É que não somos tão ricos de valores já preparados ou preparáveis que possamos dar-nos ao luxo de lançar ao abandono sucessivas gerações de jovens que ali estão a perder-se para tal ensino e sem possibilidades de serem encaminhadas para qualquer outro, dado o condicionalismo económico-social que afecta, entre nós, o recrutamento da população escolar no ensino comercial, industrial e agrícola.

Os quase 700 km do concelho, em boa parte de terras difíceis, são de per si insuficientes para o sustento, em vida digna, dos seus 60 000 habitantes, em números redondos. E é aos jovens que a vida se mostra mais agreste. Para vencê-la, vão bastantes em demanda de melhor fortuna a outras terras e outras gentes - Venezuela, França, Canadá, etc. -, vão outros em busca de misteres e ofícios que na região não encontram em condições de justiça, social e de apetrechamento conveniente.

A todos oferecerá a escola de ensino técnico a solução desejada: melhor preparação para das actividad es locais extraírem resultados compensadores que lhes evitem a debandada e o consequente desenvolvimento que a todos abranja, sem necessidade de uma emigração fatalista, que a todos imponha ocupações indeferenciadas.

O concelho do Fundão aguarda, pois, esperançoso e confiado, que o Sr. Ministro da Educação Nacional lhe faça a justiça há tanto prometida.

E para que a demora se não posponha à decisão ministerial, que desejamos seja breve, já a sua Câmara Municipal, num esforço e diligência que só merece louvores e tem de apontar-se como exemplo, escolheu o terreno destinado à construção do respectivo edifício, tendo-o já sujeitado à apreciação das entidades que no caso superintendem. Tudo a postos, pois.

Esse escolho está vencido.

Que outro não inutilize o trabalho que tal representa, assim o esperamos.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Carlos Alves: - Sr. Presidente da Assembleia Nacional: o luto e a dor instalaram-se nos nossos domínios, apostados em experimentarem a têmpera dos nossos sentimentos. Duros são os dias de provação por que estamos passando. Em toda a parte, porém, onde palpita um coração de português, ele tem mostrado como sabe chorar, lutando, como sabe morrer, honrando a sua qualidade de ser português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Goa, Damão e Diu foram invadidos à ordem de Nehru, animado pelos empresários da subversão, autores de crimes perpetrados em plena Europa, crimes impunes, sem julgamento nem sanção, neste mundo de hoje, avassalado pelo medo e pelo pânico.

Nehru pode agora ufanar-se da posse física da Índia Portuguesa. Pode dispor das terras, dos bens materiais e dos corpos das gentes dominadas. Mas o que não poderá nunca, dominar, em tempo nenhum, é a espiritualidade da civilização ali implantada, pois, aconteça o que acontecer, ela há-de pairar sempre sobre as terras e sobre as coisas que falam de Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Guardo no peito as sensações da inauguração desta legislatura, a oitava na sua seriação e a primeira na ordem das minhas comoções. O que senti, naquele momento solene, o mais alto da Representação Nacional, é alguma coisa que vibra e se projecta para além das disputas por que os homens se perdem. O que eu senti é chama viva que se apreende em recolhimento. A presença de uma afirmação sacrossanta, que só poderá sucumbir com o expirar do último sopro lusíada.

Sr. Presidente: com saudações mui respeitosas, rendo a V. Ex.ª as homenagens da parcela mais representativa do Mundo Português, Angola,...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... ainda há pouco tempo progressiva e esperançosa, hoje talada por mãos criminosas, armadas no estrangeiro. Quem dirige estas palavras a V. Ex.ª é um natural da província martirizada, um angolano que ama a sua terra como o minhoto ama o seu torrão natal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Um angolano que fala português pensa em português e sente como português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Desse lugar de honra, donde concilia ideais de todas as tendências, emana um poder de tal magnitude, que vejo em V. Ex.ª, e na cadeia dos presidentes que o precederam, o símbolo da própria Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por isso creio firmemente que, através de todas as vicissitudes, ela persistirá para além da demência do mundo actual e da fraca fé das suas gentes.

Srs. Deputados: não esquecerei tão cedo o dia solene desta legislatura, a que tive a dita de assistir. Se na pessoa do Presidente da Assembleia eu figurei a imagem da Nação, na presença do Chefe do Estado e seu Governo VI a imagem da Pátria, sobrepujada pela bandeira das quinas, que avolumaram no meu coração os sentimentos de amor e de veneração que nele residiam.

Pátria e Nação, conceitos que destaco de propósito para discernir sobre eles, não para os discutir, nobres como são na sua essência e por isso mesmo inatacáveis, mas para os pôr em confronto com as novas interpretações que pretendem dar nos locais onde os aborígenes permanecem fiéis à bandeira portuguesa, pelo coração e pelo sentimento, e não pela imposição da força, como querem fazer crer os industriais da autodeterminação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nado e criado em Angola, eu sei da boa índole dos chamados aborígenes, da sua docilidade e do seu pendor para amar Portugal. Sei da fragilidade do seu sistema tradicional de vida, do anseio que o impele para um sistema melhor. A povos esparsos, divididos por rivalidades fundas que entre si nunca mais acabariam, não foi difícil abraçar a Pátria Portuguesa, como meio de salvação, simbolizada pela bandeira das quinas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!