O Orador: - Nestes termos, formulo um apelo ao Governo para que crie as condições necessárias ao prosseguimento da campanha de recuperação psicossocial,...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ...à sua rápida extensão a toda a parte onde se encontrem forças armadas metropolitanas, para que chame à colaboração com o Exército os organismos civis capazes de o prestar e, finalmente, para que ponha à disposição do público, pelos meios normais de informação, com mais vigor e amplitude do que até aqui, tudo quanto com a mesma se relacine.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Este último ponto é de capital importância, por isso que há quem pretenda e faça crer aos simples que o nosso Exército está a cometer atrocidades em Angola, procurando com isso minar as resistências morais da Nação. Pasma o arrojo, a baixeza do ataque dessa gente, mas é preciso saber responder-lhe com a mesma rapidez e agudeza com que fere o brio nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: cumpre-me terminar esta breve intervenção com uma palavra de louvor ao Exército, por mais uma vez estar à frente de um movimento que com certeza conduz o País no trilho da honra, da paz e da prosperidade. Faço-o gostosamente, na minha qualidade de luso-angolano e de eleito por um círculo que nessa gloriosa instituição conta com elevado número dos seus melhores filhos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Olívio de Carvalho: - Sr. Presidente: ao erguer pela primeira vez a minha voz nesta Assembleia cumpro o grato dever de saudar V. Ex.ª e de lhe render as minhas homenagens de vivo apreço, alta consideração e maior, respeito.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: pedi a palavra para falar da juventude. Como educador, conheço a responsabilidade que me cabe na tarefa de acção educativa que o Estado me confiou. Não posso, por isso, ficar indiferente aos problemas que afectam este importante sector da actividade nacional. Importa salvar uma juventude que tem sido injustamente acoimada de pecados que, em boa parte, lhe não pertencem. Culpa, e não pequena, têm-na também os pais, os professores, as famílias, a sociedade e as instituições.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não vou deter-me na analise das causas da chamada "crise da juventude", rótulo que é costume estampar na fronte da gente moça como acusação grave aos seus delitos, impulsos, irreflexões ou desvarios. Não farei a análise dessas causas, que são múltiplas e variadas, mas denunciarei alguns aspectos, que explicam atitudes e comportamentos tantas vezes incompreendidos, para que uma tomada de consciência faça despertar os responsáveis pela educação da mocidade e possa levá-los a abrir novos caminhos por onde sigam com coragem e confiança aqueles que, porventura, se encontrem transviados ou perdidos nas encruzilhadas que levam à negação e ao desespero.

No julgamento que, de ânimo leve, se faz, tantas vexes, do comportamento da juventude, residem erros de perspectiva, que inibem os julgadores de procederem com a necessária clarividência, baseando em causas aparentes, e não verdadeiras, a origem dos males condenáveis.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A juventude de hoje é, no fim de contas, a juventude de sempre, com a revelação de tendências, manifestações e impulsividades inerentes à própria idade e condicionadas pelas fases evolutivas o crescimento, possuidoras dos mesmos defeitos e virtudes afectos à natureza e condição humanas.

Quem conheça alguma coisa dos períodos de desenvolvimento físico e intelectual da criança, com as inevitáveis crises que o jovem tem de vencer para atingir o último estágio da adolescência, compreende melhor o desequilíbrio funcional que se opera mais acentuadamente em almas a quem faltou o amparo amigo, a palavra orientadora, o conselho prudente do pai ou do professor.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O jovem é o homem em formação e, como tal, é depositário de qualidades e defeitos do próprio homem. Idealismo, amor ao próximo, sentimento da justiça, espírito de sacrifício, amor da verdade, são sentimentos que no jovem atingem um grau muito mais elevado que no próprio adulto. Mas quantas vezes à nobreza destas qualidades se misturam momentos de irreflexão, actos de desespero, assomos de impulsividade, que se exteriorizam em rasgos de protestos ou reacções violentas que a pureza dos seus ideais procura justificar?

Apreciado à luz de uma mentalidade formada inevitavelmente pela diferença das épocas que o condicionalismo dos tempos criou em nós, o comportamento da juventude é, muitas vezes, interpretado apriorísticamente como sintoma de anomalias ou aberrações que a nossa sensibilidade de homens reflectidos pela idade e temperados pela experiência reprova, condena e castiga sem o julgamento sereno e ponderado das causas determinantes desse comportamento.

A juventude é sempre do seu tempo. A sua formação resultou essencialmente da acção educativa de pais e professores, da família e da escola. Por isso, as gerações que deram o ser a outras gerações são naturalmente responsáveis pela forma como elas se comportam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Acusar a juventude de não corresponder ao que era de esperar dela é negar a acção dos seus educadores, é condenar os princípios que informaram o espírito dessa juventude.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os jovens de hoje vivem o ritmo apressado da sua época e não toleram demoras na realização