Sr. Presidente e Srs. Deputados: a segunda lição será de louvor e exaltação. Será para glorificarmos as nossas já sacrificadas e honradíssimas forças armadas.

São elas que estão a receber os primeiros golpes.

E recebem-nos dando, conforme Deus quer, ou o sacrifício máximo da vida, cobrindo-se de heroísmo, ou vivendo, às vezes milagrosamente, através do mesmo heroísmo.

Creio que posso deixar aqui, em nome da cidade de Beja, às forças que conjugaram esforços, naquela tristíssima noite do fim do ano, em volta e dentro do seu quartel, os agradecimentos de quem sabe que muito lhes ficou a dever. A cidade, ainda que não possa adivinhar o valor desse agradecimento, reconhece que ele é de altíssimo preço. Mas deseja a cidade destacar, entre todos os que deram tanto de si próprios, esse decidido e magnífico major Calapez Martins,...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... herói enorme das primeiras horas, em que sozinho, lutando contra tantos, resolveu os mais graves e definitivos problemas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E depois o capitão Camilo Delgado, seu companheiro decidido e valente...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ...na determinação de recuperar o quartel. São dois distintos oficiais do regimento de infantaria n.º 3, um natural de Beja e outro seu filho adoptivo pelos laços fortes do coração. Haveria ainda a destacar o telefonista de serviço, valente e esforçado, mas dele não consegui até agora saber o nome.

O Sr. António Santos da Cunha: - O que é pena é que ele não tivesse sido dado à imprensa.

O Orador: - Até fiz um telefonema para Beja, mas responderam-me que não dariam o nome antes da conclusão do inquérito.

Admito que possa ter abusado em algum sentido, que não no conceito em que tenho esta nobilíssima Casa, trazendo, desde já, a esta tribuna e antes do conhecimento de inquéritos, o nome dos dois esforçados oficiais do regimento de Beja; mas o sentimento de gratidão que senti vivido por toda a cidade imperou e penso que os seus nomes ficam bem nesta sala de Portugal, que ficam bem, ouvidos aqui, ao lado do nome já saudoso do malogrado tenente-coronel Jaime da Fonseca. E sinto mais: que me honro e que cumpro, no acto, a mais elementar justiça.

A gratidão é um sentimento que faz parte da idiossincrasia portuguesa e Beja sabe quanto ficou a dever, na noite do fim do ano de 1961, a quem tão alto levantou o nome do exército português; sabe quanto ficou a dever a essa organização que é honra e glória de Portugal.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Valente de Carvalho: - Sr. Presidente da Assembleia Nacional: são para V. Ex.ª os meus primeiros cumprimentos e as minhas maiores homenagens, pois,

sendo V. Ex.ª um dos elementos de maior valia na política da Nação, é-me muito grato aqui nesta sala, onde se reúnem os valores que o eleitorado entendeu por bem escolher para discutirem e defenderem os seus legítimos interesses, prestar a V. Ex.ª o meu profundo respeito e a mais alta consideração, congratulando-me sinceramente em ser presidido pela vossa eminente figura de tão alto relevo na vida nacional.

Srs. Deputados: são para VV. Ex.ªs os meus amigos cumprimentos e o pedido de pacientemente me ouvirem por uns escassos minutos, para que se não causem.

Prometo-lhes solenemente que não usarei de floreados na retórica e tão-pouco palavras vazias de conceito, mas sim garantir-lhes que falará o coração de um velho militar que só diz o que pensa e é escravo do dever e da profissão.

Tratarei assim de três factos dolorosos que se verificaram durante o período de férias do Natal.

1.º caso: o nosso Estado da Índia. - Nehru e a sua quadrilha fizeram-nos um roubo à mão armada, e fizeram-no encobertos num falso pacifismo e com o olhar complacente, porque não dizê-lo, de nações que tanto e tanto devem à nossa lealdade e boa fé e ainda ao nosso auxílio desinteressado em defesa da civilização ocidental, civilização essa que os nossos guerreiros e missionários de antanho levaram a tão longínquas paragens com a cruz e a espada.

A Pátria, que sofre na sua carne, e o sangue de seus filhos que já correu, são para nós os penhores seguros de que devemos lutar, lutar sempre, para vingarmos os que se sacrificaram e procurar reaver o que fraudulentamente nos tiraram.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Procedendo assim, seremos dignos desta mesma Pátria e mostraremos ao Mundo o que é a honestidade de princípios, o que são as virtudes militares e o que é o respeito pela propriedade alheia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... os que assaltaram traiçoeiramente o quartel do regimento de infantaria n.º 3, mas sinto-me no direito de verberar o acto miserável praticado por indivíduos, infelizmente portugueses do nome, mas internacionais de alma,...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... alguns até envergando uma farda, que na sombra da noite, com a ajuda nojenta e cobarde de dois ou três elementos da família militar, a que felizmente já não pertencem hoje, por decisão oportuna de S. Ex.ª o Ministro do Exército, assaltaram um quartel.

Vozes: - Muito bem, muito bem!