O Orador: - Para quê? Para, contando com outros assaltos do mesmo género, em locais diferentes, instaurarem em Portugal um regime de que eles seriam, estou certo, as primeiras vítimas.

Quando os que combatem em Angola e os que estão vigilantes em defesa do solo pátrio em outras províncias de Portugal precisam da nossa união, eis que aparecem elementos sem alma portuguesa, agindo torpemente e guardando nos seus corações o rancor e o ódio pelo homem a quem tudo devem, quer o sossego dos seus lares, quer até o seu sacrifício permanente por uma Pátria que estremecemos.

Há, meus senhores, que estarmos vigilantes, não actuando só com palavras, mas sim também pelas acções, pois os movimentos subversivos não pararam com este caso passado em Beja, pois estão em movimento também os atentados pessoais, as traições, e até, porque não dizê-lo, apoiados financeiramente por indivíduos que têm um pé aqui e outro ali, para assim se garantirem, esquecendo-se, porém, de que também há candeeiros e balas para eles.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - 3.º caso: a morte de S. Ex.ª o Subsecretário de Estado do Exército. - S. Exa., a quem aqui nesta Assembleia presto a minha maior e saudosa homenagem, caiu no campo da honra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A sua alma de tenente, o dever do seu alto cargo, o seu brio e pundonor, a sua inalterável lealdade e o amor profundo à farda que envergava levaram-no ao campo de combate, onde, de um lado, se actuava em campo descoberto, e do outro, a coberto de edifícios assaltados pela calada da noite, e caiu varado por uma rajada de metralhadora, arma esta talvez de marca estrangeira, clandestinamente introduzida no País, como tantas outras, para liquidarem os portugueses de lei que se batem pelos sagrados interesses da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Honremos e glorifiquemos pois a sua memória, e que o seu nobre gesto seja por nós seguido quando disso houver motivo.

Concluo, Sr. Presidente e prezados Colegas, estas minhas sinceras e modestas palavras, ditadas pelo coração amargurado de um português que sofre, como VV. Ex.ªs, o doloroso momento e que, afinal, a nossa fé inquebrantável nos destinos da eternidade da Pátria é, para nós, um lenitivo e incitamento para nos agruparmos em pensamento e acção em volta de SS. Exas. o Chefe do Estado e o Presidente do Conselho, para assim vencermos a batalha que nos impuseram.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Resta-me proferir com toda a minha alma de português e combatente estas últimas palavras: bem haja, Sr. Presidente do Conselho, pelo seu mais que magistral discurso lido nesta Assembleia Nacional no passado dia 3, que traduz, pelo profundo conhecimento que V. Ex.ª tem do povo português, o que ele

sente e sofre quando os inimigos e os falsos amigos pretendem amesquinhá-lo ou lhe roubam ignominiosamente o que é muito seu.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumpimentado.

O Sr. Henrique Tenreiro: - Sr. Presidente: como militar, como Deputado, como português, não podia deixar de dizer algumas palavras sobre a tentativa de assalto ao quartel de infantaria n.º 3, em Beja.

A gravidade desses acontecimentos não pode ser encarada pelo seu volume, nem pela sua extensão, mas apenas olhando ao momento presente, em que todos nós vivemos surpreendidos pela estranha evolução da vida internacional, que atinge directamente os nossos mais legítimos direitos.

Só um bando de traidores, indiferentes ao prestígio de Portugal, poderia tentar um golpe subversivo a dar eco às intrigas e aos ataques que ultimamente têm partido com a maior insistência do exterior, num momento em que todos os bons portugueses vivem recolhidos num sentimento de tristeza e luto emocionadamente impressionados pelos acontecimentos de Goa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Este procedimento, na hora que estamos vivendo, comandado por terceiros, numa tentativa de demonstrar lá fora que Portugal não está unido e, principalmente, que os portugueses discordam da política do Governo - um ataque desencadeado assim e nesta altura, sem outro objectivo que não fosse o de fomentar a intriga e a discórdia junto das esferas exteriores, cada vez menos firmes e mais confundidas -, não pode deixar de considerar-se como crime de alta traição à Pátria.

O Sr. André Navarro: - E que, como tal, deve ser punido.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Foi precisamente a coesão das forças da ordem, do Exército, da Guarda Republicana e da Polícia, e as enérgicas medidas tomadas pelos Srs. Ministros do Exército e do Interior que fizeram gorar rapidamente um plano que deve ter levado imenso tempo a concretizar, com o financiamento e o apoio facilmente desmascarado com a origem estrangeira das moedas encontradas nos bolsos de um dos assaltantes, que tombou varado pelas balas da nossa defesa.

Essa coesão das forças armadas, de que é exemplo nobilitante a decidida e corajosa acção do major Calapez...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... e dos soldados que o acompanharam, deita por terra a intriga que os traidores e o partido que eles servem pretendiam mostrar ao Mundo como um exemplo a dar razão às potências estrangeiras que consentem ou tomam a iniciativa de invadir os nossos territórios.

Vozes: - Muito bem!