Conselho de Estado, que, numa oferta integral, ofertou os seus preciosos bens - os da inteligência, os morais e os do coração - a este país, que, numa hora feliz, interpretando o sentir nacional, elegeu V. Ex.ª para presidir ao mais alto órgão da Representação Nacional. Quero também saudar com respeitoso apreço o antecessor de V. Ex.ª, Sr. Conselheiro Albino dos reis, e também do mesmo modo saúdo o nosso ilustre colega representante da Índia Portuguesa, essa Índia insubmissa que há-de regressar ao lar paterno para se cumprir por inteiro, para se realizar Portugal.

Vozes: - Muito bem!

viveu e vive a Pátria horas negras, das mais longas que lhe foi dado viver, no seu devir histórico, preso à argamassa dos séculos.

Horas prenhes de escuridão e tortura, todas feitas de vigílias, de combates e de sangue!

Há crepes por todo o País, como os há nesta Câmara, o órgão mais elevado da Representação Nacional e que, comovido, se inclina em rendida homenagem à morte indevida, mas gloriosa, de seus filhos!

Goa, Damão e Diu, as mais brilhantes constelações do céu sem mácula da melhor epopeia portuguesa; Goa, Damão e Diu, pedaços de história viva, arrancados ao bronze da eternidade, após uma luta desigual, caíram sob a pata ignominiosa do colosso indiano!

A paz, o direito, a justiça, a determinação de um povo que é português e que só português quer ser; os direitos de uma Carta que se chamou das Nações Unidas; tudo isso foi vilipendiado por um crime sem escrúpulos, que não tem par nos anais da história contemporânea!

Tivemos de ceder ante o peso m ilitar dos inimigos e frente à cobardia, à fraqueza, à mentira execrável dos amigos, paralisados pelo mais abjecto veto da nossa época.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: tudo o que aconteceu revela, porém, que, nas horas graves, Portugal só pode contar consigo próprio.

Todavia, nós nada perdemos, porque mantivemos intacta e impoluta a afirmação de uma política multirracial, numa civilização ocidental e cristã que a força bruta da agressão revelou não ser uma definição falsa ou apressada, mas todo o substrato de uma política coesa, verídica, cheia de rigor lógico e que se vem desenvolvendo, com a maior exactidão, num plano multissecular.

Nós nada perdemos porque de nada abdicámos; com o heroísmo dos nossos soldados, dos nossos marinheiros, reafirmámos o direito de usarmos, hoje como ontem, o nome bendito de portugueses!

Ao contrário, a Índia, ganhando geogràficamente os nossos territórios, tudo perdeu.

E se o Estado Português da Índia era um espinho na carne indiana, de agora para o futuro sê-lo-á e ainda mais acerado, não só na carne mas também na alma desse povo bárbaro, que só sabe ser forte com a desproporção das suas forças.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: o tribunal da história há-de julgar Nehru, esse homúnculo de meias calças, como o maior criminoso do século XX, pois esse foi já o veredicto da consciência humana, revoltada por uma guerra sem dignidade, apoiada no ódio racial e na ilimitada ambição de um homem pela sevícia do poder. O caso de Goa serviu para demonstrar no Ocidente de que lado sopram os colonialismos e qual o verdadeiro sentido que lhes deve dar.

Serviu ainda para verificar todo o desarticulamento de um mundo putrefacto, que, agarrado às saias do medo, finge acreditar nas coexistências e nos pacifismos dos maiores belicistas do nosso século.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Deu-nos ainda ensejo para observarmos como se salpica de lama uma das mais antigas alianças!

Mas Deus seja louvado, porque nos dá também a oportunidade de exigirmos dos nossos amigos e aliados que fixem os limites dos seus pactos; e, se eles não se aplicarem a todo o espaço português, tal como o define a Constituição, tenhamos a coragem de os abandonar, porquanto, sós ou com novas alianças, queremos ser os únicos senhores dos nossos destinos!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas para que a Nação persista, para que se mantenha tudo o que é português, indispensável se torna que a frente interna se revigore, que a unidade nacional prevaleça.

Desta forma, neste momento em que a Pátria sangra, qualquer divisão da família portuguesa, qualquer aventura interna, tenha que objectivo tiver, é crime execrando que a consciência nacional não perdoa, porque equivale à mais autêntica e abominável traição.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Cerremos fileiras, colmatemos as nossas brechas, orgulhemo-nos das nossas forças armadas e, fornecendo-lhes os meios militares que a situação exige, mobilizadas todas as energias da Nação, rasguemos no crepúsculo sombrio dos nossos dias as vias que hão-de fazer retornar à Pátria os pedaços lusíadas do Indostão!

Vozes: - Muito bem, muito bem!