Ele será o estudo cuidadoso da indiscriminada arborização das bermas das estradas, de sorte a evitar os ponderáveis perigos do fanatismo silvícola; ele será a proibição da circulação - pelo menos da livre circulação - dos descompassados mastodontes que atravancam as nossas esguias e torcicoladas estradas, e que há meses começaram a proliferar em apêndices, constituindo patente e quase inevitável perigo de vida para o viajante mais cauto, se por azar lhe surge, como visão dantesca, numa das inúmeras curvas estreitas e fechadas em que abundam as nossas estradas; ...

Vozes:-Muito bem!

O Orador: - ... ela será a actualização e devido apetrechamento da fiscalização, por forma a torná-la menos burocrática e documental e mais incisiva na repressão daqueles abusos mais comuns e fatais.

O Sr. Augusto Simões: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Augusto Simões: - Era para perguntar a V. Exa. se esses desastres não têm sido motivados também pelo mau perfil das nossas estradas e se não seria ocasião de melhorar esse perfil. É que as nossas estradas não estão em condições de aguentar o ritmo acelerado do trânsito dos nossos dias. É preciso atentar bem nesta circunstância.

O Orador: - Não sei se a maioria dos desastres tem lugar nas estradas más se nas estradas boas.

Dizia eu: ele será a actualização e devido apetrechamento da fiscalização por forma a torná-la menos burocrática e documental e mais incisiva na repressão daqueles abusos mais comuns e fatais -excessos de velocidade, com particular destaque dos camiões s motociclos, trânsito fora de mão e encandeamento das luzes-- e apetrechando-a com os meios técnicos já existentes lá fora, e que são indispensáveis para obviar à dupla deficiência que geralmente resulta da falta de provas quanto às transgressões da estrada: a impunidade do delinquente ou as prepotências de um excessivo zelo fiscalizador; ele será, finalmente, a revisão das infelizes originalidade a jurídicas que, sem qualquer êxito e até com graves inconvenientes, inovaram o Código da Estrada que nos vem regendo neste período dramático a que queremos pôr cobro:

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -... verbi gratia, a acção cível enxertada no processo crime, com inconvenientes para ambas ns causas; e os atestados de velhice, a que vexatória-mente, sem precedentes que os aconselhassem e sem êxito que os justifiquem, se sujeitam os titulares das cartas de condução, a partir daquela idade- que o novel legislador resolveu arbitrariamente considerar provecta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Proponho-me desdobrar a escalpelização deste cancro (que calculo roubar à Nação tantas vidas como a mais aguda das doenças), hierarquizando as matérias enunciadas, desde a simples anotação antes da ordem do dia (como esta) até à proposta de lei a apresentar oportunamente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Simplesmente, para não saturar a douta Assembleia ...

O Sr. Augusto Simões: - Não apoiado!

vertiginoso ritmo da velocidade interespacial; só as direcções de viação se quedaram estáticas, na sua marcha au ralenti, de tartaruga, como se acaso lhes não dissessem respeito estas coisas da viação ... acelerada.

Assim é que, em 1928-1929, entendeu-se (e muito bem) criar em Coimbra uma Direcção de Viação para satisfazer às necessidades ocorrentes, que nesse ano se cifraram em 801 exames e 129 inspecções, no total de 930 operações; mas até agora (e muito mal) não se sentiu a necessidade de criar em Viseu uma Direcção de Viação, apesar de os correspondentes serviços na antiga província da Beira Alta excederem já anualmente a cifra dos 2000, sendo mais de- 700 exames e miais de 1200 inspecções.

O Sr. Augusto Simões: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faz favor!

O Sr. Augusto Simões: - É apenas para esclarecer que, em matéria de transportes terrestres, andamos ainda em estudos. Está nomeada a comissão ...

O Orador: -V. Exa. faz parte da comissão?

O Sr. Augusto Simões: - Não senhor

O Orador: - Pois é uma grande pena!

Daqui resulta, em linha recta e além de muito mais, que qualquer morador daqueles concelhos que beiram ou a fronteira ou aquela feliz região tão liricamente cantada ontem pelo nosso ilustre colega Dr. Nunes Fernandes, se tiver de ir a uma tão banal e comum inspecção a Coimbra, terá de «gastar» cerca de 400 km de viagem, e por muito feliz se dará se fizer a peregrinação num dia.

Não é, porém, só nesta faceta da quantidade (que não é despicienda) que a estagnação dos serviços de viação nos choca.

É principalmente no aspecto qualitativo.

As direcções de viação surgiram ao tempo em que o trânsito rodoviário era inofensivo e estava longe daquele efeito letal que hoje nos preocupa em primeira linha.