O Orador: - Enganaram-se os que pensavam encontrar muitos mais que os acompanhassem nessa tentativa.

Em vez disso, viram-se perante uma força de resistência insuperável. Viram-se esmagados pelas armas dos bravos soldados portugueses, que sabem distinguir as cores da sua bandeira.

À frente dos nossos soldados colocou-se, espontaneamente, com o maior espírito de sacrifício, numa demonstração do mais alto sentido do dever, o Subsecretário de Estado do Exército, tenente-coronel Jaime da Fonseca. Quis aquele oficial ir pessoalmente observar e actuar junto das forças da ordem para que, rapidamente, fosse aniquilada a intentona que teve por objectivo o quartel de infantaria n.º 3.

Por infelicidade, vítimma do seu heroísmo, o tenente-coronel Jaime da Fonseca expôs-se de mais e encontrou a morte numa rajada traiçoeiramente disparada pelo inimigo.

Como amigo e admirador do distinto oficial, não podia deixar de levantar a minha voz nesta Assembleia para prestar homenagem à memória de um português, um militar na verdadeira acepção da palavra, exaltando essa figura de homem, de nacionalista e de patriota que não hesitou em expor a sua vida de maneira a perdê-la, dando provas de uma grande dedicação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Neste momento, em que está em jogo a integridade da Nação, todos os portugueses devem despojar-se das suas queixas, dos seus desgostos e dos seus interesses para se consagrarem exclusivamente à Pátria,...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... seguindo o valoroso exemplo daquele oficial, e poderem enfrentar, todos unidos, aqueles que pretendem derrubar-nos, dividir-nos e, principalmente, destruir o nosso sagrado património nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Chegou a altura de terminarem as contemporizações.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É o momento de estarem bem firmes as mãos dos que dirigem para podermos, internamente, trabalhar em descanso, progredir e acudir às prementes necessidades do País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O povo, todo ele, necessita do apoio amigo, mas firme, dos governantes, pois sem isso não será possível sentir as boas obras e as medidas tomadas para o progresso de Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Soou a hora de cerrarmos fileiras ao redor dos nossos chefes, afastando do caminho todos os que, por comodismo, incapacidade ou divergências políticas, possam dar a falsa ideia da desunião e discórdia entre os portugueses.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Só assim poderemos evitar que sejam atraiçoados os sagrados direitos da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Mário Gallo: - Sr. Presidente: tristes e lamentáveis acontecimentos enlutaram Portugal e os portugueses ao findar do ano de 1961. Eles foram magistralmente comentados, na sua origem, nos seus efeitos e nas suas consequências, pelas palavras do Sr. Presidente do Conselho que anteontem aqui tivemos a honra de escutar. Foram as hordas da União Indiana que invadiram os nossos territórios de Goa, Damão e Diu, nossos de mais de 400 anos, e os bravos defensores daquelas longínquas parcelas da pátria lusa não podiam deixar de «ser esmagados pela força bruta do agressor, que, contra um punhado de homens que de antemão sabia serem mais que valorosos, não hesitou em lançar ataques maciços das suas forças de terra, mar e ar.

Mais uma vez o sangue português correu na terra de nossos maiores e, apesar da existência de uma organização internacional, utòpicamente criada, em pleno século XX, para evitar a guerra e as agressões, perante a indiferença de governos amigos, ou falsamente amigos, o aplauso de inimigos poderosos e a impotência de verdadeiros aliados, assistimos confrangidos, desiludidos e torturados a uma tentativa de espoliação do que legitimamente nos pertence, do que nunca a ninguém extorquimos, de territórios e de gentes que só em paz queriam viver, e só um torrão para si e para seus filhos pretendiam para sempre também só conhecer: a pátria única de todos os portugueses.

Correu sangue lusitano no Portugal ultramarino ao findar o ano de 1961, e logo no alvorecer do ano de 1962 mais tristes, dolorosos e também lamentáveis acontecimentos vieram enlutar lares portugueses do Portugal metropolitano.

Na hora em que é hábito e costume juntarem-se as famílias para festejar o alvorecer do novo ano, nesta hora em que, desta vez, os corações lusitanos se encontravam amargurados e contritos perante os penosos acontecimentos da Índia, houve maus portugueses que quiseram perturbar a paz da nossa terra e que não hesitaram em aproveitar o dia e a hora que julgaram mais oportunamente servir a sua triste missão de traição à Pátria, para assaltar um quartel, numa tentativa de espalhar a perturbação e o desassossego.

Mas não foi ainda desta vez que os inimigos da nossa Pátria viram coroados de êxito os seus cruéis desígnios. O serviço de ordem foi corajosamente posto alerta, e, passados os primeiros momentos de surpresa, imediatamente entraram em acção os meios necessários para dar combate e aprisionar os traidores.

O tenente-coronel Jaime da Fonseca, ilustre Subsecretário de Estado do Exército, prevenido telefonicamente em sua casa do que em Beja se estava passando, não hesitou um momento em se dirigir àquela cidade para tomar parte directa na acção que se desenrolava, e que ele, com o seu espírito militar íntegro e justo, não podia deixar de condenar e combater com todas as suas forças.

O lugar de comando que ocupava aconselhava que não expusesse a sua preciosa vida aos azares da luta que se estava travando, mas ele, que não podia admitir a traição, não se resignou a ficar encerrado num