Fomos atacados e roubados por Nehru, que, governante de um país onde a cultura, aliás precária, é privilégio de poucos, onde a profilaxia social é um mito, onde as mais estranhas doenças anualmente reduzem a invalidez ou ao pó da incineração milhões de vidas ainda em flor, enxergou nos prósperos enclaves portugueses um sarcasmo gritante arremessado à fronte orgulhosa da sua sinistra figura de estadista que, mais cedo ou mais tarde, há-de encontrar no caminho a rocha Tarpeia onde se despedace e se esfume a mórbida ficção da sua glória.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas ontem, hoje e sempre, Nehru será formidavelmente acusado por um coro de milhares de vozes que ele supõe caladas para sempre, mus que para sempre estarão vivas na imortalidade da glória, clamando aos séculos que, por cima das ruínas da velha Goa, Portugal reviverá.

Nos pedras morenas das fortalezas, no murmúrio das preces cristãs, na inspirativa matinada dos sinos, Portugal permanecerá.

Na ladainha dos palmares, na orquestração das florestas, no beijo melancólico e prateado das ondulações marinhas, há-de ouvir-se o cântico de Portugal.

Vozes: - Muito bem, multo bem!

O Orador: - Na névoa dourada do passado, na sombra viva das nossas grandezas mortas, no espectro alucinante dos nossos soldados, Portugal não morrerá.

Na valentia dos nossos heróis, ao longo de 451 anos de esplendor, a alma de Portugal, refulgente como as estrelas, vibrante como a aleluia das manhãs, fremente como os anseios imaculados da sua história, há-de continuar a compor a o sinfonia incompleta* do seu sonho imortal.

E após esta execrável campanha, transudante de hipocrisia e de incompreensão, que agora volta a assestar as suas armas contra a nossa portuguesíssima província de Angola, ainda somos vilipendiados pela Organização das Nações Unidas, que, perante as mais premeditadas, as mais bárbaras, as mais sangrentas agressões do nosso tempo, ....

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... mostra a sua inépcia para lhes pôr cobro, para ressarcir os danos causados e restituir à justiça o ceptro que, violentamente, lhe fora roubado.

O mundo ocidental, comodamente inactivo, consente e paga nas Nações Unidas o maior ludíbrio do nosso tempo e ao vandalismo destruidor de vidas, de lares e de civilizações opõe, ingénua e timidamente, a força inofensiva das palavras e dos protestos diplomáticos ...

Até quando é que a O. N. U. continuará a desiludir-nos?

Até quando sobreviverá o seu artificioso verbalismo, logo seguido de quietude prática, de ineficiência manifesta, de dolorosas contradições?

Até quando é que a O. N. U. se mostrará inerte perante os atentados contra uma Hungria mártir e, em contrapartida, os seus agentes, no Katanga, bombardeiam hospitais, votam-se à pilhagem e cevam os seus instintos animalescos na carnificina de povoações indefesas, de frágeis mulheres e de crianças inocentes?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Até quando é que a O. N. U. se mostrará impotente para fazer respeitar as sentenças do Tribunal da Haia, que à sua sombra fora criado?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se não pode sair deste marasmo estiolante de lago estagnado, amarrada a um mecanismo processual que a transforma em árbitro de vacuidades, de farsa e de comédia, então será mais honroso e digno que essa sociedade se declare falida e ordene ao seu secretário que, procedendo a liquidação de contas, abra a praça para adjudicação do passivo, já que no balanço do seu património nenhum activo se encontra contabilizado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que se abra a praça para vermos se a O. N. U. sente o rubor da vergonha por nada de útil ter feito para salvar a Hungria, para libertar a Polónia e demais países escravizados da Europa Central, para unificar a Alemanha, para apaziguar o Congo, Cuba, o Laos, o Vietname, a Coreia e a Argélia.

Que se abra a praça para vermos se a O. N. U. sente um assomo de remorso por ter deixado esmagar Goa, Damão e Diu e, em trágica compensação, alentar os bandidos que atacaram Angola.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que se abra a praça para que, perante u consciência universal e o juízo da história, os povos pequenos venham reclamar os seus créditos por servirem e auxiliarem os grandes e, pelos grandes, insolventemente terem sido abandonados.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E depois de encerrada a praça que se cancele nos registos do Mundo o nome de uma sociedade que o desagregou, que o empobreceu e, teimosamente, lhe demarcou o caminho do suicídio.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Pressinto, Sr. Presidente, que sobre a O. N. U. pairam sombras funéreas e se difundem tábidas vaporações de cemitério.

Sr. Presidente: atravessamos uma fase decisiva da nossa história e, por isso, torna-se necessário sacudir o País de lês a lês, chamá-lo à consciência das suas responsabilidades, aproveitar todos os valores e consolidar, por todos os meios ao nosso alcance, a unidade da frente nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A hora que passa não se coaduna com letargias, com miragens coloridas, com platonismos estéreis e improdutivos.

O inimigo não dorme.

Rondando com garras de rapina as nossas províncias ultramarinas, lacrimejando como os saímos em certos órgãos da imprensa estrangeira, crocitando fatídicos presságios pelos areópagos internacionais, o inimigo redopia, espuma, contorce-se as claras, a vista de toda a gente, com pregões de lúgubre publicidade.