Dos elementos apresentados conclui-se que pesaram fortemente no nível das importações e em última análise, no saldo negativo da balança de pagamentos, as compras ao estrangeiro de equipamento - máquinas e aparelhos industriais e embarcações - e ainda de matérias-primas e produtos semimanufacturados, importações essas que são indispensáveis para assegurar o desenvolvimento económico do País e, em grande parte, para proporcionar o actual ritmo de actividade industrial. Além destes tipos de importações, revelaram-se também excepcionalmente elevadas as importações de produtos alimentares, necessárias para suprir os resultados desfavoráveis da produção interna e, consequentemente, garantir o abastecimento público. No que se refere às importações relacionadas com a necessidade de intensificação do ritmo de crescimento da economia nacional, pode pôr-se a dúvida sobre se se manifesta uma desproporção entre esse volume de importações e o incremento das receitas provenientes do exterior determinadas pelo acréscimo de capacidade produtiva, o que revela reprodutividade externa mais lenta do que seria desejável de certos tipos de investimentos, em especial dos que se traduzem por compras ao estrangeiro.

Consequentemente, em face das implicações deste facto nas tensões ultimamente observadas na balança de pagamentos, parece conveniente, pelo menos na actual conjuntura, vir-se a dar prioridade a investimentos de reprodutividade externa mais imediata e, deste modo, susceptíveis de não sobrecarregar tão significativamente, ou por períodos excessivamente longos, as disponibilidades cambiais do País.

No entanto, a economia de divisas que assim se possa conseguir poderá de algum modo ficar ainda comprometida se os rendimentos gerados pelo processo de desenvolvimento continuarem a dirigir-se em grande escala para a importação, sobretudo de certos tipos de bens de consumo duradouro, facto que, a verificar-se, justificaria só por si a adopção de medidas de ordem fiscal e de outra natureza tendentes a contrariar a excessiva filtração de rendimentos para o estrangeiro, com manifesto prejuízo do nosso crescimento económico. Em relação às importações de produtos alimentares, na origem do sensível aumento observado estiveram os resultados desfavoráveis da produção agrícola no decorrer de 1961 e que determinaram avultadas aquisições, sobretudo de trigo e outros cereais panificáveis e forrageiros, e ainda a reduzida pesca de bacalhau do ano transacto e a sistemática insuficiência da produção de carne do País, aliada esta última à tendência de desenvolvimento do consumo, o que pode ter-se por índice seguro da melhoria do nível de vida da população.

Todavia, crê-se, por um lado, que o resultado mais favorável da pesca realizada pela frota bacalhoeira no decorrer deste ano reconduzirá as importações de bacalhau a nível mais modesto e. por outro lado, quanto às importações de cereais - dos quais o trigo representa, no período considerado, cerca de 45 por cento do total de produtos alimentares importados - , tem-se como assegurada, nesta data, a concretização de aquisições em condições mais favoráveis de pagamento externo, ao abrigo da sLei dos Excedentes Agrícolas" norte-ameri-cana. Em complemento da apreciação anteriormente apresentada sobre o comércio externo metropolitano, interessa referir que a balança comercial da metrópole com o ultramar apresentou, nos dois primeiros quadri-mestres do ano corrente, um saldo negativo superior a 112 000 coutos, o que representa uma contracção de cerca de 242 000 contos em relação ao período homólogo de 1960.

E porque este agravamento do saldo das transacções comerciais com o ultramar foi determinado não só pelo crescimento de quase 3 por cento do valor da importação como, sobretudo, pela contracção de 13 por cento registada pelos valores exportados, que atingiram apenas l 286 000 contos, o respectivo coeficiente de cobertura decresceu de 110 para 92 pontos.

Cumpre ainda referir que os saldos das balanças comerciais com cada uma .das três províncias ultramarinas que mais intensas relações comerciais mantêm com a metrópole - Angola, Moçambique e Guiné - sofreram, no período em causa, sensível deterioração em relação aos valores alcançados no mesmo período do ano anterior.

comercial do ultramar A avaliar pelos elementos actualmente disponíveis, a balança comercial do ultramar com o estrangeiro apresentou, no 1.º semestre do corrente ano, um saldo positivo, revelando, no entanto, ligeiro decréscimo ( - 82 000 contos) em relação a igual' período do ano anterior.

E afigura-se que se poderá explicar a manutenção deste saldo credor principalmente pela evolução da balança comercial da província de Angola, cujo resultado nas relações com o estrangeiro se eleva, no período considerado, a cerca de 720 000 contos, ou seja, superior em 460 000 coutos ao registado no 1.º semestre de 1960. Este facto deve-se, segundo parece, fundamentalmente ix concorrência de duas circunstâncias: por um lado, a quebra verificada na importação total da província, como reflexo da situação económica e financeira que a mesma já vinha defrontando, agravada agora pelos acontecimentos verificados desde Março; por outro, as excepcionais exportações realizadas durante o semestre, e resultantes de stocks acumulados no ano anterior, mas que só em 1961 se escoaram.

Todavia, não parece legítimo admitir que estes dois factores de natureza conjuntural se mantenham. E que,