O Orador: - Também não foi a ânsia de dar liberdade ao que era livre ou de acabar com o colonialismo do que não era colónia.

O que o levou a investir violentamente contra a nossa soberania foi o ódio à civilização ocidental, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... o ódio à raça branca, ...

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... essa roça que lhe havia, inutilmente, ensinado em Londres o que era o progresso material dos povos, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... e em Goa o que era o progresso moral da humanidade.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se Portugal foi, na realidade, a única vitima a sofrer na carne o primeiro e furioso impacte desse ódio turvo, o sinistro propósito que informou essa inglória façanha não constituiu menor agravo à restante consciência do mundo civilizado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, todavia, como reagiram os países desse mundo civilizados?

Levantando-se, como um só homem, contra a força bruta que espezinhava a razão e o direito?

Não!

Quase todos estes países que, em 1914, estavam do lado do Arcanjo, se encontram hoje ao lado de Belzebu.

Nenhum se atreve a erguer a espada em defesa da honra e da verdadeira liberdade, e não se atreve porque o valor destas expressões, outrora tão gratas à dignidade dos homens e das pátrias, está hoje quase completamente perdido ou invertido.

Não admira, pois, que antigos e seculares tratados de aliança, ainda em vigor, ou velhas amizades consanguíneas, ainda presentes, de nada nos valessem nesta amarga conjuntura.

Também não nos deve causar espanto que judiciosas sentenças, recentemente proferidas, ou altos favores, ainda hoje decorrentes, para pouco ou nada servissem nesta emergência.

A memória, o respeito e a gratidão, dos povos foi sempre fraca e o arreigado egoísmo de alguns, somado à exclusiva preocupação argentaria de outros, nada mais pode trazer ao mundo de hoje do que lutas e negócios onde, ao fim e ao cabo, vence a riqueza, mas soçobram como inúteis as mais puras e gratas aspirações dos homens.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O que, na verdade, espanta o revolta, tanto a consciência como a razão, é a farsa gigante que a comunidade internacional paga e louva, todos os dias, nesse pandemónio de interesses inconfessáveis e de defecções miseráveis que se chama a O. N. U. Aí se joga, impudentemente, à paz, a toda a hora, com os dados da raiva e da mentira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aí se assiste impotentemente, a cada momento, à derrota da razão e da justiça.

Com semelhantes «virtudes», cada vez mais potenciadas pela arribada de novos povos surgidos das malhas artificiais das independências precoces, que admira que a O. N. U., quase totalmente imbuída ou dominada por mentalidade tribal, aceite, como boa, a lei da selva, dando a mão aos terroristas, e até recrute, nos canos de esgoto dos vários países «democráticos», a tantos dólares por cabeça, os mercenários que, em seu nome, espalham a guerra pelo Mundo?

Todos nós conhecíamos de sobejo a queda que a O. N. U. tinha para pôr o absurdo e a incoerência ao serviço do mais vesgo facciosismo.

Todos nós a tínhamos visto perdida de amores pela autodeterminado dos povos em menoridade de inteligência e totalmente indiferente à libertação de outros com mais sólida contextura e evolução históricas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Todos nós a tínhamos ouvido vociferar, em altos berros, contra a actuação das forças da ordem em Angola e silenciar, capciosamente, n brutal repressão da revolta da Hungria.

Tudo isto nos havia causado apreensão e desgosto, mas tudo isto e muito mais se havia tolerado em nome da serenidade e da prudência ...

O que nunca se julgou possível, nem admissível, é que desta, lamentável atitude se passasse, ousada e descaradamente, para a directa instigação ,ao ódio e ao desprezo pela soberania de certos povos e que do fundo de muita cobardia recalcada pudesse sair o ímpeto da própria violência à mão armada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nenhum país ao assinar a Carta das Nações Unidas pensou que esta havia de servir de capacho aos sapatos de Kruschtchev, mas Portugal, que não encontra na sua consciência outro crime que não seja o de ter sido sempre ordeiro e fiel defensor do Ocidente, tem já razões bastantes para saber que o comunismo é ali que esfrega as suas solas.

Quem não tem lido as claras e brilhantes afirmações dos nossos representantes, sempre improfícuas perante as negações gritadas e decoradas dos afro-asiáticos e os votos coercivos dos que parece já não crerem ou não poderem reconhecer nos estatutos a verdade que nos assiste?

Também ninguém, ao ajudar à construção do «Templo da Paz», supôs que dali pudesse sair a guerra.

E, todavia, a guerra saiu dali, inesperadamente, em direcção ao Congo, não para impedir o massacre dos aviadores italianos nem a chacina dos missionários de Kongolo, mas sim para impedir a justa liberdade de Katanga.

Vozes: - Muito bem, muito bem!