Não estamos só em guerra na índia e em Angola. Estamos em guerra. Vivemos, por isso; o clima de perigo excepcional que nos impuseram. Climas excepcionais requerem medidas excepcionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por índole, por formação, sou absolutamente contra o arbítrio, contra a injustiça, contra o ódio, tanto como aquele admirável António de Rivera, que, durante o cerco ao Alcazar de Toledo, dizia aos seus companheiros de armas: «Atirai, mas atirai sem ódio». Não pretendo que se ofenda quem não deve ser ofendido, que se persiga quem não deve ser perseguido. Que esta declaração fique no meio das considerações que estou produzindo. Mas aponto, como necessidade a satisfazer quanto antes, a repressão, o castigo, nos casos em que essa repressão e esse castigo se mostrem justos e oportunos.

O Sr. António Santos da Cunha: - Desejo felicitar V. Exa. pela coragem de denunciar nesta Câmara o estado de espírito patente em certos sectores do País.

É preciso que as palavras de V. Exa. não fiquem só aqui na Assembleia. É preciso que o Governo assuma cabalmente em todos os domínios as responsabilidades da hora que passa.

É preciso que os organismos políticos sejam prestigiados por forma a poderem actuar eficazmente.

Será isto difícil? Será, se continuarmos a não responder em todas as frentes à guerra revolucionária que foi desencadeada contra Portugal. Ninguém ganha a guerra mantendo-se apenas na defesa.

O Orador: - Agradeço o apoio sincero e vivo por V. Exa. dispensado às considerações que estou produzindo, mas cumpre-me declarar que esta minha intervenção representa apenas a obediência aos imperativos de um. irrecusável dever.

Temos que dar a cara ao inimigo. Temos que lutar. Mas alguns optam pela prudência desrazoável e pelo não vale a pena inconcebível. Se não quisermos fabricar a nossa própria derrota, lutemos também contra estes prudentes e contra estes derrotistas.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Politicamente não conheço, nem conheci, outra trincheira fora desta em que estou e tenho-me envolvido, por vezes, duramente, em pugnas que me perturbaram o sossego de viver. No entanto, enquanto tiver forças, estou disposto a continuar a usá-las como dantes. Mas a própria experiência da vida política ensinou-me que onde não houver firmeza, resolução e possibilidades de exercício de comando a própria força se diminui e some, começando pelos que lavam as mãos ou desertam pura e simplesmente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Alguns até dirão que nunca foram políticos, irias tão-sòmente técnicos, ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... embora colaboradores imprescindíveis e transitórios da verdadeira política ou dos verdadeiros políticos. Eu também não quero sentir punhais nas costas. E se não fujo, se não deserto, se outros também não fogem ou não desertam, há sempre quem prefira furtar-se aos golpes da traição.

Atenda-se a isto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O grande e tremendo direito das realidades é o de exigirem a natural atenção que se lhes deve.

A guerra revolucionária não é um mito. Pelo contrário, é uma trágica realidade que nem sequer começou agora. Pode mesmo afirmar-se que vai já em perigosa e adiantada fase de desenvolvimento das suas tácticas dê progressão.

Tratemos, pois, do que existe. Tratemos, sim, mas sem demoras suicidas.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi manto cumprimentado.

O Sr. Carlos Alves: - Sr. Presidente: como habitante das terras martirizadas do Norte de Angola, cumpre-me dizer algo sobre o «caso de Angola» discutido na assembleia geral da O. N. U.

O n.º 7 da moção afro-asiática, anulado na votação de hoje, «solicita que a comissão especial de dezassete membros, constituída nos termos da moção n.º 1654 da Assembleia Geral, examine com toda a urgência o problema de Angola, de modo que o povo angolano possa ascender em breve à independência».

Se bem interpreto o sentido desta solicitação, trata-se de uma independência especial, imposta de fora para dentro, para um povo também especial/Mas quem viveu o drama da guerra terrorista sabe perfeitamente o que se esconde por detrás dessa independência urgente e qual o teor da expressão «povo angolano», e é isto que importa esclarecer.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - O terrorismo no Norte de Angola é um facto com que temos de coutar, por tempo mais ou menos longo, até encontrarmos a fórmula de o isolar do centro do seu comando, instalado no Congo ex-belga. Foi dali que partiram e continuam partindo os agentes da subversão, portadores da doutrina de incompatibilidade das raças e das drogas deletérias ministradas por feiticeiros de antigas seitas bárbaras, exumados do passado e prestigiados de novo, por forças poderosas, nas suas manobras contra a civilização cristã.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - A propaganda do novo credo, instilada por esses agentes, gota a gota, ao longo de anos, deu como resultado o levantamento da gente preta contra a gente branca ou equiparada, numa guerra odiosa até hoje nunca experimentada. Vivi o drama dessa guerra, desde os primeiros momentos da sua eclosão. Dei o contributo de sangue, na carne rechaçada da minha família, experimentei o sabor amargo da derrocada sentimental, sofri os danos materiais levados a cabo pelas hordas alucinadas, aos gritos de «U. P. A.» e «O. N. U.», completados com o estribilho «a terra é nossa».

Vozes: -Muito bem, muito bem!