O Orador: -As vozes discrepantes que porventura possam surgir, neste concerto uníssono de nacionalismo sadio, sem meias-tintas de colorido dúbio, não passam, Srs. Deputados, de tendenciosos especuladores de sensacionalismo derrotista, sem aceitação apreciável entre aquela ordeira e laboriosa gente de Moçambique. Há, é certo, justíssimas reivindicações a apresentar à Câmara, em sen nome, como as há em relação às províncias metropolitanas. Mas quando o estrangeiro, ávido de escândalo no nosso ultramar, nos ronda a porta constantemente, o brio e a dignidade nacionais exigem que solucionemos em família os desmandos melindrosos, sem alarde ruidoso, que serviria apenas a causa dos inimigos irredutíveis da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Eu sei, Srs. Deputados, que Moçambique precisa de ser prontamente atendida em algumas das suas aspirações mais prementes. Precisa de que as nossas levas migratórias, que demandam anualmente os territórios sul-americanos, vão preencher os seus imensos espaços vazios, especialmente ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... no fertilíssimo distrito do Niassa (para o qual couto reservar uma intervenção especial), que, com uma superfície de 120 000 km3, couta apenas a desoladora percentagem de 1 europeu por cada 207 km2; contudo, este distrito privilegiado possui uni clima de altitude dos melhores da Europa e um solo ubérrimo, capaz de produção abundante de todas as culturas europeias e africanas.

Eu sei que urge encarar de frente a necessidade inadiável da industrialização na província das principais matérias-primas de extracção local, até mesmo porque seria este um processo eficaz de contribuir para a fixação de europeus, empregados nestas novas unidades industriais.

Eu sei, Srs. Deputados, que se impõe uma selecção criteriosa do funcionalismo que vai para o ultramar ocupar posições de relevo na administração pública.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - As províncias ultramarinas não podem ser vazadouro franco de falhados na vida nem eldorado fagueiro para erros financeiros.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador - Eu sei que o muito que se tem feito naquela província, no campo agrícola e pecuário (como tão objectivamente demonstrou já à Câmara o meu colega Manuel João Correia), se deve quase exclusivamente ao esforço e a iniciativa particulares de uns tantos portugueses de lei, que, anonimamente, sem que as tubas da fama alardeiem os seus nomes, foram plantando, mato fora, padrões de soberania e enriquecendo a economia da província, à custa de sacrifícios e de contrariedades sem conta.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Eu sei, meus senhores, que é preciso que as grandes companhias colaborem, de forma mais pronta e eficaz, em toda esta obra ingente de soberania e de valorização cultural, social e económica em que o Governo da Nação está tão altamente empenhado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Eis aí, Srs. Deputados, um escasso punhado de necessidades de solução urgente, que maculam ainda a administração moçambicana. Mas quando olho, naquela província das margens do Indico, o extraordinário surto económico e cultural dos últimos unos, que u guerra sangrenta, imposta, traiçoeiramente, por toda a costa de estrangeiros de dentro e de fora, veio solicitamente interromper, lamento profundamente que as velhas Sibilas Cassandras da demagogia nacional e internacional continuem debruçadas sobre o muro das lamentações a carpir desmandos que a fatalidade do destino nos impôs.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -Em face deste perigo que vem de fora, quando ameaças densas pesam sobre os nossos territórios ultramarinos, a Pátria chama por nós, por todos os verdadeiros portugueses. A união foi sempre o segredo da força e da vitória. Discutam-se as pedras do futuro nas horas quietas do Mundo, quando ninguém procura a nossa desgraça. Agora, em momentos de crise, nas horas dramáticas que vivemos, em que porventura seremos chamados a um dos esforços maiores da nossa história, para sobrevivermos, não se compreende que haja ainda quem se dê à incoerência criminosa de calar, de dividir, de enfraquecer pura vencer.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Vamos cavando assim a nossa própria ruína, da qual só beneficiarão os coveiros da Pátria. E ela é um precioso talismã que realiza a maravilha sobre-humana de fundir o presente com o passado e com o futuro; de reduzir os egoísmos contrapostos à unidade orgânica, a essa unidade que se chama Nação e que não seria imortal se não tivesse raízes na história e não arrancasse sempre em esperança ao tempo futuro.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - De nada temos que nos penitenciar, Srs. Deputados, de quase cinco séculos de acção ultramarina, heroicamente vivida. Fomos nós, na verdade, quem primeiro fez abancar ao lauto banquete da civilização europeia povos das mais variadas raças e origens, que os nossos capitães e vice-reis souberam trazer para o lar amorável da pequena casa lusitana. E se outros povos mais fortes do que nós nos excederam em empreendimentos materiais, ninguém nos excedeu, nem tão-pouco nos igualou, em obra espiritual, a única que resiste, indelével, através do fluxo e do refluxo das idades.

Vozes: - Muito bem, muito bem!