O Orador: - Não tenhamos ilusões. As queixas e os azedumes, todas as queixas, ainda as mais injustificáveis ou banais, todos os azedumes, ainda os mais ridículos ou estranhos, já foram inventariados e de há muito que estão a ser explorados, com o fim de lançar a população nas garras do ódio e do medo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Um grande e incessante trabalho psicológico de dissolução da frente interna está sendo tentado pelo inimigo da nossa razão de ser e da nossa paz activa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os sinais são nítidos e as provas rompem de todos os lados. Na repartição, na escola, na oficina, e até no campo, sente-se o roer do inimigo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em algumas repartições, quase se pede licença para dizer uma palavra em abono do Regime.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em algumas escolas torna-se difícil pensar em voz alta contra as esquerdas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em algumas oficinas, a atitude que envolve maior risco está sendo a de tentar apagar o fogo revolucionário que nelas se manifesta.

Vozes:' - Muito bem!

O Orador: - E nos campos, até nos doces campos deste Portugal, onde rumorejam as enxadas na sadia faina de amanhar a terra, começam a ser contrabatidos, aqui e além, os que procuram deter a onda subversiva, dando-lhe batalha a valer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que é isto?

Para onde vamos?

Por acaso não teremos o indeclinável dever de aguentar de pé um sistema de governo que se identifica com os superiores interesses nacionais?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por acaso não nos cumpre empregar toda a energia e clarividência na defesa do ideário que formulamos e praticamos com os olhos postos nos destinos da Pátria?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E os homens, os homens que servem e têm servido o Regime no puro entendimento e na fiel execução da sua doutrina, não merecem apoio franco e decidido?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Exige-se unidade. Mas unidade é, primeiro do que tudo, promover e assegurar a existência das condições essenciais à realização da unidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Fala-se, e bem, no urgente, indiscutível e vital dever de rechaçar o inimigo que nos ataca e invade as fronteiras. Mas não é possível rechaçar o inimigo externo sem combater e derrotar o inimigo interno.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ponho a questão nestes termos:

Se alguém tripudia por aí sobre as legítimas e justificadamente imperiosas exigências económicas e sociais do nosso tempo, averigúe-se e proceda-se.

Se alguém se aproveita da função pública para destruir o Estado que a mantém, inquira-se e castigue-se.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se alguém, nas escolas, acha que ensinar e aprender é ensinar e aprender contra a Nação, indague-se de quem é a culpa e processe-se em conformidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se alguém anda à solta nas oficinas, minando os alicerces da ordem social, investigue-se e julguem-se os responsáveis.

Se alguém anda a lançar nos campos a semente da revolta, através da lavra fácil das promessas falazes ou do ódio e do medo, remeta-se o energúmeno ao seu destino legal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E se, porventura, em lugares de comando, se encontram pessoas que se revelaram ineptas, nada de hesitações.

O valor sem valor, além de falso, é nocivo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Acabe-se com a seita dos pseudocompetentes, alguns deles gente que não se sabe donde vem nem para onde vai, surgida, à última hora, com o ar pimpão dos triunfadores das circunstâncias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Guarneçam-se os postos. Não basta o número. Importa a qualidade. E faça-se executar a palavra de ordem - resistir para sobreviver.

Vozes: - Muito bera!

O Orador: - Para não ir, na escala hierárquica do Governo, até ao grau mais elevado, direi apenas que temos um Ministro do Interior inteligente, firme e resoluto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estarão os quadros dos serviços que lhe devem prestar colaboração também à altura do momento ?

Se não estão, reformem-se os quadros. E, atendendo à complexidade, ao carácter absorvente e à delicadeza das funções políticas a cargo do Ministério do Interior, se for necessário criar um organismo para coordenar e comandar, não só em estados de emergência, mas continuadamente, as forças e os serviços destinados a velar pela ordem e segurança internas, crie-se esse organismo.