interrogatórios, depoimentos, queixas, intervenções de advogados, extractos estenográficos e peças autênticas do processo das barricadas, do processo da Argélia francesa, como lhe chamou o bastonário Charpentier.

A guerra clássica difere da guerra revolucionária. Na primeira, o fim imediato é a conquista da terra. Na segunda, o objectivo número um é a população. A guerra clássica é feita com soldados e armas convencionais. A guerra revolucionária mobiliza e lança na batalha propagandistas de ideias quase sempre condensadas em slogans elementares.

A guerra clássica deflagra por um pretexto que se chama Dantzig ou assassínio de Serajevo. A guerra revolucionária inflama-se no que a linguagem marxista classifica, de uma contradição interna, aliás sempre a mesma contradição, ainda que sob aspectos diversos.

A guerra revolucionária avoluma os inevitáveis desentendimentos - embora naturais e tendendo para uma compreensão mútua - entre comunidades étnicas de desigual importância ou de desigual evolução ou de cultura diferente, que vivem no mesmo território, e pega em duas palavras - imperialismo e colonialismo - e torna-as explosivas.

Imperialismo da parte da comunidade mais armada ou melhor organizada social e politicamente.

Colonialismo da parte da comunidade mais evolucionada tecnicamente.

Chamar fascista a um patriota que não abdica da genuinidade da sua fé também dá resultado.

Mata que é imperialista!

Mata que é colonialista!

Mata que é fascista!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Com estes três pregões desfraldados, a guerra revolucionária toma vento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Então:

As queixas, as desilusões, os azedumes, os rancores, ainda que os mais pequenos e irrisórios, acumulados pela vida no coração dos homens, mas de todos os homens e em todas as partes do Mundo, suo inventariados pelos propangandistas especializados e averbados ao passivo do país que se pretende subjugar.

E assim principia, no expressivo dizer de Allain de Serigny, o lento nascimento do ódio.

Depois há que comprometer os adeptos, convencendo-os, por exemplo, a deitar abaixo um poste telegráfico ou a cortar uma linha férrea. Isso bastará para que todos os que tomaram parte na preparação ou na execução de tais netos se julguem individualmente perseguidos pela polícia. Daí o mergulharem cada vez mais na agitação em que se meteram, e o aproximarem-se uns dos outros, com o duplo fim de conseguirem uma rápida vitória, que lhes traga a própria segurança pessoal, e de se prevenirem contra eventuais deserções, tal o receio do castigo que os espera.

Com estes elementos refugiados numa espécie de coligação de resistência- ofensiva' e defensiva, organiza-se o terror, tendo em vista o esmagamento dos quadros tradicionais da sociedade, de modo que as multidões fiquem sem protecção diante da ofensiva psicológica e acatem cegamente as ordens contraditórias por vezes exigidas pela evolução da guerra revolucionária, nem que tenham de ser praticados os mais atrozes crimes para se criar o clima necessário a essa obediência total e irreversível.

E aí está a segunda arma - o medo.

Com o ódio e o medo, forjados e manejados sem escrúpulos nem desvios, os horizontes dilatam-se e a guerra revolucionária avança, toma foros de acontecimento sério em busca de zona propícia à instalação de um governo com a marca de provisório, que falará e agirá acirradamente em nome do povo, de que se diz representante, designadamente durante a ofensiva diplomática, desde logo encetada e desenvolvida com feroz pertinácia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, multo bem!

O Orador: - É esta guerra, esta guerra revolucionária, que nos foi e continua a ser movida em Angola e que se prepara, porventura, para nos molestar em outros pontos do nosso território ultramarino.

Vozes: - Muito bem, muito bem! Orador: -Mas a guerra revolucionária de que já estamos a ser vítimas não se dirige só contra o ultramar português. Ela está procurando, há muito, ferir-nos de morte aqui na metrópole.

Vozes: - Muito bem!