O Orador: - Muito habilmente, com prudência e firme persistência, a arborização dos perímetros vai-se fazendo e a compreensão dos povos acaba por aparecer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tem-se procurado sempre evitar violência, mas nem por isso se deixa de realizar obra fecunda da mais alta importância para a nossa economia.

Outro exemplo, e este de maior acuidade, porque abrange número mais elevado de interessados, é o das vinhas. A volumosa legislação que se tem acumulado sobre o plantio da vinha e a obrigatoriedade do arranque dos indesejáveis produtores directos ainda não conseguiu dar solução definitiva ao problema. Não vale a pena fazer maiores referências ao caso.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Todos sabemos o que se tem passado e as influências que se movem no momento em que se decide agir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O caminho para o emparcelamento terá de ser, pois, segundo julgo, o da persuasão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não haverá nenhum proprietário que, cabalmente convencido da realidade dos factos, embora tenha fortes razões sentimentais que o apeguem ao seu torrão, se mantenha numa atitude de intransigência, em prejuízo da sua própria economia.

E tenho fortes razões para não crer que a velha rotina seria capaz de obcecar os espíritos a ponto de conseguir impedi-los de raciocinar com clareza e de evoluírem só porque julgam ser mais fácil trilhar o caminho aberto pelos antepassados do que promover alterações, por vezes profundas, dos métodos e sistemas tradicionalmente seguidos.

Na minha já longa vida profissional, durante a qual passei bastantes anos a prestar assistência técnica aos agricultores, devo dizer em abono da verdade que nunca encontrei espírito de rotina por teimosia.

O lavrador não é rotineiro por capricho; o que ele tem, como qualquer de nós, é receio de adoptar processos que lhe não tragam quaisquer benefícios, porque, afinal, todas as modificações custam dinheiro, e é ele que tem de arranjá-lo, a fim de satisfazer as despesas.

O Sr. Amaral Neto: - Creio que esse problema do tão discutido espírito de rotina dos lavradores fica bem expresso na afirmação feita pelo Sr. Norris Dodd, um dos primeiros directores-gerais da F. A. O., organização para a alimentação e agricultura das Nações Unidas, no fim de uma viagem de muitos meses, não sei mesmo se de anos, por todas as áreas onde a F. A. O. estende a sua orientação: «não encontrei em parte alguma um agricultor, fosso branco ou de cor, cristão ou gentio, que receasse experimentar métodos de cultura que julgasse capazes de lhe acrescentarem, um alqueire à tulha do grão».

O Orador: - Com certeza.

O Sr. Martins da Cruz: - A respeito do que V. Exa. acabou de afirmar com referência no espírito aberto de todos os agricultores, desejo informar V. Exa. de que tive ontem o prazer de assistir a uma reunião de lavradores da Beira Baixa, na qual me foi dado ouvir que datam de 1868 as primeiras providências no sentido de ser levado a efeito o repovoamento florestal.

Há, pois, quase um século que se trabalha, portanto, no repovoamento florestal, e, no entanto, estão ainda por repovoar na Beira Baixa mais de 50 por cento dos hectares que deveriam ser repovoados.

O Sr. Soares da Fonseca: - O que se pergunta é se foi por culpa da rotina, da inércia, ou de outros motivos, que isso aconteceu. Isso é que V. Exa. não disse.

O Sr. Martins da Cruz: - Eu esclareço.

O Sr. Soares da Fonseca: - Mas fora do elenco.

O Sr. Martins da Cruz: - Não, dentro do elenco. É que o distinto orador expôs os méritos da persuasão na acção dos serviços florestais. Ora parece poder concluir-se que a persuasão ao longo de um século não foi suficiente para convencer os proprietários das vantagens do repovoamento florestal.

O Sr. Soares da Fonseca: - O que é preciso saber é se isso é assim por falta de dinheiro, ou de técnica ou por outras razões. É isso que V. Exa. Não diz.

O Sr. Martins da Cruz: - Não é por falta de meios, conforme ontem ouvi referir na reunião, com o Sr. Secretário de Estado da Agricultura, da lavoura da Beira Baixa.

O Sr. Quirino Mealha: - V. Exa. dá-me licença?

O Sr. Amaral Neto: - V. Exa. dá-me licença?

O Sr. Presidente: - Todos ao mesmo tempo, não.

O Sr. Quirino Mealha: - A propósito de persuasão posso citar a V. Exa. um caso que não se passou na Beira Baixa, mas no Alentejo. Houve uma reunião de lavradores, tudo se passou dentro da melhor compreensão; simplesmente, o Estado não tinha as árvores suficientes para fornecer. O serviço não estava de maneira a corresponder.

O Sr. Amaral Neto: - Tenho ouvido V. Exa. com toda a atenção, com a mesma atenção com que li hoje nos jornais o relato da reunião de ontem com o Sr. Dr. Mota Campos, de quem muito aprecio a inteligência, a decisão e a frescura de pontos de vista com que se dedica aos problemas agrícolas, só esperando que o nosso novo Secretário de Estado, com o seu entusiasmo, encontre auxílio em bons informadores para a falta de conhecimentos que por força tem de certos problemas.

Posso, pois, recordar o que, certamente, o Sr. Deputado Martins da Cruz também ouviu, se foi exacto o relato do jornal: em Castelo Branco, ontem, foi expressamente mencionado entre os processos de arborização voluntária o sistema previsto na Lei n.º 2069, de arrendamento das terras pelo Estado, por prazo de vinte anos, para florestar de conta dos proprietários; simplesmente, acrescentou-se que nada pudera ser feito por falta de verbas.

E o facto é que, de qualquer modo, a arborização a longo prazo requer um certo sacrifício da parte do proprietário, que durante um período de anos tem de ter os terrenos presos com a plantação de árvores, que tem