lhe são peculiares e a que já noa habituou no exercício dos numerosas funções que tem desempenhado.

Receba V. Ex.ª, Sr. Presidente, os muito sentidos votos do patrício apagado e do discípulo modesto.

Sr. Presidente: porque não surgiram divergências quanto à proposta em causa, a minha intervenção terá tão-somente a extensão indispensável para trazer a este alto areópago o sucinto depoimento de quem vive em contacto imediato com a pobre lavoura beira e tem a honra de representar aqui uma região que, pela sua pobreza, bem merece a designação de eminentemente, agrícola.

É cumulativamente farei a sucinta justificação do meu voto sobre o assunto em causa.

Vem o emparcelamento despertando um movimento de interesse que o seu conteúdo intrínseco não justifica nem a sua projecção no tempo e no espaço podem explicar; terá, por isso, que debitar-se esta ansiedade nacional às circunstâncias de ele tocar de perto o problema agrícola, que é o crucial neste ano de 1962, qu e todos desejamos que finde melhor do que começou.

Realmente, o emparcelamento só poderá interessar imediatamente ao número muito restrito de proprietários que tenham na limitada área em que ele incida várias glebas dispersas, e não aos demais proprietários; por outro lado, o ritmo necessariamente lento da sua realização no tempo e o âmbito necessariamente restrito da sua concretização no espaço convencem-me de que no próximo decénio ela não terá repurcursão sensível no conjunto nacional, porque não irá muito além de uma esperança ou de uma experiência.

Daqui será lícito concluir que de entre os múltiplos males de que enferma a nossa tão combalida e abandonada agricultura o emparcelamento só resolverá alguns mórbus crónicos e localizados, não podendo alcançar os problemas agudos, graves e imediatos que fazem perigar a agricultura nortenha.

Assim, e designadamente, não poderá ele obviar ao êxodo do trabalhador rural e ao desprezo manifesto e inegável que a m ocidade vota ao labor, da terra (são numerosas as freguesias da Beira em que não há trabalhadores rurais com idade inferior a 40 anos), o que constitui já hoje o mais agudo problema da agricultura beira e que, excitada por técnicos inconscientes, só poderá ser combatido desde que o trabalhador agrícola seja efectivamente equiparado aos mais operários portugueses, sobretudo quanto ao abono de família - a mais apetecida e a mais legítima das regalias.

Por igual escapa à benéfica acção do emparcelamento o drama candente da remuneração miserável por que são pagos os produtos agrícolas.

Com estes urgentíssimos problemas verifica-se uma circunstância bem elucidativa, que seria risível se não fosse dramática, qual é a da alteração sistemática e tendenciosa do verdadeiro conteúdo da questão, de tal forma que tem-se conseguido iludir entidades responsáveis e que deviam estar melhor esclarecidas.

Assim é que, olhando aos preços elevados e por vezes proibitivos por que algu ns produtos são postos a disposição do público, grita-se estentòriamente e glosa-se em vários tons o lugar comum da ineficácia da agricultura portuguesa em produzir barato.

Simplesmente, esquecem esses zelosos curadores do bem comum que a maior e melhor parte do tal custo é sugado pela perniciosa e patológica fauna dos intermediários insaciáveis e indevidamente estribados e amparados numa legislação anómala.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E a por com isto e em complemento disto as restrições, alcavalas, limitações e barreiras de toda a ordem, que isolam os principais centros consumidores do resto do País e nos fazem invejar com saudade as modestas e humanas portagens da Idade Média, aquela época a que alguns chamam «das trevas».

O Sr. Pinheiro da Silva: - Apoiado!

O Orador: -Não se confunda: o problema da carestia dos produtos agrícolas é puramente problema do intermediário. Quando no mais modesto restaurante se pagam entre 15$ e 25$ pelos 8 dl de uma garrafa de vinho, ou quando na mais modesta frutaria (que mais parecem joalharias) se pagam 5$ ou mais por um pêssego ou por uma maçã, supomos que já não haverá ingénuo que acredite que a terça parte sequer de tal preço redundou em proveito do felah que o produziu com o suor do seu rosto.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Não, em Portugal a carestia dos géneros agrícolas é mera. proliferação anómala do cancro do intermediário.

O Sr. André Navarro: - Apoiado!

O Orador: - Se houver coragem e força para o extirpar, o organismo agrícola recuperará a vitalidade necessária para maiores cometimentos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Senão ..., não se fale nele, porque mascara-lo ou deturpá-lo por forma a esbater em discreto segundo plano os parasitas da agricultura nacional é que não autorizaremos com o nosso silêncio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Alongámo-nos mais do que queríamos na simples enunciação dos dois problemas que reputamos mais instantes da nossa vida rural.

Muitos outros há que devem ser escalpelizados e diagnosticados na sua realidade crua; mas quer-nos parecer que não será no asfalto da cidade ou nos gabinetes de estudo que se poderá obter a verdade da vida agrícola.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem se debruçar sobre a panorâmica da nossa agricultura nos últimos anos notará um chocante contraste entre a actividade febril e desbordante das numerosíssimas comissões, juntas, grémios, direcções-gerais, repartições, conselhos e mais organismos que se propõem descobrir a pedra filosofal que, como varinha de condão, resolva o drama da lavoura o a permanência, e até agravamento, das características mórbidas e marasmáticas da efectiva actividade agrícola.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Apoiado!

O Orador: - Deste distanciamento, para não dizermos deste divórcio, só nos parece legítimo tirar uma conclusão: a de que os problemas não têm sido que aquacio-