que os milhares de hectares que o Norte submetera à cultura da batuta não tinham qualquer viabilidade económica de se manterem adstritos a tal cultura, pois, de um lado, a procura baixou verticalmente, por falta de mercados consumidores e importadores, e, do outro lado, a concorrência do Sul, com a possibilidade de duas colheitas anuais a preço de custo muito inferior ao do Norte, ali estava para afirmar, com inteira razão, que, se nada mais surgisse na cena da produção e comércio da batata, ao Norte só restaria cruzar os braços sobre a cabeça e deixar-se ir ao fundo como um vulgar símio!

E foi. E está no fundo!

Mantendo, teimosa e erradamente, um nível de produção carente de mercados certos que lhe garantissem escoamento; nada fazendo para minorar o custo dessa produção, necessariamente agravado pela utilização de métodos de cultura e trabalho pouco evoluídos e sobretudo pela utilização, em muitos casos, de terrenos inaptos para essa espécie de cultura; debatendo-se, os resultados obtidos nas experiências realizadas em 1941, em grande parte das regiões agrícolas do País, sobre a cultura da beterraba sacarina.

Esses resultados, que S. Ex.ª o então Secretário de Estado da Agricultura, Sr. Eng.º Agrónomo Quartin Graça, recolheu e apreciou mini trabalho publicado pelo Ministério da Economia, em 1942, e intitulado A Beterraba Sacarina, puderam autorizar as conclusões, abaixo insertas, que vamos transcrever de um artigo publicado no Notícias de Chaves, em 1 de Junho de 1957, sob o título «A Crise da Batata - Elementos para a Sua Possível Solução», da autoria do engenheiro agrónomo Alfredo Sebastião Alves, que, ao serviço dos problemas agrícolas da região flaviense, donde é natural, tem posto o melhor da sua atenção, do seu esforço e dos seus vastos e seguros conhecimentos técnico-profissionais.

Eis as referidas conclusões: As mais elevadas produções unitárias médias foram observadas em Braga (52 106 kg/ha), Vidago (51 415 kg/ha), Mirandela (47 757 kg/ha) e Viseu (44 555 kg/ha);

b) A maior riqueza sacarina média das variedades estudados foi observada em Viseu (25,10 por cento de sacarose) e Vidago (25,01 por cento de sacarose), vindo logo a seguir Braga e Mirandela, respectivamente com 21,50 por cento e 19,68 por cento de sacarose; c) Conjugando estes dois elementos, verifica-se que a maior produção média de sacarose por hectare, que é aquilo que mais nos interessa, neste momento, foi observada em Vidago (12 859 kg), vindo logo a seguir, por ordem decrescente de produção, Viseu (12 206 kg), Braga (11 203 kg) e Mirandela (93 99 kg).

E isto significa, finaliza o citado artigo, sem grande perigo de errar pelo facto de os números se reportarem apenas a um ano de experiência, que são as regiões do Norte do País as mais aptas para a cultura da beterraba sacarina, evidenciando-se de entre elas, e em primeiro lugar, Vidago, ou, o que é o mesmo, todas as áreas do concelho de Chaves e limítrofes, com- características agro-climáticas semelhantes.

E isto significa, concluiremos nós, que à data em que se iniciassem os trabalhos preparatórios do plano de emparcelamento a levar a efeito na veiga de Chaves deveria, concomitantemente, proceder-se aí aos ensaios e experiências tendentes à determinação do índice de produção média de açúcar, pois estou certo de que os resultados seriam de tal modo concludentes que haveria de ser a Junta de Colonização Interna a primeira a advogar, com entusiasmo, a global submissão da área em referência à cultura da beterraba sacarina.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E estou mais certo de que a esta primeira fase da operação, em que apenas seriam objecto de emparcelamento cerca de 1000 ha, logo se seguiriam outras, encorajadas pelo êxito alcançado por aquela.

Teríamos, assim, que desde logo ficariam desafectados da cultura da batata os referidos 1000 ha, aproximadamente, aos quais poderia juntar-se a superfície de outras áreas resultantes do emparcelamento a levar a cabo no vale de Aguiar, do vizinho concelho de Vila Pouca de Aguiar, ou noutras zonas próximas, a considerar, nesse ou noutros concelhos.

Ora, tomando por base apenas aqueles 1000 ha - e isso facilitará a elaboração de futuros cálculos -, e sabido que é de 15 000 kg/ha a produção média da batata na região, logo se apura que cerca de 1500 vagões de batata, ou seja 15 000 t, desapareceriam do mercado, o que não deixaria de ter relevante influência na política de preços desse tubérculo, acentuada gradualmente à medida que outras áreas se fossem libertando da batata e empreendendo uma fuga para a beterraba sacarina.

Subtraídas aquelas 15 000 t de batata à economia da região, o que é que esta receberia em troca, por império da nova cultura?

Respondem os técnicos (v. o artigo acima citado - «A Crise da Batata», do engenheiro agrónomo Sebastião Alves): 40 000 t de beterraba, de quê se obteriam 8000 t de sacarose, com o valor de 16 000 000$, o que dá a média de 16 000$ por hectare, contra os 10 500$ por hectare (15 000 x $70) que hoje está a render a cultura, da batata!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - São números eloquentes, que não receio ver contestados, pois se basearam em cálculos que, para prevenir exageros de optimismo, partiram de condições francamente desfavoráveis.