O Sr. Burity da Silva: - ... considero que essa ideia é importantíssima e, sem dúvida nenhuma, o Governo, terá de encarar a solução do problema da unidade nacional, a solução do nosso problema multirracial, começando justamente nesta base, e só assim deixará de haver falta de técnicos em qualquer parte do nosso território, e só assim deixarão de escassear os elementos necessários e se servirá a unidade nacional, havendo uma distribuição e redistribuição dos técnicos necessários por toda a parte na base do interesse nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Estou inteiramente de acordo.

Vou terminar, fazendo apenas mais uma ligeira observação, que corresponde afinal aos comentários feitos pelos meus ilustres colegas à solução do plano nacional.

Quanto ao interesse nacional, é óbvio que a primeira respeitaria o actual divórcio entre as províncias do ultramar e as da metrópole, o que, pessoalmente, considero condenável, enquanto a terceira garantia uma salutar fusão de todos, os quadros ao nível nacional.

Será esta última solução difícil de pôr em prática? Sem dúvida, acima de tudo pelos interesses privados com que se iria chocar. Mas exequível; tão exequível como o foi no caso dos serviços meteorológicos nacionais, em que o problema se encontra perfeitamente resolvido.

E note-se que a solução se poderia perfeitamente alargar aos quadros de outros serviços técnicos. Mas esta terceira solução apresentaria sobretudo uma extraordinária vantagem de ordem nacional. Pela interpenetração de todos os quadros conseguia-se constante contacto e portugueses com todas as terras do mundo português, e pela «injecção» de mais ultramarinos na metrópole muito se contribuiria para tornar Portugal mais unido, mais sólido e mais português.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Teles Grilo: - Sr. Presidente: na primeira intervenção que tive a honra de fazer nesta alta Câmara e em que me debrucei sobre alguns problemas suscitados pelo texto da lei sobre o emparcelamento da propriedade rústica, agora em discussão, expendi a opinião de que deveria o Governo considerar 2000 ha para emparcelamento no distrito de Vila Real, dos 6000 ha previstos, para o mesmo fim, em todo o País, até 1964.

O Sr. Presidente: - V. Ex.ª está a falar na ordem do dia ou antes da ordem do dia?

O Orador: - Estou a falar antes da ordem.

O Sr. Presidente: - E que me pareceu, pelo início, que V. Ex.ª estava a falar sobre matéria da ordem do dia.

O Orador: - Há uma certa relação com a ordem do dia, mas é fora da ordem.

O Sr. Presidente: -Eu deixo V. Ex.ª continuar provisoriamente.

O Orador: - Estava a fazer esta segunda intervenção porque tinha prometido tratar deste assunto, mas como a matéria não cabia no tempo da primeira intervenção, esta é uma espécie de complemento daquilo que disse.

O Sr. Presidente: - Faz favor de continuar.

conjuntura, nem sequer chegar para cobrir as despesas de cultivo! Recorde-se que a batata está agora a ser vendida a $70 o quilo, e menos, pelo produtor, quando se sabe que esse quilo lhe custou l$10 na terra!

Mais eloquente índice de derrocada total não pode ser revelado!

É a ruína, pura e simplesmente.

Ruína do agricultor e sua família; ruína da lavoura e da sua economia; ruína de todas as restantes actividades da região, visto dependerem fundamental e permanentemente da boa ou má situação dessa lavoura, a qual, por sua vez - e nunca é demais repeti-lo -, depende hoje, quase em exclusivo, do rendimento da batata.

São várias as causas deste verdadeiro descalabro. Mas vale a pena enunciá-las, pois do seu conhecimento resultará uma melhor compreensão das soluções que nos propomos defender, com vista a pôr-lhe cobro a prazo mais ou menos curto.

O começo do deplorável estado a que se chegou deve ir procurar-se, antes de mais, àquele período de irreprimível euforia que a cultura da batata experimentou durante a última guerra e alguns anos, poucos, após ela.

Batata de semente a 5$, 6$ e 7$.

Batata de consumo a 2$, 3$ e mais escudos! Era um autêntico maná! E foi uma longa corrida de esperança para o revolver de prados, onde antes se fartavam gados, para o desbravar sôfrego de serras e vales, onde até ali apenas vegetavam urzes, estevas e carqueja!

De um dia para o outro, como por sortilégio raro, surgiram extensos batatais nos terrenos mais incríveis! Todos jogavam a sua grande cartada! Mas, na enganosa miragem de lucros fartos e imediatos, ninguém reparou que lhe faltavam os trunfos precisos para ganhar essa partida sem contestação.

E deu-se o inevitável!

Extintos os últimos rumores da guerra, desaparecido pouco a pouco o excepcional condicionalismo de várias ordens que ela determinara, retomado o fio da normalidade em todos os sectores da vida económica, financeira, social e agrária do País, logo se tornou patente