odiento Nehru.

Nós compreendemos, Sr. Presidente, a oposição política ao regime que nos governa. Compreendemo-la e respeitamo-la quando a vemos filiada em diferenças ideológicas, mas sem discutir a Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas não compreendemos oposição à Pátria. Essa só tem um qualificativo: traição!

Que todos os portugueses, Sr. Presidente, mas todos sem excepção, os menos e os mais responsáveis, apreendam a hora gravíssima de Portugal e saibam ser dignos dela. E que cada um no seu lugar cumpra. É que a negligência ou a inoperância às vezes confundem-se com traição!