As balas assassinas de um dos grupos, que, de emboscada, se misturaram com a multidão, vararam os corpos indefesos de um grande rei e de um inocente príncipe, que, por instantes, rei foi também, e também herói quando defendeu, com o seu, o corpo de seu Pai.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A história está feita, até porque, embora tardiamente, toda a parte sã de Portugal veio a fazer justiça completa à memória de D. Carlos I e a reconhecer nomeadamente a sua feição de português de lei e os serviços inestimáveis que prestou à Pátria, nomeadamente no campo das nossas relações internacionais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, na angustiosa hora presente, mais do que nunca merece invocação especial a sua acção nos graves momentos em que foi mister defender a integridade do nosso ultramar e o estímulo que soube dar nos bravos portugueses que gloriosamente se bateram em África nos fins do século passado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: assim, nesta data mais do que em todas se justifica e impõe a homenagem que presto à memória de el-rei D. Carlos e do príncipe real D. Luís Filipe, e elevo o meu pensamento até junto de Sua Alteza Real o Sr. D. Duarte Nuno, duque de Bragança.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei sobre as providências destinadas a assegurar o funcionamento dos órgãos de governo do Estado Português da índia.

Tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Rodrigues.

O Sr. Paulo Rodrigues: - Sr. Presidente: tenho pena de que a repetição da praxe parlamentar torne difícil dizer-lhe quanto me congratulo por ver V. Exa. a presidir aos destinos da Assembleia.

Mas sei que não preciso de encontrar as palavras para V. Exa. estar seguro da sinceridade e da firmeza dos sentimentos.

Não tive a honra de ser seu discípulo na Universidade, mas, por tempo superior aos cinco anos do curso, pude sê-lo já, nesta Casa, onde V. Exa. mantém viva a cátedra mais nobre da vida política pelo exemplo intemerato e constante de fidelidade aos princípios e ao Chefe.

Um dos nossos mais ilustres colegas disse algures, num brinde feliz, que, tendo a Assembleia de ser nesta hora de luta como que a torre de uma cidadela, V. Exa. era, nessa fortaleza, a pedra angular. Como não encontrei imagem mais verdadeira, peço licença ao Dr. Soares da Fonseca para subscrever esta.

A Câmara tem, justamente, associado às homenagens prestadas a V. Exa. o nome do Sr. Conselheiro Albino dos Reis, que, com exemplar dignidade, ocupou durante longo período a Presidência.

Gostosamente apresento também a S. Exa. os cumprimentos do mais profundo respeito.

Um pedaço de Portugal foi invadido e encontra-se ocupado, pela força, por uma potência estrangeira.

A Câmara tomou oportuno conhecimento do facto e sobre ele solenemente se pronunciou. E, ao lamentá-lo, juntou à sua indignada repulsa pelo acto de guerra de que fomos vítimas o sentimento da sua desilusão ante o procedimento da organização mundial encarregada de velar pela paz e segurança entre as nações.

Na verdade, abalada a eficiência e reduzida, ao que parece, a própria capacidade de raciocínio da organização dos Estados soberanos, foi possível ao delegado da União Indiana admitir que de um simples acto de violência se tratava. Mas nem assim souberam as nações civilizadas fazer valer a sua reacção contra o crime.

Goa, pedaço de Portugal no Oriente, foi violentamente anexada por uma potência inimiga: os portugueses de Goa que, sem distinção de raça, exerciam o governo do Estado da índia são nesta hora cativos ou estrangeiros na sua terra e esta domínio da polícia indiana.

Goa é agora uma colónia da União Indiana. E a ingenuidade dos países ocidentais nem assim reconhece que a própria bandeira do anticolonialismo, perante a qual tanto se curvam, pode o racismo afro-asiático hasteá-la ou baixá-la ao simples sabor dos ventos soviéticos.

Muitos países estrangeiros e o Brasil - que quando é igual a si mesmo não é estrangeiro para Portugal - nos manifestaram a sua solidariedade e condenaram a agressão injusta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas no coração do povo português e na expressão espontânea e vibrante do seu sentir três atitudes se gravaram para não mais se esquecerem.

Primeiro, a nobreza heróica da Espanha, sempre grande e sempre fiel, e maior e mais fiel, se possível, na hora da provação, como é timbre dos verdadeiros amigos.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Depois, a demissão dos Estados Unidos da América - havidos por leader deste pobre Ocidente, hipotecado há muito no formalismo hipócrita das Nações Unidas -, que se limitaram a deplorar a agressão pela voz impotente dos corifeus de uma política a todos os títulos indigna da grande nação americana, que, assim, se arrisca a ver a sua diplomacia transformada num torpe negócio: comprar os inimigos, ainda que, para isso, seja preciso vender os amigos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!